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"Bento XVI é tímido, muito generoso e sincero. No Brasil, cheio de gestos de carinho que ninguém esperava."

Frei Hans Stapel, fundador da Fazenda Esperança.

"Um homem de uma humildade muito grande, muito próximo de Deus, que desarmou a todos com o seu sorriso."

Antonio Eleutério Neto, ex-dependente químico que teve a oportunidade de falar com o papa.

"Estou saindo leve e alegre. Afinal de contas, não é todos os dias que o rabino recebe uma bênção do papa. Com a maior humildade, pedi uma bênção e fui abençoado. Pedi também a permissão do papa para abençoá-lo. Autorização esta que me foi dada."

Henry Sobel, rabino da Congregação Israelita Paulista, depois do encontro com o papa em 10 de maio de 2007.

"Sentimos que algo nos revela que a vida é eterna e que é necessário empenhar-se para que isto aconteça. Em outras palavras, ela está em nossas mãos e depende, de algum modo, da nossa decisão."

Bento XVI, no Estádio do Pacaembu, em 10 de maio de 2007.

"Tende, sobretudo, um grande respeito pela instituição do sacramento do matrimônio. Ao mesmo tempo, Deus vos chama a respeitar-vos também no namoro e no noivado, pois a vida conjugal que, por disposição divina, está destinada aos casados é somente fonte de felicidade e de paz na medida em que souberdes fazer da castidade, dentro e fora do matrimônio, um baluarte das vossas esperanças futuras."

Bento XVI, no mesmo discurso.

"A Igreja não faz proselitismo. Ela cresce muito mais por ‘atração’."

Bento XVI, na Basílica Nacional de Aparecida,em 13 de maio de 2007.

"As pessoas mais vulneráveis ao proselitismo agressivo das seitas (...) e incapazes de resistir às investidas do agnosticismo, do relativismo e do laicismo são geralmente os batizados não suficientemente evangelizados, facilmente influenciáveis porque possuem uma fé fragilizada e, por vezes, confusa, vacilante e ingênua, embora conservem uma religiosidade inata."

Bento XVI, a bispos na Catedral da Sé, em 11 de maio de 2007.

"Digo aos que comercializam a droga que pensem no mal que estão provocando a uma multidão de jovens e de adultos de todos os segmentos da sociedade: Deus vai-lhes exigir satisfações."

Bento XVI, na Fazenda Esperança, em Guaratinguetá (SP), em 12 de maio de 2007.

O dia 12 de maio de 2007 foi de pânico na equipe de segurança de Bento XVI no Brasil. Sem avisar, o papa quebra o protocolo e começa a abrir caminho pelo público formado por cerca de 2 mil ex-traficantes, drogados, prostitutas e criminosos. O cenário é a Fazenda Esperança, em Pedrinhas, a 15 km do Centro de Guaratinguetá (SP), um centro de recuperação de dependentes químicos.

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A tensão dos agentes durou pouco mais de 10 minutos, tempo que o papa levou para descer do palco preparado para a ocasião e percorrer cerca de 200 metros, contando ida e volta, com um sorriso ininterrupto. Como ocorre na Sala Paulo VI, em Roma, nas audiências papais, os jovens estendiam as mãos e objetos pessoais, aos gritos, tentando tocar o pontífice ou receber uma bênção. E o papa correspondia, para o desespero dos seguranças. A preocupação chegou ao auge quando o boné de um dos presentes caiu e Bento XVI se abaixou para pegá-lo e devolvê-lo ao seu dono. "O homem e cidadão Bento XVI foi uma surpresa para todos", diz Ricardo Correa Ribeirinha, 37 anos, um dos ex-dependentes químicos que estavam no local.

A "surpresa", no entanto, começou três dias antes, quando o papa desembarcou na Base Aérea de Guarulhos (SP). Antes de chegar ao Brasil, Bento XVI era visto como uma pessoa "séria" e "sisuda", fama conquistada por sempre defender posições polêmicas da Igreja, como a proibição ao aborto ou ao uso de preservativos, principalmente durante os anos em que foi prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé. O Brasil, no entanto, viu um outro homem descer do avião. "Um papa surpreendentemente caloroso", escreveu na ocasião o site de notícias UOL. "Bento XVI revelou o seu lado carismático", publicou o jornal Folha de S.Paulo. Com o seu sorriso, "o papa perdeu um pouco da imagem de papa europeu", apontou o site G1.

Palavras fortes

Os gestos simples e amáveis foram acompanhados de palavras firmes. Logo no primeiro discurso, ao lado do presidente Lula, ainda em Guarulhos, depois de dizer que o Brasil ocupa um "lugar especial no seu coração", o pontífice afirmou a necessidade do "respeito pela vida, desde a sua concepção até o seu natural declínio", em uma clara alusão às tentativas de descriminalização do aborto e da eutanásia no país.

No dia seguinte, o papa convidou os cerca de 50 mil jovens no Estádio do Pacaembu, em São Paulo, a viver a castidade, recusando uma "vida dissoluta, paradoxalmente vazia, ao fazer perder o bem precioso da vossa liberdade e da vossa verdadeira felicidade". E repetiu as palavras da encíclica Deus caritas est, sobre o verdadeiro amor, que "requer um caminho de ascese, renúncias, purificações e saneamentos".

Depois de pedir santidade aos mais de 1 milhão de católicos presentes na canonização de Frei Galvão, no dia 11 de maio, falou a 400 bispos na Catedral da Sé sobre a responsabilidade no discernimento e na formação dos novos padres para evitar o risco de "desvios no campo da sexualidade". Chamou de "ferida" a difusão do divórcio e das uniões livres, além de alertar os presentes a lutar contra a ignorância que faz os católicos "vulneráveis ao proselitismo agressivo das seitas".

Na Fazenda Esperança, criticou os traficantes, dizendo que Deus "vai-lhes exigir satisfações" pelo mal que provocam. Em Aparecida, deu diretrizes concretas para os bispos da América Latina na abertura da V Conferência Episcopal Latino-Americana (Celam), afirmando sua preocupação pelas "formas de governo autoritárias" e "sujeitas a certas ideologias", distintas da "autêntica libertação cristã", em uma menção velada à Teologia da Libertação.

A despedida do papa foi seguida de manifestações de apoio e agradecimento por parte de católicos e não católicos, mas também de críticas, principalmente de grupos favoráveis à Teologia da Libertação e ao aborto. O balanço dado nos meios de comunicação sobre a influência da viagem também mudou de acordo com a cor ideo­­lógica das fontes. Nesse cenário, apenas uma opinião permaneceu unânime entre os que o conheceram: na sua timidez, o papa venceu com ternura a fama de "rottweiler de Deus".

Nos seus quase 8 anos de pontificado, o papa Bento XVI teve a oportunidade de encontrar chefes de estado em viagens polêmicas ou em encontros privados no Vaticano. Confira alguns desses momentos.

Bento XVI e líderes mundiais

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