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"Vou guardar a imagem de um homem íntegro e corajoso por denunciar aquilo que não está de acordo com a lei de Deus. A Igreja não tem de agradar a gregos e troianos, pois ela é uma instituição séria e a mais antiga do mundo, aquela que foi fundada pelo Sangue Precioso de Cristo."

Cláudia Márcia, na página da Gazeta do Povo no Facebook.

"Os raios que iluminaram a cúpula da Basílica de São Pedro, na noite do 11 de fevereiro, foram um sinal de caráter místico, assim como a ventania no funeral de João Paulo II. Se ‘Deus escreve certo por linhas tortas’, Ratzinger, abatido pela sua fragilidade física, emocional e psicológica, torna-se um paradigma de coragem, despojamento, simplicidade e humildade."

Oswaldir Ehlke Scholz, leitor da Gazeta do Povo.

A renúncia de um papa é fato raro na longa história do Catolicismo, mas pode deixar de sê-lo. No cenário atual, com o qual os católicos são obrigados a conviver, há dois elementos atuando: o crescimento da longevidade e o modelo vigente para a ação papal, fortemente baseado na presença física do pontífice através de viagens.

Os avanços da medicina se traduzem na possibilidade de que qualquer pessoa com acesso a cuidados de qualidade tenha uma longa velhice. Bento XVI, aos 85 anos, já viveu mais que a maioria de seus antecessores dos últimos cem anos. Só o primeiro e o último papa do século 20 – respectivamente Leão XIII (que morreu aos 93 anos) e João Paulo II (falecido aos 85 anos) – foram tão longevos quanto o pontífice que agora renuncia. Entre os dois houve outros sete papas. Ou seja, refletindo o que acontece na sociedade, a longevidade dos líderes da Igreja está aumentando.

É razoável supor que os sucessores de Bento XVI terão a expectativa de avançar nos 80 anos e de chegar aos 90. Octogenários e nonagenários podem ser pessoas saudáveis, mas não escapam de conviver com o enfraquecimento do corpo. Mais perigosa para quem tem uma função com a responsabilidade do papa é a possibilidade de desenvolver um quadro de senilidade. A doença de Alzheimer, por exemplo, atinge 1% dos idosos entre 65 e 70 anos e sua prevalência vai aumentando exponencialmente com os anos, chegando a atingir 60% das pessoas com mais de 90 anos, segundo dados do Ministério da Saúde.

O papado, nos moldes em que existiu durante séculos, era compatível com a idade avançada dos titulares. Até João XXIII, os pontífices trabalhavam exclusivamente dentro do Vaticano, e o contato com os fiéis era feito através de cardeais e bispos e das encíclicas. A partir de Paulo VI, o papa se tornou um peregrino, que visita as comunidades espalhadas pelo mundo e tem contato com os fiéis locais. Paulo VI esteve nos Estados Unidos, na América do Sul, na África e na Austrália. Por sua vez, João Paulo II levou ao extremo o uso das viagens como instrumento de pregação. Durante os 27 anos de papado, visitava pelo menos cinco diferentes países por ano, além de fazer vários roteiros dentro da Itália.

Viagens prolongadas, intercontinentais e repletas de compromissos são cansativas para qualquer pessoa, o que se dirá para um octogenário. Este modelo de trabalho itinerante e presencial que João Paulo II aperfeiçoou e que Bento XVI procurou seguir é extenuante para idosos. Mais que isso: é incompatível com um papa idoso que tenha problemas de saúde.

É por isso que, somado o quadro demográfico em que os papas estão inseridos ao modelo de ação pastoral adotado pela Igreja a partir da década de 60 do século passado, chega-se a um cenário em que os líderes católicos se verão obrigados a considerar a possibilidade de renúncia, para permitir que a função seja entregue a alguém mais jovem e disposto.

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