Caracas Diretor da Rádio Caracas de Televisão (RCTV) Marcel Granier é uma figura polêmica. De um lado, sua principal bandeira hoje o direito de a RCTV continuar a transmitir no canal 2 agrega a simpatia de ONGs, entidades internacionais e governos de diversos cantos do mundo, além de largas parcelas da população de seu país. Do outro, seu protagonismo no golpe de 2002 contra o presidente Hugo Chávez é admitido até por setores da oposição venezuelana. Em meio a preparativos das manifestações para protestar contra a decisão do governo de fechar a emissora, ele concedeu na semana passada a seguinte entrevista à Agência Estado.
O que o senhor espera para a noite deste domingo (hoje), quando o governo diz que tirará a RCTV do ar?Ainda tenho esperança de que se imponha o direito e a justiça. Ou seja, que o presidente Chávez volte atrás nessa medida inconstitucional ou haja uma decisão favorável nos tribunais competentes.
O governo não dá sinais de que possa voltar atrás...Nesse caso, ele estará transitando em um caminho muito perigoso em direção a mais autoritarismo e concentração de poder. Se somarmos essa medida com outras decisões tomadas recentemente a Lei Habilitante (que permite a Hugo Chávez governar por decreto), a criação de um partido único e a exigência de que os militares façam um juramento à "pátria, socialismo ou morte" , não restará dúvida em relação ao caráter totalitário desse regime.
A RCTV tem um plano B?O plano B é seguir lutando por nossos direitos.
A emissora passará a ser uma tevê a cabo?O problema é que é impossível fazer qualquer plano de negócio racional partindo do pressuposto de que o governo pode nos atropelar a qualquer instante com medidas ilegais como essa. Não temos nenhuma segurança jurídica.
O senhor é acusado de ter participado do golpe em 2002.Se o argumento é esse, o presidente deveria prová-lo perante os tribunais. Num Estado democrático, há leis e regras sobre o direito à defesa, à presunção de inocência, etc. O governo passou por cima de tudo isso.
Como tem sido a relação com o governo Hugo Chávez nos últimos anos?As relações entre os meios de comunicação e o poder sempre são difíceis. A diferença é que um governo democrático escuta a crítica e até aprende com ela. Aqui, o presidente está cada dia mais intolerante com qualquer pessoa, empresa ou organização que tenha uma opinião distinta à dele, mesmo se for de um partido aliado. Primeiro, converteu todos os meios de comunicação do Estado em um aparato de propaganda. Depois, aprovou as leis de desacato, que permitem a qualquer funcionário que se sinta ofendido por um jornalista processá-lo e mandá-lo para a cadeia. A chamada Lei Resorte facilita a imposição de sanções aos meios de comunicação por infrações definidas de forma ambígua. Por fim há as ameaças físicas. Mais de 150 de nossos trabalhadores foram agredidos e muitos equipamentos acabaram destruídos por simpatizantes ou pessoas pagas pelo governo.
Mas também se costuma dizer que a mídia é quase um partido de oposição na Venezuela.Não acredito. Temos uma posição crítica, mas a crítica deve ser tolerada numa democracia. A oposição política ainda tem um papel central. Apesar do medo que está incutido na população, mais de 4 milhões de pessoas votaram no candidato de oposição nas eleições presidenciais de dezembro.
Por que o governo investe justo contra a RCTV, se outras emissoras também foram acusadas de golpistas?Nós somos a emissora de maior audiência. O governo quer passar um recado para toda a imprensa, de modo a cultivar o medo e estimular a autocensura.
O que acontecerá com os funcionários da tevê?Essa é uma pergunta que deveria ser feita ao presidente da república. Na Venezuela há 8 milhões de pessoas sem emprego e esta empresa triplicou o número de funcionários nos últimos dez anos. Hoje nós temos cerca de 3 mil empregados.



