• Carregando...

Exportação - Modelo venezuelano pode ser seguido por Bolívia e Equador

Caracas – Substituir a RCTV por uma emissora financiada pelo Estado faz parte de um projeto para "socializar" os sistemas de rádio e televisão que o presidente Hugo Chávez já está exportando para os países aliados na América Latina. Além de criar a Televisão Venezuelana Social (Teves) para tomar o lugar da emissora privada no canal 2, o governo anunciou que pretende financiar a criação de 30 rádios e cinco televisões comunitárias em todo o país.

Um projeto semelhante está sendo apoiado na Bolívia, do colega Evo Morales, onde foi criada uma rede de 25 rádios e o governo pretende inaugurar uma tevê comunitária em 2008. Segundo a organização Grupos de Diários da América, que reúne 11 jornais latino-americanos, os venezuelanos também dão assessoria para melhorar a programação da tevê estatal boliviana e adquiriram o semanário gratuito La Época para influir na imprensa da Bolívia.

No conflito direto com os meios de comunicação privados, quem segue os passos venezuelanos é o presidente do Equador, Rafael Correa. Há cerca de 15 dias ele anunciou que processaria por injúria o jornal La Hora por publicar um editorial criticando o modo como foi convocado o referendo sobre a Assembléia Constituinte – sua promessa de campanha. Os três presidentes se dizem perseguidos pela imprensa.

Caracas – Diretor da Rádio Caracas de Televisão (RCTV) Marcel Granier é uma figura polêmica. De um lado, sua principal bandeira hoje – o direito de a RCTV continuar a transmitir no canal 2 – agrega a simpatia de ONGs, entidades internacionais e governos de diversos cantos do mundo, além de largas parcelas da população de seu país. Do outro, seu protagonismo no golpe de 2002 contra o presidente Hugo Chávez é admitido até por setores da oposição venezuelana. Em meio a preparativos das manifestações para protestar contra a decisão do governo de fechar a emissora, ele concedeu na semana passada a seguinte entrevista à Agência Estado.

O que o senhor espera para a noite deste domingo (hoje), quando o governo diz que tirará a RCTV do ar?Ainda tenho esperança de que se imponha o direito e a justiça. Ou seja, que o presidente Chávez volte atrás nessa medida inconstitucional ou haja uma decisão favorável nos tribunais competentes.

O governo não dá sinais de que possa voltar atrás...Nesse caso, ele estará transitando em um caminho muito perigoso em direção a mais autoritarismo e concentração de poder. Se somarmos essa medida com outras decisões tomadas recentemente – a Lei Habilitante (que permite a Hugo Chávez governar por decreto), a criação de um partido único e a exigência de que os militares façam um juramento à "pátria, socialismo ou morte" –, não restará dúvida em relação ao caráter totalitário desse regime.

A RCTV tem um plano B?O plano B é seguir lutando por nossos direitos.

A emissora passará a ser uma tevê a cabo?O problema é que é impossível fazer qualquer plano de negócio racional partindo do pressuposto de que o governo pode nos atropelar a qualquer instante com medidas ilegais como essa. Não temos nenhuma segurança jurídica.

O senhor é acusado de ter participado do golpe em 2002.Se o argumento é esse, o presidente deveria prová-lo perante os tribunais. Num Estado democrático, há leis e regras sobre o direito à defesa, à presunção de inocência, etc. O governo passou por cima de tudo isso.

Como tem sido a relação com o governo Hugo Chávez nos últimos anos?As relações entre os meios de comunicação e o poder sempre são difíceis. A diferença é que um governo democrático escuta a crítica e até aprende com ela. Aqui, o presidente está cada dia mais intolerante com qualquer pessoa, empresa ou organização que tenha uma opinião distinta à dele, mesmo se for de um partido aliado. Primeiro, converteu todos os meios de comunicação do Estado em um aparato de propaganda. Depois, aprovou as leis de desacato, que permitem a qualquer funcionário que se sinta ofendido por um jornalista processá-lo e mandá-lo para a cadeia. A chamada Lei Resorte facilita a imposição de sanções aos meios de comunicação por infrações definidas de forma ambígua. Por fim há as ameaças físicas. Mais de 150 de nossos trabalhadores foram agredidos e muitos equipamentos acabaram destruídos por simpatizantes ou pessoas pagas pelo governo.

Mas também se costuma dizer que a mídia é quase um partido de oposição na Venezuela.Não acredito. Temos uma posição crítica, mas a crítica deve ser tolerada numa democracia. A oposição política ainda tem um papel central. Apesar do medo que está incutido na população, mais de 4 milhões de pessoas votaram no candidato de oposição nas eleições presidenciais de dezembro.

Por que o governo investe justo contra a RCTV, se outras emissoras também foram acusadas de golpistas?Nós somos a emissora de maior audiência. O governo quer passar um recado para toda a imprensa, de modo a cultivar o medo e estimular a autocensura.

O que acontecerá com os funcionários da tevê?Essa é uma pergunta que deveria ser feita ao presidente da república. Na Venezuela há 8 milhões de pessoas sem emprego e esta empresa triplicou o número de funcionários nos últimos dez anos. Hoje nós temos cerca de 3 mil empregados.

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]