Estudante da Universidade Americana (UAM), Raynéia teria sido metralhada| Foto: Arquivo pessoal/Facebook

A estudante brasileira de medicina Raynéia Gabrielle Lima, 30 anos, foi morta a tiros na noite desta segunda-feira (23) em Manágua, capital da Nicarágua, em meio à convulsão social que tomou o país governado por Daniel Ortega.

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O assassinato, divulgado pela imprensa local, foi confirmado pela Embaixada do Brasil na Nicarágua. Estudante da Universidade Americana (UAM), Raynéia teria sido metralhada.

Em seu perfil nas redes sociais ela se descreve: “Nascida no Brasil, renascida na Nicarágua. Liberdade, luz, paz e amor." 

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Raynéia era pernambucana de Vitória de Santo Antão. Seu pai, o motorista Ridevando Lima, disse que ela se mudou há seis anos para a Nicarágua.  

“Ela estava terminando a residência”, disse Lima à reportagem, por telefone. “Estava pronta pra vir pro Brasil.” 

O pai a descreveu como uma pessoa caseira e estudiosa. “Ela não entrava nisso de manifestação, era muito tranquila."

Segundo um comunicado da agremiação universitária da Nicarágua Coordinadora Universitaria, ela estava voltando para casa quando seu carro foi alvejado por paramilitares que tomaram o campus da Universidade Nacional Autônoma da Nicarágua (UNAN) em Manágua.

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Em seu perfil nas redes sociais, a UAM disse que a morte da jovem foi resultado de um ato de violência ainda não esclarecido, “mas que nos enche de dor porque é consequência das difíceis circunstâncias  que está vivendo a Nicarágua”.

“Foi uma honra ter contado com uma estudante como Rayneia Gabrielle, pois, através de sua profissão médica, sempre demonstrou entrega a seus semelhantes e um alto compromisso humanitário”, declarou a instituição de ensino.

Reposta brasileira

Em comunicado, o Ministério das Relações Exteriores do Brasil afirma que o governo “recebeu com profunda indignação e condena a trágica morte” de Raynéia. 

“Neste momento difícil, [o governo brasileiro] estende sua solidariedade e expressa suas mais sentidas condolências à família da jovem”. 

Questionado sobre as circunstâncias da morte da estudante, o Itamaraty disse que está buscando esclarecimentos junto ao governo nicaraguense e pediu que os responsáveis pelo ato criminoso sejam identificados e punidos.

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“Diante do ocorrido, o governo brasileiro torna a condenar o aprofundamento da repressão, o uso desproporcional e letal da força e o emprego de grupos paramilitares em operações coordenadas pelas equipes de segurança, conforme constatado pelo Mecanismo Especial de Seguimento para a Nicarágua, instalado para implementar as recomendações da Comissão Interamericana de Direitos Humanos”, declara o ministério das Relações Exteriores. 

Em seu discurso durante o encerramento do encontro, o presidente Michel Temer também falou sobre o assassinato de Raynéia. "Lamentamos profundamente a morte de uma jovem brasileira vitimada pela violência em Manágua, na noite de ontem, em circunstâncias que ainda estão sendo examinadas", disse. 

O que está acontecendo na Nicarágua?

O país da América Central vive desde abril uma onda de protestos que pedem a saída do presidente Daniel Ortega. O governo respondeu com violência aos manifestantes e ao menos 360 pessoas já foram mortas, a maior parte civis.

Inicialmente, os protestos começaram por causa do descontentamento com a proposta da reforma previdenciária. Ortega voltou atrás. Mas as críticas contra o presidente não param. Personagem chave na derrubada da ditadura da família Somoza, em 1979, desde que voltou ao comando do país centro-americano tem tomado medidas autoritárias para cercear a oposição e a imprensa, além do movimento para reformar a Constituição e permitir a reeleição indefinida.

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O movimento de oposição a Ortega é uma “colcha de retalhos” que reúne movimentos estudantis, camponeses, femininos e entidades empresariais. “O governo nicaraguense quer convencer o mundo de que a oposição é composta por direitistas pagos pelos Estados Unidos, mas a realidade é muito mais complexa”, afirma Benjamin Waddell, professor associado de sociologia do Fort Lewis College (Estados Unidos).

Um dos capítulos mais recentes do acirramento das tensões foi um violentíssimo ataque da polícia nicaraguense e de grupos paramilitares a serviço de Ortega, na sexta à tarde, a estudantes que estavam entrincheirados há dias no campus da Universidade Nacional Autônoma da Nicarágua. Pelo menos duas pessoas foram mortas. 

Muitos estudantes se refugiaram em uma igreja próxima, que também passou a ser alvo dos paramilitares. Por 20 horas, o templo foi alvo de rajadas de metralhadoras. As ruas próximas à paróquia foram bloqueadas, impedindo o resgate dos feridos.

O que diz o governo da Nicarágua?

O governo nega ter ligação com os grupos paramilitares que são acusados de serem os responsáveis pela maioria das mortes,  apesar de eles usarem bandeiras do partido do presidente, a Frente Sandinista de Libertação Nacional.

No primeiro discurso após a ofensiva de policiais e paramilitares contra redutos oposicionistas, na quinta-feira passada, Ortega acusou a igreja Católica de encampar as exigências dos movimentos opositores, principalmente a convocação de uma nova eleição presidencial - o mandato atual termina em 2022, mas o líder sandinista pode se reeleger indefinidamente.

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Ele também culpa os EUA pela violência em seu país, acusando as agências americanas de estarem financiando seus opositores. Dados da agência de ajuda norte-americana, no entanto, mostram que é o governo nicaraguense o principal recipiente dos US$ 6,9 milhões desembolsados por Washington para ajuda ao país centro-americano apenas neste ano.

Ortega já afirmou que não pretende renunciar e que quer permanecer no cargo.

Infográficos Gazeta do Povo[Clique para ampliar]