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Curitiba – A Academia de Ciências dos EUA divulgou na última semana um estudo afirmando que a temperatura média no planeta Terra é a mais alta dos últimos 400 anos. Luiz Gylvan Meira Filho, pesquisador do Instituto de Estudos Avançados da Universidade de São Paulo (USP) e ex-co-presidente do Grupo de Trabalho Científico do Painel Intergovernamental sobre Mudança de Clima, órgão ligado a ONU, explica que essa é uma tendência verificada para os próximos 50 anos. A população mundial precisará aprender, "inexoravelmente", a viver com uma nova realidade causada pelo aumento da temperatura média do planeta, afirma.

Gazeta do Povo – Este calor sem precedentes nos últimos 400 anos foi causado pela ação do homem ou é uma disposição natural da Terra?

Luiz Gylvan Meira Filho – As duas coisas são verdades. Existe uma variação natural com tendência de alta, sobreposta por uma alta na média do clima, causada pela ação do homem.

Mas qual é a tendência, a temperatura vai continuar aumentando?

O sistema climático tem duas memórias. Se você colocar gás de efeito estufa na atmosfera, vai demorar muitos anos para decair de lá. Mais do que cem anos. É uma memória, demorou para colocar tal quantidade lá, então vai demorar para sair de lá também, ainda que você pare de emitir o gás. A outra memória é a capacidade térmica do oceano. Leva muito tempo para esquentar. Mas se parar de esquentar, também vai levar muito tempo para esfriar.

E quais serão as principais conseqüências para o planeta?

Em quatros frentes, principalmente. Primeiro, na agricultura, que depende do solo e do clima. No Brasil, o café, por exemplo, começou no estado do Rio de Janeiro, chegou ao Paraná e de certa forma desceu muito para o Sul. Depois, voltou mais para o norte. No Sul, é mais frio, tem menos praga, mas o perigo de geada é maior. Quer dizer, as culturas se adaptam a uma certa região climática, que depende da chuva e da disponibilidade da água. Se o clima mudar pouco, os pesquisadores conseguem fabricar uma semente mais resistente a menos água. Mas se mudar muito, a agricultura tem que mudar de região. A segunda conseqüência é a mudança do tipo de vegetação, principalmente na Amazônia, onde a floresta deve ser substituída pelo cerrado, que se adaptada melhor em locais com menos água. Terceiro: o nível do mar deve subir. No Brasil isso não deve ter muitas implicações, quem sabe na região da Ilha de Marajós seria um problema. Mas em Blangadesh, por exemplo, se o mar subir um palmo a água vai entrar quilômetros terra adentro. E, por último, os fenômenos meteorológicos extremos devem mudar de local, agir em regiões inéditas para esse tipo de fenômeno.

Existe uma grande preocupação em torno das políticas norte-americanas de combate ao aquecimento global. Este governo principalmente é muito criticado por dar pouca atenção aos problemas de meio ambiente. O senhor concorda com isso?

Muitos estados nos EUA combatem a mudança de clima, independentemente do governo federal. Além disso, nesta semana, em Viena (Áustria), os EUA e a União Européia tiveram uma reunião em que trataram de vários temas, inclusive da segurança energética. Provavelmente, pela primeira vez nesta administração norte-americana, há um comprometimento oficial de combate ao aquecimento global. Acho que dá para chamar até de uma mudança na posição do governo.

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