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Bombardeio do palácio presidencial de La Moneda, durante o golpe de 11 de setembro de 1973 no Chile.
Bombardeio do palácio presidencial de La Moneda, durante o golpe de 11 de setembro de 1973 no Chile.| Foto: Biblioteca del Congreso Nacional de Chile/Wikimedia Commons

Os Estados Unidos divulgaram nesta sexta-feira dois relatórios presidenciais sobre o golpe de Estado de Augusto Pinochet no Chile, ocorrido em 11 de setembro de 1973. No primeiro, datado de 8 de setembro daquele ano, assessores do então presidente americano Richard Nixon (1969-1974) alertam sobre uma “possível tentativa de golpe” no país sul-americano, enquanto no segundo, datado de 11 de setembro, informam que várias “unidades militares importantes” apoiam a tentativa.

Em um comunicado, o Departamento de Estado dos EUA disse que o fim do sigilo dos documentos mostra o “compromisso contínuo” na relação com o Chile. Os informes presidenciais são documentos preparados diariamente pelos serviços de inteligência para relatar ao presidente dos EUA sobre os acontecimentos internacionais, e são estritamente confidenciais. Em 2016, o então presidente dos EUA, Barack Obama, ordenou a desclassificação de documentos relacionados a diferentes episódios da história latino-americana, como a tentativa de assassinato do político chileno Orlando Letelier em Washington, em 1976, ou a “guerra suja” da última ditadura argentina (1976-1983).

No relatório presidencial de 8 de setembro, desclassificado nesta sexta-feira, os assessores de Nixon detalham que o então presidente do Chile, Salvador Allende, considera que seus seguidores não têm armas suficientes para enfrentar o Exército e que a única solução possível é política. Allende “está preocupado com as pressões da oposição e, em particular, com as intenções do Exército”, diz o documento.

Em 11 de setembro, o dia do golpe, os serviços de inteligência dos EUA alertaram sobre o apoio de setores importantes do Exército à tentativa de golpe, mas advertiram que os militares poderiam não ter “um plano eficaz e coordenado para tirar proveito da ampla oposição civil” ao governo chileno. Enquanto isso, “o presidente Allende, por sua vez, ainda espera que o adiamento de uma decisão evite conflitos”, afirma o documento. Na tarde daquele dia, o presidente socialista cometeu suicídio, dando início à ditadura de Pinochet, que durou 17 anos e deixou mais de 3 mil oponentes políticos mortos ou desaparecidos.

Embora não haja provas do envolvimento direto de Nixon no golpe, milhares de documentos que foram desclassificados desde o mandato de Bill Clinton mostraram a profunda hostilidade de Nixon e de seu braço direito Henry Kissinger em relação a Allende desde antes de ele assumir o cargo, e que a CIA apoiou e financiou grupos para desestabilizar o governo chileno.

“Ainda não sabemos o que o presidente Richard Nixon viu em sua mesa na manhã do golpe militar e como ele foi informado de que o golpe militar havia ocorrido”, disse à EFE, no início de agosto, Juan Gabriel Valdés, embaixador do Chile em Washington. O diplomata veterano defendeu que as incógnitas ainda são muitas, pois vários documentos divulgados ainda mostram fragmentos riscados em preto, como os expostos no Museu da Memória em Santiago do Chile. “Queremos vê-los e poder lê-los para saber exatamente o que se passava na cabeça daqueles que governavam os Estados Unidos na época”, afirmou.

A desclassificação dos documentos americanos sobre a ditadura no Chile é uma demanda histórica do país sul-americano. Os EUA disseram que essa desclassificação está ocorrendo “em resposta a uma solicitação do governo do Chile e para permitir uma compreensão mais profunda da história” que os dois países compartilham.

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