Paris – Presidente do Observatório Francês sobre a Conjuntura Econômica (OFCE), Jean-Paul Fitoussi, diz que a França vai eleger no próximo domingo um "governador de Estado", e não um presidente. A França, diz ele, é apenas uma província da União Européia. Para Fitoussi, a saída para o país está no fortalecimento da Europa.

CARREGANDO :)

Qual o problema com o modelo francês? Ele existe?

Existe uma cultura francesa que criou um sistema de proteção social. Este sistema funcionou bem. A França é o único país industrial onde as desigualdades não aumentaram nos últimos 20 anos. Mas este modelo deixou passar por sua rede dois grandes problemas: segregação urbana, e aumento da precariedade do trabalho. Mas não se joga pela janela um modelo que foi o único a conter as desigualdades.

Publicidade

Qual caminho dos dois candidatos tem mais chance de dar certo na França?

Em vários aspectos os dois programas são parecidos. Os dois propõem investimentos em infra-estrutura, no ensino superior e na pesquisa, e uma política de crédito. Há uma diferença em relação aos impostos: Sarkozy quer baixar, e Royal não se posicionou sobre isso. O custo dos dois programas é quase o mesmo. Os dois visam ao crescimento.

Ségolène e Sarkozy, então, são a mesma coisa?

Eles têm personalidades e equipes muito diferentes. Sarkozy é de direita, mas ele compreendeu que a França é um país social. A direita na França é uma direita social. Já os socialistas compreenderam que são de esquerda, mas que as políticas de esquerda não funcionam. O partido se chama socialista, mas eles perguntam: o que fazemos? Os dois convergem em direção ao centro.

Então não existe mais diferença entre esquerda e direita no plano econômico?

Publicidade

A esquerda francesa e européia ainda não têm clareza sobre isso. Há outro fato. Nós acreditamos estar elegendo um presidente da República. Na realidade estamos elegendo um governador de Estado. A França é uma província da Europa. A maior parte de nossas leis é de leis européias. É a UE que determina a política de câmbio e orçamentária.

E o senhor acha isso positivo?

O problema da Europa hoje é que ela não tem um governo federal. É preciso assumir a Europa e fazê-la avançar sobre o plano político. Se a França vai mal, é a zona do euro que vai mal. É um milagre que a zona do euro tenha voltado a crescer, num contexto de valorização de 80% do euro em relação ao dólar, ao yen (Japão) e ao iuane (China). Os países da UE estão pagando o preço econômico da ausência de governança política da UE.

Jean-Paul Fitoussi, presidente do Observatório Francês sobre a Conjuntura Econômica

Veja também
  • Caminhos opostos para a França
Publicidade