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This TV grab taken from youtube and released on August 29, 2019 shows former senior commander Ivan Marquez(C) and fugitive rebel colleague, Jesus Santrich(wearing sunglass), of the dissolved FARC rebel army group in Colombia, on an undisclosed location of Colombia announcing that they are taking up arms again along with other guerrillas who have distanced themselves from a peace accord signed with the government in 2016. – The whereabouts of Marquez, Marxist FARC’s number two leader and chief negotiator of the 2016 peace agreement, had been unknown for more than a year. With UN support, the peace accord ended the insurrection by the Revolutionary Armed Forces of Colombia and turned it into a political party. (Photo by – / various sources / AFP)
Imagem de vídeo divulgado nesta quinta-feira (29) que mostra ex-líderes das Farc em local não identificado anunciando o retorno ao conflito armado| Foto: AFP

Ex-líderes do maior grupo guerrilheiro da Colômbia anunciaram uma ruptura com o acordo de paz de 2016, que encerrou a guerra mais longa da América Latina. Vestindo trajes militares e carregando rifles, eles declararam um "novo capítulo" na luta armada contra um governo que, segundo eles, traiu o acordo.

Em um vídeo postado online no início desta quinta-feira (29), o ex-negociador líder das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) - o grupo guerrilheiro de extrema esquerda que se tornou um partido político após o acordo - denunciou o fracasso do governo, agora liderado pelo presidente conservador Iván Duque, em cumprir as promessas do acordo.

Luciano Marín - conhecido pelo nome de guerra Iván Márquez - estava entre um grupo de 20 membros das Farc fortemente armados, incluindo outros líderes proeminentes, e condenou o assassinato nos últimos dois anos de mais de 500 líderes comunitários de esquerda e 150 ex-combatentes.

"O Estado não cumpriu as suas obrigações mais importantes, que são garantir a vida de seus cidadãos e, principalmente, evitar assassinatos por razões políticas", afirmou Marín. Ele disse que seu grupo lutaria por um governo que defenda o processo de paz.

Duque anunciou uma recompensa de US$ 100 mil por dicas que levem à captura das pessoas no vídeo. Ele disse que o exército colombiano estava bem equipado para encontrá-los.

"A Colômbia não aceita ameaças de ninguém, muito menos de traficantes de drogas", disse ele em um discurso no palácio presidencial transmitido pela televisão. "Esse grupo de delinquentes quer zombar do povo colombiano e não vamos permitir isso".

A Colômbia não estava enfrentando uma nova insurgência, disse Duque, apenas um "bando de criminosos". Ele acusou o ditador venezuelano Nicolás Maduro de lhes dar refúgio na Venezuela.

Rodrigo Londoño, o ex-líder supremo das Farc que agora chefia o partido político do grupo, rejeitou a manobra do ex-aliado. Ele disse que mais de 90% dos ex-guerrilheiros continuam comprometidos com o processo de paz.

"Nosso compromisso hoje, mais do que nunca, como maioria, como partido, como país, é paz, defesa e conformidade com o acordo", tuitou Londoño. "Aqueles que se afastam da paz estão enganados."

As autoridades dos EUA estão monitorando a situação. "Nossa preocupação é em parte com a segurança nacional colombiana e, em parte, porque esses grupos guerrilheiros estão profundamente envolvidos no narcotráfico que afeta diretamente os Estados Unidos", disse Elliott Abrams, representante dos EUA para a Venezuela, a repórteres em Washington.

Ameaça

O anúncio de Marín representa a ameaça mais significativa até o momento para um processo de paz que vem se deteriorando gradualmente. Outros ex-membros das Farc, frustrados com a falta de programas de treinamento e reinserção que foram prometidos, já retornaram à selva. Mas a manobra de Marín é a ruptura mais significativa do acordo.

Analistas alertaram que isso poderia unir as dezenas de pequenos grupos de combatentes dissidentes que continuaram o conflito armado. Marín disse que tentaria fazer uma articulação com o Exército de Libertação Nacional (ELN), o grupo armado que se tornou o maior grupo de guerrilha da Colômbia depois que os membros das Farc abandonaram as armas.

Naryi Vargas, pesquisadora da Fundação de Paz e Reconciliação de Bogotá, disse que Marín e os outros líderes do vídeo podem reunir pelo menos 1.500 combatentes. As Farc tinham mais de 13.000 membros - cerca da metade deles combatentes armados - antes do acordo de paz.

A facção de Marín tem "a capacidade de reagrupar os cerca de 24 grupos dissidentes que estão no país, eles têm a capacidade de lhes dar energia e uma sólida estrutura organizacional, permitindo que eles tenham um plano de longo prazo", disse Vargas.

Por mais de meio século, as Farc travaram uma batalha esquerdista que deixou mais de 220 mil colombianos mortos e 7 milhões de deslocados. As Farc, que aderem a uma doutrina marxista-leninista, se associaram ao tráfico de drogas. A luta do grupo ganhou ampla rejeição da população, cansada por décadas de sequestros, atentados e apropriação de terras.

O conflito foi encerrado com o histórico acordo de 2016, mas alguns combatentes continuaram a luta.

Marín desapareceu da vida pública há um ano. Duque disse que ele fugiu para a Venezuela, onde o regime de Maduro tem sido acusado de ajudar os rebeldes colombianos.

Marín apareceu no vídeo com outros líderes das Farc em um local que parecia ser uma clareira de floresta. Com ele estavam Seuxis Pausias Hernández, mais conhecido como Jesús Santrich. Hernández foi detido em uma operação da agência federal de combate às drogas dos EUA em 2018, foi ameaçado de extradição, preso, libertado, preso novamente e depois escapou.

Também aparece no vídeo Hernán Darío Velásquez, conhecido como El Paisa, que já comandou uma unidade de guerrilha de elite das Farc e mais tarde integrou a equipe de negociação que fez o acordo em Havana. E Walter Mendoza, ex-comandante das Farc em Cauca, um departamento da Colômbia na costa do Pacífico que tem sido um centro de dissidência das Farc. A aparição dele sugere que os grupos das Farc em Cauca possam atender ao chamado da facção.

Nos anos desde que o acordo foi assinado, oficiais das Farc e observadores criticaram o governo colombiano por não cumprir as promessas ambiciosas de reforma rural e desenvolvimento econômico.

O governo havia prometido construir estradas e escolas em comunidades isoladas, estender crédito e títulos de terra a pequenos agricultores, enviar equipes para ajudar as famílias que dependiam da safra de coca a desenvolver projetos agrícolas alternativos para sobreviver em uma nova e pacífica Colômbia. Mas os esforços para traduzir essas promessas em realidade nunca decolaram.

Miguel Ceballos, alto comissário de Duque para o acordo de paz, defendeu o governo contra acusações de que ele não foi rápido o suficiente para cumprir suas promessas.

"Você deve se lembrar que o processo de paz deveria ser implementado ao longo de 12 anos, e estamos no governo há apenas um ano", disse ele ao Washington Post. "Não é justo dizer que não estamos cumprindo o processo".

Ceballos disse que Marín e os outros estavam cometendo "novos crimes" não cobertos pela anistia concedida aos membros das Farc pelo acordo de paz. Ele disse que as armas e uniformes novos vistos no vídeo indicam que os rebeldes estão sendo financiados por traficantes de drogas e auxiliados pelo governo venezuelano.

O ELN, o grupo com o qual Marín disse que seus rebeldes cooperariam, tem operado na Venezuela e está supostamente envolvido no tráfico de drogas. "Eles têm financiamento", disse Ceballos. "Podemos supor que [os recursos] vêm do narcotráfico". Autoridades venezuelanas não responderam a um pedido de comentário.

Ceballos concordou com Londoño que "90%" das antigas Farc ainda apoiam o acordo de paz. Analistas disseram que a facção arranjada por Marín e outros permanece em minoria.

"Não acho que eles tenham uma chance real de alterar o equilíbrio de poder", disse Sergio Guzmán, fundador da empresa de consultoria Colombia Risk Analysis. "Eles não têm recursos humanos, eles não têm armamento".

A chave para manter uma aparência de paz, disse ele, é a maneira como o governo vai responder. Alguns no partido de Duque poderiam tentar pressionar o presidente a agir rapidamente e usar a força para derrubar a facção.

"Acho que líderes das Nações Unidas e da comunidade internacional - que têm muito apreço pelo acordo de paz e acreditam que essa é basicamente a conquista mais importante do país nos últimos 50 anos - tentarão impedir o governo de agir com severidade", Disse Guzmán.

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