Resumo da notícia
- Uma explosão destruiu a barragem da usina hidrelétrica em Nova Kakhovka, Ucrânia, resultando em uma inundação parcial da área e a declaração de estado de emergência pelas autoridades russas impostas na região.
- A Ucrânia atribui a destruição da usina a uma "detonação interna" causada por forças russas, considerando o incidente como um "ataque terrorista" e um "crime de guerra".
- Cerca de 900 pessoas foram evacuadas das áreas inundadas e as autoridades russas afirmam que a responsabilidade recai sobre o regime ucraniano, negando qualquer envolvimento.
- A barragem danificada pode estar operacional novamente em cerca de quatro dias, mas os danos na usina hidrelétrica são irreparáveis, segundo a empresa ucraniana Ukrhidroenergo.
As autoridades impostas pela Rússia em Nova Kakhovka, na Ucrânia, declararam estado de emergência nesta terça-feira (06) após o rompimento da estrutura superior da barragem de sua hidroelétrica e a inundação parcial da área.
A medida entrou em vigor às 12h (horário local, 6h de Brasília), de acordo com o prefeito pró-Rússia de Nova Kakhovka, Vladimir Leontiev.
A usina está sob controle russo e localizada no rio Dnieper, cuja margem oriental está sob ocupação das forças de Moscou, enquanto do outro lado da infraestrutura começa o território sob controle ucraniano.
Segundo os serviços de emergência da área, cerca de 600 casas já foram inundadas no distrito.
O nível da água perto de Nova Kakhovka, ocupada pela Rússia há mais de 15 meses, está atualmente em mais de dez metros, segundo Leontiev.
"A água subiu, continua subindo (...) A cidade está inundando, a avenida Dnieper já está debaixo d'água. Isso significa que a água subiu mais de dez metros", relatou o prefeito da cidade.
Segundo Leontiev, a água pode subir no máximo 12,5 metros na área da central hidroeléctrica.
O rompimento da barragem, produzido, segundo a Rússia, por um ataque com lançadores múltiplos de mísseis ucranianos Alder e, segundo Kiev, por uma explosão causada no interior da usina hidrelétrica, afeta 14 cidades onde vivem 22.000 pessoas, segundo o presidente do governo imposto por Moscou na região de Kherson, Andrei Alekseenko.
A usina hidrelétrica de Kakhovka, a quinta maior da Ucrânia, tem capacidade de 334,8 megawatts (para efeito de comparação, a hidrelétrica de Itaipu tem capacidade de 14 gigawatts). Seu reservatório, construído na década de 1950, continha 18 milhões de metros cúbicos de água antes do desastre desta terça-feira (o reservatório de Itaipu contém 29 bilhões de m³).
Zelensky fala em "detonação interna"
O presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, atribuiu a destruição da usina hidrelétrica a uma "detonação interna" causada por forças russas.
"Nesta noite, às 2h50 (horário local, 20h50 de segunda-feira em Brasília), terroristas russos causaram a detonação interna das estruturas da usina hidrelétrica de Nova Kakhovka", disse Zelensky em sua conta no Telegram após uma reunião urgente com seu Conselho de Segurança para avaliar a situação.
Durante a reunião, o chefe de Estado ucraniano ordenou a evacuação das áreas de maior risco de inundação, onde se encontram cerca de 80 cidades.
Zelensky também pediu que fosse fornecida água potável "a todas as cidades e vilas" que dependiam da barragem destruída.
“Fazemos tudo o que podemos para salvar as pessoas. Todos os serviços, o Exército, o governo, o gabinete do presidente estão envolvidos", destacou Zelensky, que prometeu tomar "uma série de medidas internacionais e de segurança para que a Rússia pague por suas responsabilidades" no que descreveu como um "ataque terrorista".
Por sua vez, a assessora da presidência ucraniana, Daria Zavirna, afirmou em sua conta no Telegram que a Rússia "planejou a explosão da usina hidrelétrica de Kakhovka há muito tempo".
Zarivna disse que as autoridades de ocupação russas elevaram o nível da água ao máximo para intensificar as inundações resultantes da explosão da barragem.
O ministro das Relações Exteriores da Ucrânia, Dmytro Kuleba, afirmou que a explosão é um "crime de guerra" e é o "maior desastre" de origem humana na Europa em décadas.
"A Rússia destruiu a barragem de Kakhovka, causando provavelmente o maior desastre tecnológico provocado pelo homem na Europa nas últimas décadas e colocando em risco as vidas de milhares de civis. Este é um terrível crime de guerra", escreveu Kuleba em sua conta no Twitter.
"A única maneira de parar a Rússia, o maior terrorista do século 21, é expulsá-la da Ucrânia", acrescentou o titular da pasta de Exteriores ucraniana.
Antes de Kuleba se pronunciar sobre o incidente, a empresa hidroelétrica pública ucraniana, Ukrhidroenergo, informou que os danos na central de Nova Kakhovka são "irreparáveis" e foram provocados por "uma detonação na casa das máquinas por dentro".
“Como resultado da detonação da casa de máquinas por dentro, a usina hidrelétrica de Kakhovka foi completamente destruída. A usina não pode ser reparada”, afirma a nota oficial da empresa.
A Ukrhidroenergo acrescenta, no entanto, que a barragem danificada na explosão pode "estar operacional" novamente dentro de "quatro dias".
Cerca de 900 pessoas foram evacuadas
Cerca de 900 pessoas foram evacuadas das áreas inundadas da cidade, segundo relataram nesta terça-feira as autoridades impostas pela Rússia na região.
"Em Nova Kakhovka, as cheias atingiram a sede administrativa e o nível das águas continua a subir. Até agora, cerca de 900 pessoas foram evacuadas", informou um representante dos serviços de emergência da cidade, citado pela agência russa “Interfax”.
De acordo com os dados mais recentes dos serviços de emergência, o nível da água subiu 12 metros em Nova Kakhovka, 11,2 metros na cidade de Dnipriani e 7,3 metros em Korsunka.
Dnipriani e Korsunka — esta última completamente submersa — estão localizadas rio abaixo imediatamente após Nova Kakhovka.
Kremlin nega as acusações
O Kremlin negou as acusações da Ucrânia de que a Rússia está por trás da destruição da barragem de Nova Kakhovka e assegurou que se trata de "uma sabotagem deliberada" de Kiev.
"Negamos categoricamente essas acusações. Trata-se de uma sabotagem deliberada, planejada e organizada por ordem do regime de Kiev", disse o porta-voz da presidência russa, Dmitry Peskov, em sua entrevista coletiva diária por telefone.
Peskov acrescentou que toda a responsabilidade pelas consequências do desastre recai agora no lado ucraniano.
O porta-voz do Kremlin vinculou a explosão da barragem à contraofensiva ucraniana e afirmou que Kiev deu esse passo porque "não consegue seus objetivos" no campo de batalha.
"Suas operações ofensivas estão afundando", declarou.
Ao mesmo tempo, Peskov redirecionou ao Ministério da Defesa da Rússia uma pergunta sobre o impacto do que aconteceu na campanha de guerra russa.
Isso porque a barragem da usina hidrelétrica é de grande importância não só por suas capacidades energéticas, mas também porque conecta as margens direita e esquerda do rio Dnieper, que se tornou a linha de frente entre os Exércitos russo e ucraniano.
Segundo Peskov, um dos objetivos do ataque era deixar sem água a península da Crimeia, que, no entanto, tem reservas suficientes em seus reservatórios para o momento.
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