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Angústia no Oriente Médio

Família brasileira vive "prisão" dentro de casa em Israel

Com medo dos ataques do Hamas, brasileiros saem só para trabalhar. Paulistanos desejam que a região se torne calma e pacífica para viver

Família Worek reunida em casa, em Israel | Arquivo Pessoal / Reprodução G1
Família Worek reunida em casa, em Israel (Foto: Arquivo Pessoal / Reprodução G1)

O lugar mais seguro do apartamento é o quarto de Anna, de 4 anos. As paredes são feitas de concreto. A porta é de aço. E a janela, de ferro e aço. Anna não sai de casa desde o dia 26 de dezembro, quando Israel começou a atacar a Faixa de Gaza. Nem para a escolhinha que suspendeu as aulas ou ao parque como era costume. Passa o dia brincando fechada no quarto. Do lado de fora, as ruas da cidade de Bnei Ayish estão calmas se comparadas as de Gaza. Mas a vida de quem mora em Israel também foi afetada com a guerra.

Laís Gusmão Worek, artista plástica de 28 anos, se mudou de São Paulo para Israel há três anos junto com o marido Fabio Worek, de 30, quando sua filha Anna era bebê. Descendente de judeus, a intenção de Laís é viver na pátria sonhada. Sua família, que ficou no Brasil, está preocupada com a situação. Ela insiste: "Confesso que estamos com medo. A cada toque da sirene o desespero toma conta de nós, mas somos fortes e queremos paz para os dois lados".

O vilarejo onde a família Worek está estabelecida fica a 34 quilômetros da Faixa de Gaza e 10 quilômetros da cidade de Ashdod. "Ontem, estava trabalhando próximo ao jardim de infância, em Ashdod, onde caiu o míssil", conta. Correu para se proteger. "Logo em seguida, pude ver a fumaça".

A artista plástica nasceu e cresceu em São Paulo, onde morava no bairro do Butantã. Sua renda era proveniente dos quadros que criava. Em Israel, ela é governanta, seu marido trabalha em uma fábrica e ambos estudam o idioma hebreu. Para ficar com a filha dentro do quarto, os pais se revezam as horas do trabalho.

Aviso de bombardeio

Laís vai da casa - de cinco cômodos - para o trabalho na cidade de Ashdod de carro. E vice-versa. "Não damos muitas voltas nas cidades por precaução", conta. O quarto da Anna é o cômodo de segurança. Quando estão em casa, a família passa o tempo dentro dele. Ao soar da sirene, fecham a porta e a janela.

"A sirene tocou hoje (6), às oito horas da manhã, na cidade onde moro. Caiu um míssil em uma casa", diz Laís. O governo instalou sirenes nas ruas que apitam por cerca de cinco minutos em caso de ameaça de ataques. É o tempo que as famílias têm para correr aos locais mais protegidos das residências e estabelecimentos comerciais. Após o choque da bomba ou ao parar da sirene, esperam mais alguns minutos para sair e conferir se os estragos.

Como precaução, as famílias também têm guardado água e alimentos que não necessitam de preparo para serem consumidos. "Nós íamos todas as sextas-feiras ao supermercado nos prepararmos para o sabá – sábado de descanso", afirma. Agora, a tradição é superada pela sobrevivência.

Brasil x Israel

Quando não há conflitos diretos entre Israel, Faixa de Gaza e Cisjordânia, Laís afirma que o país é tranquilo. "Minha idéia é morar aqui para sempre. Posso caminhar nas ruas sem medo de assaltos ou roubos, deixar a janela aberta ao sair de casa, parar no farol de madrugada... Coisas que não fazia quando vivia em São Paulo", afirma.

Apesar que o cotidiano calmo, atualmente, foi substituído pelo medo dos ataques. "Ainda não sabemos se iremos passar um tempo no Brasil até o conflito acabar. Por enquanto, tentamos continuar na rotina", diz Laís. Ela conta que é a favor da paz. "Não sou contra a Palestina e não concordo com os ataques, mas também não acreditamos na palavra do Hamas", conta a brasileira. "Agora vivemos nessa situação, com medo de cair uma bomba na gente a qualquer momento", completa.

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