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Curitiba - Analista do Centro Sadat-Begin de Estudos Estratégicos e professor da Universidade Bar Ilan, em Israel, Hillel Frisch é especialista no conflito árabe-israelense. Autor do livro "Contagem Regressiva para a Formação do Estado Palestino", ainda não publicado no Brasil, ele falou com exclusividade à reportagem da Gazeta do Povo sobre a última crise entre palestinos e israelenses, na Faixa de Gaza.

Antes desta crise do seqüestro do soldado israelense, estávamos vendo progresso nas relações entre Israel e Autoridade Palestina?Não. E uma das razões para isso é que os palestinos estavam envolvidos num conflito interno: uma briga entre o presidente e o primeiro-ministro, entre o Fatah e o Hamas. Por não haver consenso, outras facções aumentaram a violência contra Israel. Eventualmente, Hamas e Fatah aderiram a essa violência. Nas últimas duas semanas, cerca de 500 mísseis Qassam foram disparados contra Israel. É quase a mesma quantidade de mísseis que eles lançaram entre 2001 e 2004.

Então os ataques aumentaram por razões internas?Parcialmente, sim. O Hamas se envolveu nesta última operação principalmente porque estava sendo cobrado por não ser revolucionário o bastante. O Fatah cobra radicalismo do Hamas, dizendo: "vocês criticaram a gente por não ser radicais demais quando estávamos no poder, e agora, desde que vocês chegaram ao poder, não fizeram quase nenhum ataque". Esse é um ponto interno. Fora isso, o Hamas estava começando a se machucar financeiramente, por causa dos cortes na ajuda internacional. Então essa última ofensiva foi uma maneira de mostrar ao mundo que eles continuam leais às suas doutrinas radicais, apesar do dinheiro. Mas e o "Plano dos Prisioneiros" não foi um passo adiante no reconhecimento do Estado de Israel pelos palestinos?Foi uma tentativa verdadeira de criar um consenso. Mas, ao invés disso, criou-se um dissenso. Nas páginas de internet árabe, alguns prisioneiros integrantes do Hamas vieram à público para dizer que eles não foram consultados e que não aceitavam o Plano. Eles pedem a aprovação de emendas no texto e a criação de um Estado palestino nas fronteiras anteriores à 1967. Enquanto não houver consenso o Plano não pode significar muita coisa.

O senhor acredita na formação de um Estado palestino?Eu acho que a alternativa de um Estado palestino está aparecendo. Mas eu não sei até que ponto um movimento nacional por essa demanda pode ser bem sucedido. Os palestinos têm falhado em aproveitar oportunidades. Em 1947, eles seriam beneficiados num processo de descolonização que tomava conta do mundo, provavelmente a maior onda de formação de Estados na história da Humanidade, e falharam. Em 1993, com o acordo de paz de Oslo, eles tiveram mais uma chance, desta vez menor, da formação de um Estado. Mas eles são muito divididos. Acho que Israel vai conviver perpetuamente com essa zona de fronteira.

Em abril passado, um ataque suicida matou 9 pessoas em Tel Aviv. Naquela ocasião, Israel não retaliou de forma agressiva. Desta vez foi diferente. Por quê?Bem, isso não é matemático. Há uma razão psicológica. Num seqüestro, as pessoas se identificam e vivem pela crise da pessoa sequestrada. É um caso que cria um drama maior. Acho que podemos generalizar isso para todas as culturas. Em casos de seqüestros criminosos, quando uma pessoa é pega aleatoriamente, a própria mídia se concentra no assunto. Com mortes é diferente, tem que seguir em frente.

Qual é o papel da comunidade internacional numa possível resolução do conflito entre os dois povos?Acho que o Ocidente, de forma geral, deve se preocupar. A chegada ao poder de um grupo islâmico fundamentalista, como é o caso do Hamas, por vias democráticas, não pode ser desprezado. Ainda que os benefícios exteriores tenham sido cortados, o Hamas não pode financiar o terrorismo e ao mesmo tempo ser reconhecido internacionalmente. Acho que isso vai contra o próprio interesse dos EUA e outros países ocidentais de difundir a democracia no Oriente Médio.

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