França admite deportação de 76 mil judeus

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Paris - O Conselho de Estado da França, máxima instância da justiça do país, admitiu ontem a culpa do governo francês pela deportação de judeus durante a Segunda Guerra Mundial (1939–1945). Trata-se do mais claro reconhecimento de responsabilidade do Estado francês no Holocausto.

Ocupada pelos nazistas na época, a França "teve responsabilidade" por deportações que levaram a uma perseguição antissemita, concluiu a máxima instância da justiça do país em decisão divulgada ontem.

Na decisão, o Conselho de Estado declara que a França já pagou "compensações pelas deportações" desde 1945, quando terminou a Segunda Guerra Mundial, aparentemente descartando a possibilidade de futuros pedidos de indenização por pessoas deportadas e seus familiares.

História

Há quase 70 anos, o governo francês de Vichy ajudou a deportar cerca de 76 mil pessoas – incluídas 11 mil crianças – de regiões francesas ocupadas pelos nazistas, a campos de extermínio no Leste Europeu durante a guerra. Menos de 3 mil voltaram vivos à França.

Depois da guerra, sucessivos governos franceses levaram décadas para admitir a participação do regime de Vichy no Holocausto. Em 1995, o presidente Jacques Chirac disse que a França tinha responsabilidade pelas deportações de judeus franceses na época da guerra.

"Para nós, Vichy era a França. Os uniformes eram franceses. Os alemães nem sempre pediam ao governo de Vichy que fizesse o que fez", disse Serge Klarsfeld, um caçador francês de nazistas e historiador do Holocausto.

Desde o discurso de Chirac, os deportados que sobreviveram e suas famílias conquistaram aposentadorias especiais do governo francês e outras compensações pelo sofrimento. Cerca de 500 milhões de euros foram pagos por uma comissão do governo montada em 2000, de acordo com Klarsfeld.

Atualmente, a França tem a maior comunidade judaica da Europa Ocidental, estimada em 500 mil pessoas.

"Essa foi uma decisão importante e corajosa, que enfrenta sem ambiguidade as ações francesas durante o Holocausto", disse Estée Yaari, porta-voz do Yad Vashem, autoridade de Israel sobre o Holocausto.