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Em Nice, um homem invadiu uma igreja católica e matou três pessoas, em outubro de 2020.| Foto: Valery HACHE / AFP

A França abriu uma investigação contra 76 mesquitas suspeitas de fomentar o extremismo e o que governo chama de "separatismo islâmico". A operação foi chamada pelo ministro do Interior, Gérald Darmanin, como "sem precedentes" e, segundo ele, tem como objetivo combater a ameaça crescente do terrorismo religioso no país.

"Seguindo minhas instruções, os serviços estatais vão lançar uma ação massiva e sem precedentes contra o separatismo islâmico", anunciou no Twitter. Darmanin é encarregado da operação.

O risco de ataques do tipo ficou evidenciado após a decapitação do professor Samuel Paty, em outubro, nos arredores de Paris, por um jovem de origem chechena, depois de ter mostrado caricaturas do profeta Maomé durante uma aula, algo que é considerado idolotria pelos muçulmanos.

Poucas semanas depois, um jovem recém-chegado da Tunísia esfaqueou e matou três pessoas dentro da basílica de Nice - entre as vítimas, uma brasileira.

Darmanin disse que as 76 mesquitas, que estão entre os mais de 2,6 mil locais de culto muçulmanos na França, foram sinalizadas como possíveis ameaças aos valores republicanos do país e sua segurança. Segundo o ministro, os templos serão fechados caso as suspeitas forem confirmadas. "Há em algumas áreas concentradas locais de culto que são claramente antirrepublicanos", disse Darmanin à rádio RTL.

O governo investigará o financiamento das mesquitas e os antecedentes de imãs (título muçulmano que designa o sacerdote encarregado de dirigir as preces na mesquita) considerados suspeitos e procurará evidências, entre outras coisas, de escolas corânicas, de estudos islâmicos, para crianças pequenas.

Darmanin não revelou quais locais de culto seriam inspecionados, mas em uma nota que enviou às autoridades regionais, a qual a AFP teve acesso, listou 16 endereços na região de Paris e outros 60 no resto do país. O ministro também disse à RTL que o fato de apenas uma fração dos cerca de 2,6 mil locais de culto muçulmanos na França serem suspeitos de promulgar teorias radicais mostra "que estamos longe de uma situação de radicalização generalizada".

A operação acontece no momento em que Darmanin tenta evitar críticas ferozes a casos de brutalidade policial capturados por câmeras, que forçaram o governo a revisar o projeto de lei que restringe a divulgação de imagens de policiais em ação.

O presidente francês, Emmanuel Macron, que vem adotando uma narrativa rígida contra o jihadismo, vem falando de uma crescente ameaça do "separatismo islâmico" e seu desafio à unidade da república francesa secular. Segundo Macron, os principais valores franceses, como a liberdade de crença, igualdade de gênero e o direito de blasfemar estão ameaçados em determinadas comunidades.

"Diante desse mal que está consumindo nosso país, a França se recuperou com resiliência, com determinação", escreveu o presidente em uma carta ao jornal Financial Times em novembro.

A repressão do governo, no entanto, deixou alguns muçulmanos se sentindo cada vez mais segregados em seu próprio país. Líderes muçulmanos, apesar de terem declarado apoio à luta do governo contra o extremismo, alertaram para que a ação não confunda uma esmagadora maioria de fiéis com "fomentadores do ódio".

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