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Técnicos inspecionaram tanques de água em setembro | Kyodo/Reuters
Técnicos inspecionaram tanques de água em setembro| Foto: Kyodo/Reuters

Investimentos

Vazamentos de água contaminada desafiam operadora e governo

Além da remoção do combustível, a água contaminada é outro problema para a Tepco, operadora da usina de Fukushima. Nos últimos meses, o governo japonês foi obrigado a intervir após reconhecer que, diariamente, são despejadas no mar em torno de 300 toneladas de água usada para resfriar os reatores.

No início de setembro deste ano, o governo anunciou investimentos da ordem de US$ 475 milhões (cerca de R$ 1 bilhão) para tentar conter os vazamentos e resolver o problema da água radioativa. Os recursos serão usados, entre outras ações, na construção de uma barreira para bloquear a água subterrânea e evitar que ela vaze para o Oceano Pacífico, e na instalação de meios suplementares para descontaminação da água armazenada.

Transbordamento

Há duas semanas, as fortes chuvas que atingiram o Japão provocaram o transbordamento de água contaminada em vários pontos ao redor dos tanques de armazenamento de líquido radioativo.

Ao todo, são 400 mil toneladas de água contaminada que se encontram sob a terra, ou armazenada em tanques especiais. Esse volume aumenta em 400 toneladas diariamente, porém, uma parte acaba vazando para o mar.

Histórico

Relembre os principais acontecimentos na usina de Fukushima:

12 de março de 2011

Um terremoto seguido de tsunami atinge a usina nuclear de Fukushima e provoca uma explosão. A região é evacuada em um raio de dez quilômetros.

11 de abril de 2011

Após ser classificado como de nível 6, o acidente passa para nível 7, o mesmo de Chernobyl, ocorrido na Ucrânia em 1986.

16 de abril de 2011

A Tepco, operadora da usina, anuncia um cronograma de atividades que prevê o controle e desligamento dos reatores em um prazo de até nove meses.

17 de maio de 2011

Um novo cronograma é anunciado, prevendo a retirada do combustível radioativo do reator 4 em 2013 e a desativação total da usina em 40 anos.

9 de abril de 2013

Um vazamento de água radioativa contamina o solo e a água das proximidades da usina. A Tepco garante que o vazamento foi pequeno e rapidamente controlado.

21 de agosto de 2013

O governo eleva o nível de alerta do vazamento para o número 3, considerando-o como "um incidente sério".

2 de setembro de 2013

O governo japonês anuncia investimentos de US$ 475 milhões para conter os vazamentos. Entre as medidas relacionadas está a construção de uma barreira para conter a água contaminada.

8 de novembro de 2013

É para quando está previsto o início da retirada das varetas de combustível radioativo do reator 4, procedimento que deve durar até um ano.

  • Vista dos reatores em março: à direita o número 4, mais danificado após o terremoto

Quase 32 meses se passaram desde que um terremoto seguido de tsunami atingiu o Japão e provocou um dos maiores desastres nucleares da história. O que pode parecer muito tempo é uma parcela ínfima do prazo de 40 anos estipulado para recuperação dos estragos na usina nuclear de Fukushima. Tanto que somente agora, no início de novembro, será iniciada uma etapa crucial desse processo. A retirada de combustível radioativo de um dos reatores é uma operação das mais delicadas e divide os cientistas. Enquanto alguns indicam a possibilidade de um desastre de proporções globais, outros não veem motivo para alarde.

INFOGRÁFICO: Entenda os riscos da operação

A Tepco, empresa que opera a usina de Fukushima, estabeleceu em seu cronograma que pode começar na próxima sexta-feira a retirada de 1,5 mil varetas de combustível do reator 4, único que não estava em funcionamento. São 1,3 mil recipientes usados e 200 novos armazenados em uma piscina. A operação envolve riscos, visto que, caso as varetas se toquem ou deixem de ser resfriadas, pode haver uma explosão e um grande volume de radiação se espalhar. Os riscos aumentam pela condição em que se encontra o prédio do reator, avariado pelo terremoto.

Em artigo publicado no jornal The Huffington Post, o professor Charles Perrow, da Universidade de Yale, nos Estados Unidos, alerta que uma falha na remoção das varetas pode causar "uma reação nuclear incontrolável". Se não forem mantidas permanentemente resfriadas e separadas, elas liberariam grande quantidade de radiação e impediriam o resfriamento de outras 6,3 mil varetas dos outros reatores. "Isso causaria uma fissão e toda a humanidade seria ameaçada por milhares de anos", afirma. Na mesma linha, sites e blogs falam em consequências "apocalípticas" caso a operação dê errado.

Para Luís Antônio Albiac Ter­­remoto, pesquisador do Instituto de Pesquisas E­­nergéticas e Nucleares (Ipen), a possibilidade de um grande desastre nuclear não passa de alarmismo. De acordo com Terremoto (o sobrenome é uma coincidência para um especialista que fala sobre Fukushima), um estudo do laboratório Oak Ridge, nos EUA, apontou que a piscina do reator 4 está em boas condições. "As imagens do local mostram que a condição geral é boa. Por isso, a remoção seguirá um processo padrão e não deve apresentar maiores riscos", garante.

Já o professor Joaquim Francisco de Carvalho, do Instituto de Energia e Ambiente da Universidade de São Paulo, vê o procedimento com mais cautela. "Há muitos riscos, mas o mais grave é o de que diversas barras de combustível se juntem num espaço reduzido. Se isso acontecer, produtos de fissão poderão acumular-se em massa crítica, provocando uma explosão que espalhará elementos altamente radioativos", adverte.

Desativação do complexo vai levar 40 anos

A retirada das varetas de combustível do reator 4 é apenas o início de um processo que deve se estender por décadas, conforme o cronograma definido pela Tepco e pelo governo japonês para desativação completa do complexo nuclear de Fukushima. De acordo com o calendário, a desmontagem total da usina, juntamente com a descontaminação do solo e dos materiais, está programada para meados de 2051, 40 anos depois do acidente.

A remoção das varetas de combustível do reator 4 deve durar em torno de um ano, visto que a previsão para sua conclusão é no final de 2014. Ainda assim, alguns técnicos acreditam que, se as condições forem favoráveis, é possível efetuar os trabalhos em um prazo menor.

"É um procedimento que exige cuidados especiais, já que envolve material altamente radioativo. Ele deverá ser colocado em contêineres blindados, para evitar que a radiação escape. Posteriormente, esses contêineres ficarão confinados", explica Luis Antônio Albiac Terremoto, pesquisador do Ipen.

Reatores

Outra etapa delicada está agendada para 2021, dez anos depois do acidente: a remoção do combustível nuclear nos reatores 1, 2 e 3. "É um desafio porque esses reatores estavam em funcionamento e há material derretido", observa Albiac.

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