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Crianças e voluntários participam do acampamento de uma semana. O evento é conduzido pela Life and Change Experienced Thru Sports (LACES), um grupo sem fins lucrativos que ajuda comunidades locais de refugiados | Carolyn Van Houten/The Washington Post
Crianças e voluntários participam do acampamento de uma semana. O evento é conduzido pela Life and Change Experienced Thru Sports (LACES), um grupo sem fins lucrativos que ajuda comunidades locais de refugiados| Foto: Carolyn Van Houten/The Washington Post

Um grupo de crianças suadas corria em um campo de futebol na semana passada em Landover, Maryland. Entre passes e risos, eles conversavam em inglês, mas também em pachto (do Afeganistão), árabe e outros idiomas. 

Todas elas são refugiadas – pessoas que tiveram que deixar seus países para escapar do perigo, como a guerra ou um desastre natural. Estavam jogando como parte de uma das atividades de um acampamento que lhes dá a chance de melhorar suas habilidades no futebol e conhecer outras crianças que tiveram que recomeçar suas vidas nos Estados Unidos.

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O acampamento de uma semana tem outros objetivos além do futebol: também ajuda as crianças a aprenderem lições que podem guiá-las fora do campo, como o respeito, controle da raiva e valorização das outras pessoas. 

O espaço é administrado por uma organização sem fins lucrativos chamada LACES, que significa Life and Change Experienced Thru Sports (Vida e Mudança através dos Esportes). O grupo usa o futebol para ajudar a reunir comunidades que passaram por dificuldades. 

Seren Fryatt, de 38 anos, teve a ideia para a LACES enquanto jogava em um time de futebol feminino na Libéria, um país africano que esteve em guerra civil por 14 anos. Fryatt, que é de Muncie, Indiana, viu que o futebol trouxe alegria para as mulheres liberianas em sua equipe, apesar de suas vidas fora do campo serem muito difíceis. Depois de iniciar um programa de futebol para crianças na Libéria, ela decidiu começar um acampamento semelhante em Maryland, para onde se mudou em 2015. Os treinadores oferecem seu tempo e os custos são pagos principalmente por meio de doações. Este ano, 95 crianças se inscreveram. 

Quriesh Ahmad, de 10 anos, do Afeganistão, no acampamento de futebol para crianças refugiadas em Landover, MarylandCarolyn Van Houten/The Washington Post

O acampamento, que se destina à faixa etária de 9 a 14 anos, é dividido entre treinos que ajudam as crianças a melhorar habilidades como passes e chutes, e sessões onde discutem estratégias para a vida. Uma das treinadoras, Louisa Pitney, disse que gosta de ver as crianças crescerem apenas por estarem convivendo juntas. 

"É legal vê-los interagir e aprender coisas uns com os outros", disse Pitney. 

Dois primos, Quriesh Ahmad e Monir Rasooli, participaram do acampamento LACES. Ambos têm 10 anos de idade. Quriesh foi para os Estados Unidos do Afeganistão há quatro anos; Monir chegou um ano depois. Eles disseram que ainda se lembram de todas as bombas que explodiram e como as pessoas não tinham eletricidade e estavam sempre assustadas.  

"Há muita gente lutando no Afeganistão", disse Monir. "Mas quando eu venho aqui, estou seguro". 

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Nenhum deles havia jogado futebol antes de ir morar Maryland, mas a atividade se tornou a parte maior de suas vidas americanas. Quriesh aprendeu suas melhores jogadas assistindo a vídeos do astro de futebol brasileiro Neymar Jr. no YouTube. Então, sabendo que a prática é o caminho para melhorar, ele repete os truques várias vezes. Os meninos amaram o acampamento porque era uma chance de praticar futebol e brincar com crianças como eles. 

"Quando eu cresci, queria fazer casas, mas agora quero ser jogador de futebol", disse Quriesh.  

Lara Karagholi, de 10 anos, costumava jogar futebol com os amigos em um parque em seu país natal, o Iraque. Quando se mudou para os Estados Unidos há quatro anos, ela conta que não falava inglês e sofreu bullying na escola. Agora o inglês dela é excelente, ela ama a escola e tem muitos amigos lá. No acampamento, conheceu ainda mais pessoas.  

"Eu gosto que nós joguemos juntos e façamos novos amigos, especialmente quando jogamos um verdadeiro jogo de futebol", disse Lara. 

Lara Karagholi, 10, é do IraqueCarolyn Van Houten/The Washington Post

No final do último dia do acampamento, todas as crianças se reuniram no meio do campo. Fryatt pediu-lhes que levantassem as mãos e dissessem o que haviam aprendido naquela semana. Algumas crianças falaram sobre habilidades no futebol – uma garota disse que aprendeu a não usar as mãos, um garoto disse que aprendeu a chutar. 

Quando um treinador chamou uma garota tímida, ela sorriu antes de responder em voz baixa.  

"Comemorar pelo outro", disse ela.

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