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General Carlos Rotondaro, ex-chavista
General Carlos Rotondaro era presidente do Instituto Venezuelano do Seguro Social e por alguns meses foi ministro da Saúde| Foto:

Ao declarar apoio ao presidente interino da Venezuela e líder da oposição, Juan Guaidó, o general Carlos Rotondaro, que já foi presidente do Instituto Venezuelano do Seguro Social (IVSS) e ministro da Saúde, confirmou que, nos hospitais do país, era comum usar medicamentos como moeda de troca de votos. A informação havia sido revelada em uma reportagem do New York Times, publicada no domingo (17), em que médicos cubanos acusam o regime chavista de chantagear pacientes para votar no oficialismo em troca de tratamentos.

Exilado na Colômbia há duas semanas e general ativo do exército venezuelano, Rotondaro deu uma entrevista ao canal NTN24 nesta segunda-feira (18), contando que, na época em que chefiava o IVSS, os ministros chavistas usavam medicamentos para fins corruptos e não permitiam que chegassem aos venezuelanos. Citando ordens do ex-ministro da Saúde, Luis López, ele assegurou que lhe pediam que guardasse remédios para que fossem distribuídos na época das eleições.

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"Eu testemunhei que muitas vezes eles disseram que os medicamentos não eram distribuídos, mas mantidos para as eleições. Naquela época, ele era ministro da Saúde, Luis López, e eu o ouvi dizer isso", disse durante a entrevista.

Ele também contou que havia atrasos propositais no trâmite de aprovação dos orçamentos para a compra de medicamentos de alto custo e para tratamentos crônicos, como a insulina. O objetivo supostamente era forçar compras de emergência com outros fornecedores. "Não era um problema de divisas, mas indolência", disse ao explicar que o IVSS não tinha o poder de comprar diretamente medicamentos em moeda estrangeira.

O posicionamento do ex-general e o momento em que ele veio à publico falar sobre o assunto, porém, colocam em dúvida suas intenções e afirmações.

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Depois de dez anos ocupando cargos no regime, inclusive de ministro da Saúde em 2009, Rotondaro foi demitido em 2017 da presidência do IVSS. Pesam sobre ele acusações e denúncias sobre a falta de distribuição de medicamentos de alto custo para quimioterapia, imunossupressores e outros medicamentos para doenças crônicas. Em 2018, o deputado da Assembleia Nacional Winston Flores o acusou de ter desviado US$ 100 milhões do instituto usando empresas prestadoras de serviço que pertenciam a um laranja. Ele também foi sancionado pelos Estados Unidos, que congelou seus ativos no país.

Na Venezuela, muitos o consideram responsável pelo colapso dos serviços do IVSS, mas durante a entrevista ao NTN24, Rotondaro insistiu que desde 2014 esteve trabalhando para conseguir os recursos necessários para a pasta que administrava, eximido-se de culpa.

O diretor da ONG Codevida, Francisco Valencia, criticou a entrevista e disse que Rotondaro tem responsabilidade quanto à falta de medicamentos para pessoas com doenças crônicas durante o período que esteve à frente do IVSS.

"É hora de assumir responsabilidade, General Rotondaro, nesta situação. Você, como representante do IVSS naquela época, se soubesse que estava bloqueando a venda de remédios e suprimentos para pessoas com condições crônicas de saúde, o que você tinha que fazer como presidente era denunciar”, criticou.

Sistema de manipulação política na saúde

A entrevista de Rotondaro ecoa relatos de médicos cubanos que trabalharam na Venezuela recentemente. Um deles, chamado Yansnier Arias, lembrou à reportagem do New York Times que na época em que Maduro buscava a reeleição, no início de 2018, seus superiores cubanos e venezuelanos pediram a ele que usasse os tanques de oxigênio como arma política: "não para emergências médicas, mas para ser usado mais perto da eleição, como parte de uma estratégia nacional para obrigar os pacientes a votar no governo", como escreveu o jornalista Nicholas Casey.

Além de Arias, outros 15 médicos cubanos conversaram com o New York Times e descreveram um sistema de manipulação política deliberada dos insumos públicos nos hospitais. As táticas iam desde pequenas menções para votar no governo até negar tratamento para pacientes da oposição que tinham doenças graves. Os 16 entrevistados alegaram que fizeram visitas domiciliares a pacientes misturando política e medicina – uma contou que ela e outros médicos cubanos receberam cartões de identificação falsificados para votar em uma eleição.

O esquema revelado pelos médicos cubanos na saúde era complementar a outra ferramenta de repressão do regime chavista: o "Carnê da Pátria". Este documento de identidade, usado por cerca de 70% dos cidadãos venezuelanos para acessar serviços sociais do governo e diversos outros benefícios, proporcionou ao regime um meio eficaz de controlar a população mais carente e de garantir sua obediência. Em um comício antes das eleições de maio de 2018, Maduro chegou a dizer que "todos os que têm o carnê da pátria precisam votar, é dando que se recebe".

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