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O ator americano George Clooney e o Nobel da Paz Elie Wiesel advertiram na quinta-feira o Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU) que o mundo será responsável por outra Ruanda se não contiver as atrocidades na região sudanesa de Darfur.

- De muitas formas isso é injusto, não obstante, a verdade é que este genocídio será sua responsabilidade. Como lidar com isso será o seu legado. Sua Ruanda, seu Camboja, seu Auschwitz - disse Clooney.

Para alegria dos cinegrafistas, o embaixador dos Estados Unidos na ONU, John Bolton, convidou celebridades para uma sessão do Conselho para chamar a atenção para a catástrofe em Darfur - a ONU se sente frustrada com a recusa do governo sudanês em permitir a presença das tropas internacionais que poderiam proteger os civis naquela região.

O conflito em Darfur começou em fevereiro de 2003, quando agricultores pegaram em armas para exigir mais atenção do governo, que por sua vez mobilizou milícias árabes, acusadas de cometerem homicídios, estupros e saques.

A violência, as doenças e a fome mataram cerca de 200 mil pessoas e empurraram cerca de 2,5 milhões para miseráveis campos de refugiados.

O Sudão está enviando tropas à região para combater os rebeldes, que não assinaram o precário acordo de paz de maio. A União Africana tem cerca de 7 mil soldados em Darfur, com um mandato até 30 de setembro. Essa força carece de pessoal, dinheiro e equipamentos.

- Depois de 30 de setembro, vocês não vão mais precisar da ONU. Vão precisar apenas de homens com pás, lençóis brancos e lápides - disse Clooney.

Wiesel, sobrevivente do Holocausto e Nobel da Paz em 1986, alertou que "a passividade ajuda o opressor, não o oprimido", e pediu ao Conselho que se lembre do genocídio de 1994 em Ruanda.

- Eu me lembro. Entre 600 mil e 800 mil seres humanos assassinados. Sabíamos na época como sabemos agora que eles poderiam ter sido salvos, mas não o foram - afirmou.

Tanto na audiência quanto em uma entrevista anterior à Reuters, Wiesel pediu que haja uma intervenção em prol dos refugiados, independentemente da autorização ou não do governo sudanês.

Wiesel foi cauteloso em usar a palavra genocídio, ao contrário de Clooney, que visitou Darfur em abril.

- Os Estados Unidos chamaram de genocídio. Para vocês, é chamado de limpeza étnica. Mas não se enganem: é o primeiro genocídio do século XXI. E se continuar livremente não será o último - disse o ator.

O Catar, único país árabe atualmente no Conselho, criticou Clooney e outros ativistas pelo diagnóstico que fazem do Sudão e por culparem o governo, e não os rebeldes.

- Precisamos procurar um excelente médico, e não um extraordinário ator, para que o médico possa receitar o tratamento apropriado - disse o embaixador do Catar na ONU, Nassir Abdulazi al-Nasser.

Segundo ele, Clooney e Wiesel, militantes de causas esquerdistas, se curvaram ao governo conservador de George W. Bush, que na opinião do diplomata explora politicamente o conflito de Darfur.

O representante de Gana, Albert Francis Yankey, reagiu, dizendo que as vítimas mereciam proteção, e não o governo sudanês. Ele questionou também o motivo de Cartum aceitar tropas da ONU no sul do país, onde houve outro grave conflito, mas não em Darfur.

Yankey, como Wiesel, disse que a União Africana chegou há muito tempo à conclusão de que a intervenção seria necessária para impedir ações abusivas do governo, e que isso deveria acontecer com ou sem o consentimento de Cartum.

Questionado mais tarde sobre o envolvimento de atores na política, Clooney disse que Hollywood sempre se preocupou em chamar a atenção para determinadas questões.

- Somos bastante bons em fazer as câmeras aparecerem, então a gente tenta se informar sobre algumas questões que a gente levanta.

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