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Matt Mochizuki e Liz Brent adiaram compra da casa e alugaram apartamento em São Francisco | Lianne Milton/The New York Times
Matt Mochizuki e Liz Brent adiaram compra da casa e alugaram apartamento em São Francisco| Foto: Lianne Milton/The New York Times

Declínio

Grandes cidades atraem mais moradores que os subúrbios

Ao lado do boom dos aluguéis, um outro efeito surpreendente da crise na maneira de os americanos morarem e é o declínio dos subúrbios, a âncora do estilo de vida nos EUA. Em 2011, pela primeira vez em décadas, as grandes cidades americanas cresceram mais que os subúrbios. As cidades, que vinham crescendo a um ritmo anual médio de 0,4% ao longo da década de 2000, tiveram aumento populacional de 1,1% entre julho de 2010 e junho de 2011, ultrapassando o índice dos subúrbios, que foi de 0,9%.

"Os negros e os pobres moravam, em uma medida desproporcional ao seu peso na população, no centro da cidade, que era mais barato, mas isso está mudando. Há um movimento de retorno às cidades, liderado por Nova York", diz o historiador Kenneth Jackson.

Ele cita a queda na criminalidade nas cidades, o endividamento dos jovens e o adiamento do casamento como fatores sociais e demográficos que ajudam a explicar tanto o declínio na propriedade como o incipiente esvaziamento dos subúrbios.

Jackson lembra que os incentivos fiscais dados pelo governo federal, que permite o abatimento dos juros da hipoteca na declaração do Imposto de Renda, sempre foram um motor da suburbanização.

Um dos indicadores de como será difícil reverter a tendência à vida nos subúrbios está no Censo de 2010: 76,6% dos americanos vão de carro para o trabalho sozinhos. O transporte coletivo é a escolha de apenas 4,9%.

"Acho que viver de aluguel não será mais estigmatizado nas próximas gerações."

Katherine Newman, socióloga, professora da Universidade Johns Hopkins.

Ela já foi chamada de geração bumerangue, por voltar para a casa dos pais depois de adulta, e de geração limbo, por viver à espera de que a crise passe para conseguir um emprego, uma casa, uma vida. Nos últimos tempos, sociólogos rebatizaram a juventude dos Estados Unidos de "geração aluguel": carregando nas costas dívidas contraídas para pagar a universidade e entrando no mercado quando o crédito imobiliário está restrito, eles estão adiando indefinidamente a compra da casa própria, que sempre foi considerada parte essencial do sonho americano.

"Historicamente, sempre foi mais fácil comprar uma casa nos EUA, em com­­paração­­ com a Europa. A­­ terra sempre foi mais bara­­ta, os transportes sempre foram mais baratos (seja o trans­­porte público, no século 19, ou a gaso­­lina para os­­ carros), a forma de construir dos americano, usando madeira, é menos dispendiosa", diz o historiador Kenneth Jackson, considerado uma autoridade no processo de urbanização dos EUA, professor da Universidade Co­­lumbia, em Nova York.

O bairro de Williamsburg, atual enclave de descolados no Brooklyn, a apenas uma estação de metrô do Lower East Side de Manhattan, é um bom exemplo do fenômeno da geração aluguel. Na década passada, no auge da bolha de especulação imobiliária, centenas de apartamentos brotaram na antiga zona industrial com a premissa de que tudo seria vendido rapidamente. Com o estouro da bolha, os prédios foram convertidos em rental buildings — edifícios exclusivos para aluguel, ocupados geralmente por jovens entre 20 e 35 anos. Nos EUA, 9,9% das casas pertencem a pessoas com idades entre 25 e 34 anos, enquanto 25,6% das residências alugadas têm inquilinos nessa faixa etária.

A corretora Michele Witty, da imobiliária Williamsburg Realty, radicada há 15 anos no bairro, diz que, na contramão do desaquecido mercado de compra e venda de imóveis, os preços dos aluguéis dispararam. Um apartamento de quarto e sala, que­­ custava US$ 1.100 por mês­­ em média, hoje se aluga por­­ uma faixa de US$ 1.800 a US$ 2.800 mensais. Já o valor médio das residências nos EUA caiu de US$ 292,6 mil em 2008 para US$ 267,9 mil em 2011, e os juros estão baixos. Mas, como as regras para a concessão de um financiamento imobiliário endureceram, com a exigência de um sinal de ao menos 20% e de comprovação de histórico positivo de crédito, a saída para muitos é alugar.

Mudança

Segundo a socióloga Ka­­the­­rine Newman, professora da­­ Universidade Johns Hop­­kins­­ e autora do livro The ac­­­­cor­­­­­­dion family, que analisa o­­ fenômeno da volta dos fi­­lhos­­­­ adul­­tos para a casa dos pais,­­ a­­ tendência de morar­­ de alu­­guel­­ deve ser duradou­­ra, pro­­vocando uma mudan­­ça im­­por­­tante em uma­­ sociedade­­ onde o índice médio de­­ pro­­prie­­tários ficou acima­­ de 60% nos­­ últimos 50 anos, e­­ onde quem­­ vivia em casa­­ alugada­­ era considerado um perdedor.

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