Vista do alto, a capital de Honduras, Tegucigalpa, onde vivem 2 milhões de habitantes, não tem muitos edifícios e nem parece ser uma megalópole. Com uma área de 112 mil quilômetros quadrados - um pouco maior do que Santa Catarina -, Honduras tem hoje a terceira renda mais baixa da América Central. Com 70% da economia voltada para as exportações de banana e café para os Estados Unidos, o cenário econômico é preocupante desde que o país sofreu um golpe de Estado há três meses, com a deposição do presidente Manuel Zelaya por um grupo liderado por Roberto Micheletti, com apoio das Forças Armadas hondurenhas.

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Os hondurenhos contam que as sanções econômicas impostas pela comunidade internacional por causa do golpe forçaram muitos empresários a fechar as portas. Dezenas de lojas em Tegucigalpa estão pichadas com palavras de protesto, a maioria contra o golpe. Em uma delas, está inscrito: "Somos atores do nosso destino, não espectadores."

Com a economia em retração, os salários caíram em Honduras. O taxista Dimas Oliva relata que, antes do golpe de Estado, pagava-se US$ 15 por um dia de trabalho. Hoje, são dez. "Com esse salário tão baixo, praticamente pagamos para trabalhar. E o pior é que os turistas sumiram. O movimento caiu pela metade e as companhias aéreas cancelaram quatro voos diários para Tegucigalpa. Meu carro fica parado quase o dia inteiro", comenta Oliva.

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A assistente social Belkis Videa diz que a instabilidade política em que vive o país trouxe mais desemprego. "A população em geral está preocupada com o futuro, em especial o das crianças. Não me importa quem vai governar o país. O que queremos é que as coisas encontrem seu rumo com segurança."

Para a enfermeira Maria Ondina Valladares, o golpe também trouxe restrições à liberdade de caminhar pelas ruas de Tegucigalpa. Ela conta que, há duas semanas, foi suspenso o toque de recolher imposto pelo governo golpista, que vigorou das 6h às 18h. "Com esse toque de recolher, que durou o dia inteiro, as pessoas simplesmente não podiam ir para o trabalho. Felizmente, ele não está mais valendo, mas isso não significa que não tenhamos que estar em alerta. Ao contrário. Precisamos ter cautela diante dessa situação que não é nada boa", afirma Valladares.

Com eleições previstas para o fim de novembro, a campanha política já está nas ruas da capital hondurenha, em painéis ou pela televisão. Diferentemente do Brasil, não há horário eleitoral em Honduras. Os candidatos podem veicular propaganda política na televisão, mas têm que pagar por isso.

A campanha, entretanto, ainda está morna. Os hondurenhos consideram que ela ainda não faz parte da realidade do país. Eles estão muito mais preocupados em saber quem vai ditar os rumos para o futuro: o golpista Roberto Micheletti ou o presidente deposto Manuel Zelaya.

As negociações para o fim da crise política serão retomadas amanhã (18). Sem progresso nas tratativas, os dois lados não chegam a um acordo sobre a volta de Manuel Zelaya à Presidência. O golpista Roberto Micheletti quer que a Suprema Corte – o Judiciário hondurenho foi parte ativa no golpe de Estado - decida a questão. Já Manuel Zelaya defende que o Congresso dê o aval para que ele possa voltar ao poder.

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Enquanto permanece a indefinição, os hondurenhos rogam para que, do alto de Tegucigalpa, uma estátua gigante, o Cristo de Picacho, similar ao do Rio de Janeiro, traga dias melhores para Honduras.

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