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O órgão britânico que regula as pesquisas embriológicas anunciou nesta quarta-feira ter autorizado a criação de embriões híbridos, que combinam DNA de animais e de seres humanos, destinados a estudos com fins terapêuticos. A autorização para as pesquisas só será concedida pela Autoridade para Fecundação e Embriologia Humanas (HFEA, na sigla em inglês) sob critérios rigorosos. Segundo cientistas, a polêmica medida - discutida há quase um ano - pode ajudar a desenvolver tratamentos para doenças neurodegenerativas, como Alzheimer e o mal de Parkinson.

Para trabalhar com as chamadas quimeras, os pesquisadores terão que apresentar uma solicitação à HFEA, que permitirá apenas a utilização de um método específico, pelo qual os embriões híbridos terão 99,9% de DNA humano e apenas 0,1% de origem animal. Para chegar a eles, cientistas usam óvulos de coelhas ou vacas, dos quais se retira praticamente toda a informação genética. Neles são implantados núcleos de células com DNA humano. Dos embriões resultantes são extraídas células-tronco, que podem ser usadas para, posteriormente, formar diferentes tipos de tecido humano.

Duas universidades britânicas já haviam feito solicitações para pesquisas. Os pedidos da Kings College de Londres e da Universidade de Newcastle, no Norte da Inglaterra, estão em discussão há quase um ano. Agora, depois da realização de consultas públicas, eles serão avaliados por um comitê da HFEA.

As quimeras são vantajosas porque são fáceis de conseguir, já a obtenção de óvulos animais é muito mais simples do que a dos humanos. Os embriões quiméricos são considerados incompatíveis com a vida e, segundo cientistas, não se desenvolveriam mesmo se fossem implantados num útero. Eles são úteis, porém, para estudar as primeiras etapas de desenvolvimento embrionário.

Investigações

Britânicos estão entre os que mais se destacam nas investigações com células-tronco, o que atrai os cientistas de todo mundo por oferecer condições favoráveis para estudos com embriões. Em dezembro de 2006, no entanto, o governo havia proposto a proibição da criação de embriões híbridos, argumentando que seria "um considerável mal-estar público".

A pressão de cientistas e de grupos de pacientes fez com que os ministros voltassem atrás. Em maio, ministros britânicos deram sinal verde para a aprovação de pesquisas deste tipo, que agora terão um comitê específico para conceder a licenças.

A Grã-Bretanha, na prática, se tornou o primeiro país a propor normas específicas para esse tipo de estudo. Para impedir abusos éticos, as regras são rigorosas e os pesquisadores precisarão enfrentar prazos longos por uma licença para trabalhar com esse tipo de embrião.

Quimeras têm 61% de aprovação na Grã-Bretanha

Em defesa das quimeras, cientistas e políticos argumentam que elas ajudariam a suprir a carência de óvulos humanos usados em estudos. Atualmente, pesquisadores dependem destes óvulos, descartados após a realização de tratamentos de fertilização, mas seu estoque está acabando.

Os especialistas também alegam que qualquer imposição de uma proibição levaria outros países, como China e Canadá, a superaram as pesquisas britânicas. Pesquisadores chineses, americanos e canadenses já conduziram trabalhos similares, os quais empregaram a mesma técnica que foi usada para criar a ovelha Dolly, o primeiro mamífero clonado no mundo. Ian Wilmut, chefe da equipe responsável pela Dolly, esperava decisão favorável para que pudesse estudar agora a doença do neurônio motor, ao lado de Chris Shaw, do Instituto de Psiquiatria de Londres.

Os que se opõem a estas pesquisas afirmam, no entanto, que a produção de embriões híbridos obscurece a distinção que existiria entre o homem o animal. Muitos também criticam a destruição da vida humana que seria praticada ao destruir as quimeras depois de extrair delas as células-tronco.

Nos Estados Unidos, o presidente George W. Bush vetou uma lei propondo o aumento das verbas federais para as pesquisas com células-tronco embrionárias, argumentando que as pessoas que pagam impostos e rejeitam essas experiências não deveriam ter que pagar por elas. Na Grã-Bretanha, pesquisa com mais de 2 mil pessoas mostrou que 61% estão a favor dos embriões híbridos, contra 25% que não apóiam sua criação, com destaque para grupos religiosos.

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