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Policiais durante o funeral do líder do Grupo Wagner, Yevgeny Prigozhin, nesta terça-feira (29) em São Petersburgo
Policiais durante o funeral do líder do Grupo Wagner, Yevgeny Prigozhin, nesta terça-feira (29) em São Petersburgo| Foto: EFE/EPA/ANATOLY MALTSEV

A morte do líder do grupo mercenário Wagner, Yevgeny Prigozhin, em uma queda de avião na região russa de Tver na última quarta-feira (23) – incidente que o presidente americano, Joe Biden, e o ucraniano, Volodymyr Zelensky, sugeriram que foi uma vingança de Vladimir Putin –, despertou instantaneamente a pergunta: qual será o futuro do grupo paramilitar?

No avião, também estava o número 2 do Wagner, Dmitry Utkin, o que coloca em dúvida os próximos passos do grupo, que já havia deixado de ajudar as forças russas na guerra da Ucrânia após o motim malsucedido de 24 de junho.

Com a crença geral de que a queda do avião foi uma resposta de Putin à rebelião, uma hipótese é um novo motim. O jornal britânico The Sun publicou declarações de integrantes do Grupo Wagner que disseram que organizariam “uma segunda Marcha da Justiça em Moscou”.

Entretanto, especialistas duvidam dessa possibilidade – em parte porque, com a morte de suas lideranças, o Wagner ficou acéfalo, mas também pelo receio de uma resposta agressiva do Kremlin.

“Putin enviou uma mensagem clara a outros potenciais rivais de que continua firmemente no controle e que a consequência da traição é a morte”, afirmou o coronel americano reformado John B. Barranco, em artigo para o think tank Atlantic Council.

Na Europa, mesmo com o grupo não mais ajudando a Rússia na guerra da Ucrânia, o Wagner ainda provoca medo. Polônia, Estônia, Letônia e Lituânia exigiram nesta segunda-feira (28) que Belarus expulse os mercenários do seu território.

A declaração veio após o ditador de Belarus, Alexander Lukashenko, afirmar que o Grupo Wagner vai continuar no seu país, para onde integrantes do grupo paramilitar se deslocaram após o motim fracassado de junho.

Lukashenko deu essa declaração depois de a Radio Free Europe, uma agência de notícias financiada pelo governo americano, ter revelado imagens de satélite que mostravam um acampamento do Grupo Wagner sendo desmantelado no país.

Putin indicou que ainda tem interesse nos serviços do grupo mercenário, ao assinar um decreto exigindo que os membros de milícias como o Wagner jurem fidelidade à bandeira nacional. Ao fim do motim de junho, ele havia dado aos mercenários três opções: ingressar nas tropas russas regulares, ir para Belarus ou se desmobilizar.

Em entrevista à Gazeta do Povo, o analista militar e coronel da reserva Paulo Roberto da Silva Gomes Filho afirmou que, após a morte de Prigozhin, o Grupo Wagner deve diminuir “consideravelmente” de tamanho e seus integrantes terão que escolher entre três caminhos.

O primeiro seria aceitar a proposta do Ministério da Defesa da Rússia, assinando contratos e passando a integrar as forças armadas do país; o segundo seria serem recrutados por outras empresas militares privadas russas ou mesmo por agências de inteligência ou de segurança da Rússia; ou permanecer no grupo.

Gomes Filho minimizou a possibilidade de um levante representativo do Wagner contra o presidente russo. “Não creio que o grupo, como um todo organizado, vá se insurgir contra Putin. Entretanto, não descarto que elementos isolados, insatisfeitos com os rumos da guerra, ou com o tratamento dispensado pelo governo aos veteranos do grupo, ou às famílias dos mortos em combate, possam tentar uma ação de caráter individual”, afirmou.

O analista militar também não acredita que o Wagner possa voltar à Ucrânia, de onde se retirou após a rebelião de junho.

“Não acredito que grupos privados voltem a receber áreas de atuação na frente de combate, como aconteceu com o Grupo Wagner em Bakhmut”, disse Gomes Filho. “A possível exceção são os chechenos, liderados por [Ramzan] Kadyrov, que juraram lealdade a Putin e possuem características próprias. Quanto à ascensão de uma nova liderança, creio que o governo russo colocará um novo líder no grupo Wagner que seja de absoluta confiança do Putin.”

África, presente e futuro

Poucos dias antes de morrer, Prigozhin havia postado um vídeo mostrando que estava na África, onde o grupo atuou ou atua em países como Líbia, Mali, Sudão e República Centro-Africana e está envolvido na exploração de ouro, diamantes e petróleo. No final de julho, ele havia sido visto numa cúpula Rússia-África em São Petersburgo.

Nathalia Dukhan, investigadora da The Sentry, organização política com sede em Washington, afirmou à agência Reuters que o Grupo Wagner ainda interessa a Putin justamente por essa conexão africana.

“O Wagner tem sido uma ferramenta de sucesso para a Rússia expandir a sua influência de forma eficiente e brutal”, disse. “No meio de toda a turbulência entre Putin e Prigozhin, as operações do Wagner na África Central se aprofundaram, com maior envolvimento direto do governo russo.”

Para Gomes Filho, os integrantes do Wagner que atuam na África devem permanecer no grupo em nome dessa parceria. “Os negócios do grupo naquele continente, além de muito rentáveis, atendem aos interesses geopolíticos da Rússia”, afirmou o analista.

“Também se deve considerar que os mercenários que lá atuam já estabeleceram vínculos de confiança com as autoridades africanas que os contrataram. Assim, em uma convergência de interesses dos integrantes do grupo, do próprio governo russo e dos governos africanos dos países onde eles atuam, é provável que o Wagner permaneça atuando na África”, disse Gomes Filho.

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