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O ex-líder da oposição venezuelana, Juan Guaidó, criticou o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) por não tomar uma posição mais contundente sobre o ditador Nicolás Maduro, que tomou posse da presidência do país sem apresentar as provas de que foi eleito na votação do ano passado.
Desde a eleição com fortes indícios de fraude, Lula afirmou que não reconheceria a vitória de Maduro enquanto não apresentasse as atas de votação. No entanto, mandou a embaixadora Glivânia Maria de Oliveira representá-lo na posse, o que foi interpretado como um reconhecimento do resultado eleitoral.
“O presidente Lula tem sido muito ‘esquivo’ com a situação na Venezuela. [...] Tem que deixar de falar, tem de fazer, já não há desculpas”, disse à Folha de S.Paulo neste sábado (18).
Guaidó vive em Miami e está em Washington para participar da posse do presidente eleito Donald Trump nesta segunda (20), que terá a participação da embaixadora Maria Luiza Viotti representando o Brasil.
Além disso, a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro representará o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), que foi convidado, mas teve a devolução do passaporte negada pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF).
Ainda segundo Guaidó, a Venezuela quer ter uma melhor relação com o Brasil e com a Colômbia, que tentaram negociar a apresentação das atas de votação com o governo de Maduro, e com o restante da América.
No entanto, diz, falta uma comunicação fluída entre o Brasil e o resto dos países do continente. “Não se pode uma aproximação ideológica no caso da Venezuela, e sim uma aproximação realmente com base no bem-estar do nosso povo”, disse.
“E eu creio que Lula tem que ser muito claro com a Venezuela, com respeito à democracia, sem desculpas”, completou.
Desde o anúncio da suposta vitória de Maduro divulgado pelo Conselho Nacional Eleitoral da Venezuela, o governo brasileiro não se manifestou oficialmente sobre o resultado das eleições.
Fontes do Itamaraty, no entanto, avaliam que a decisão pelo envio ao evento de uma representante “considerada de baixo escalão” (em comparação o presidente, ao chanceler ou ao assessor especial de Lula), segundo a pasta, é justificado pelo não reconhecimento do governo brasileiro do resultado das eleições presidenciais venezuelanas.
O presidente Lula possui uma aproximação histórica com o chavismo e tem sido relutante em cortar os laços com a Venezuela. Quando retornou ao Planalto para seu terceiro mandato, saiu em defesa de Maduro em diversas oportunidades e chegou a dizer que o regime ditatorial não passava de uma “narrativa”.