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Pessoas com excesso de peso que fizeram dieta, emagreceram e depois voltaram a ganhar os quilos perdidos dentro do prazo de um ano podem culpar os hormônios da fome pelo efeito sanfona. É o que diz uma pesquisa médica publicada na revista científica "New England Journal of Medicine".

Cientistas australianos descobriram que, depois que pacientes com sobrepeso e obesos seguiram uma dieta de baixa caloria durante 10 semanas, seu nível de apetite e os níveis de hormônios em seus organismos mudaram. Enquanto os níveis de alguns hormônios aumentaram e outros diminuíram, em comparação com os índices anteriores à dieta. E o mais preocupante: quase todas as mudanças hormonais favoreceram os esforços do corpo para recuperar o peso perdido.

Os cientistas usaram exames de sangue para medir os níveis de nove hormônios diferentes no início do estudo. Outros exames foram feitos na décima semana, quando o período da dieta acabou e, novamente, um ano depois. "Os níveis hormonais do último exame não reverteram para os valores basais do início da pesquisa, após a redução de peso inicial", comenta o professor. Joseph Proietto, da Universidade de Melbourne.

Num acompanhamento dos exames de sangue, o nível de um hormônio chamado grelina, estimulador de apetite produzido por células do revestimento do estômago, aumentou após a perda de peso e continuou a se elevar durante todo o estudo. Por outro lado, os níveis do hormônio leptina, que suprime o apetite, caiu substancialmente. "Estes resultados mostram que os indivíduos que perderam peso têm necessidade de permanecer vigilantes e entender que, depois de terem emagrecido, a batalha ainda não acabou", afirma Proietto. "A fase de manutenção pode estender-se por tempo indeterminado."

O novo estudo é parte de um mapa dos hormônios responsáveis pela regulação da fome. "Este resultado confirma que, quando as pessoas perdem peso, seus hormônios naturais começam a trabalhar para recuperar o peso perdido. A razão disto é que estamos bem adaptados à fome, mas ainda mal adaptados para manter uma nutrição restritiva saudável", avalia o endocrinologista Dr. David Heber, diretor do Centro para Nutrição Humana da Universidade da Califórnia, em Los Angeles.

Outra novidade deste estudo é mostrar que as mudanças nos hormônios do apetite podem persistir até um ano após o término da dieta, o que é notável. É o que comenta Gary Foster, diretor do Centro de Pesquisa em Obesidade e Educação da Universidade Temple, na Filadélfia: "É interessante que os efeitos hormonais permaneçam, mesmo tendo passado tanto tempo."

Proietto comenta ainda que alguns participantes duo grupo inicial desistiram e outros quatro não perderam os 10% do peso corporal necessários para passar para a fase seguinte do estudo. Portanto, apenas 34 das 50 pessoas que começaram foram incluídas nos resultados finais. Além do ter seus níveis hormonais medidos repetidas vezes, os participantes também classificaram os seus apetites. Um aumento "significativo" de apetite foi uma queixa comum, à medida que o tempo passava.

"É difícil, porém, tirar conclusões a partir de avaliações de apetite que são subjetivas, feitas pelos pacientes", afirma Foster. "A palavra fome pode significar coisas diferentes para pessoas diferentes. Quando você diz que está com fome, isso significa que você está tonto, enfraquecido por falta de alimentos, ou apenas com vontade de comer? Ou quem sabe você é daquelas pessoas que veem um pedaço de bolo de cenoura e imediatamente sentem fome? É importante levar em conta que a fome não é a força motriz para a maioria das pessoas que comem em excesso", analisa Foster.

O médico Kimberly Brownley, professor assistente no departamento de psiquiatria da University of North Carolina, em Chapel Hill, acha que o estudo é interessante, mas que sofre de uma limitação. "É uma limitação o fato de que os cientistas não observaram as mudanças nas sinapses (conexões) cerebrais. O cérebro está sempre no controle, no banco do motorista", diz Browley.

As descobertas sugerem ainda que drogas para suprimir a fome podem ser úteis a longo prazo, mas fatores comportamentais ligados a excessos devem igualmente ser abordadas, segundo Heber.

"O vício em comida precisa ser tratado. Descobrimos que 50% das pessoas com sobrepeso têm questões relacionadas a vício alimentar", comenta Heber.

Indivíduos com excesso de peso não devem ser desencorajados pela nova pesquisa, que sugere que hormônios são grandes responsáveis pela recuperação do peso. "O poder de atingir um peso corporal saudável está nas mãos de cada um. Seguir uma dieta saudável e manter uma rotina de exercícios, com acompanhamento médico apropriado, são uma receita imbatível. Temos muitas provas de que as pessoas perdem peso desta forma", comenta Heber.

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