Imagem de satélite divulgada pela DigitalGlobe, em 19 de fevereiro de 2018, e divulgada pela Human Rights Watch, mostra a demolição de aldeias Rohingya no estado de Rakhine, no norte de Myanmar| Foto: Divulgação/AFP

O governo de Mianmar demoliu ao menos 55 vilarejos rohingyas no norte do Estado de Rakihine, afirmou nesta sexta (23) o grupo Human Rights Watch a partir de uma análise de imagens de satélite.  

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A agência de notícias Associated Press, que fez uma análise independente das imagens, confirmou pelo menos 28 vilas destruídos com máquinas pesadas em um raio de 50 quilômetros da cidade de Maungdaw entre dezembro e fevereiro.  

Como o governo birmanês não permite a entrada de jornalistas ou de organizações independentes na região, as imagens de satélite têm sido usadas para mesurar a destruição causada pela onda de violência contra a minoria muçulmana, que a ONU já classificou com uma "limpeza étnica".  

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Os rohingya são alvos desde agosto de 2017 de uma operação militar na região que já deixou milhares de mortos e obrigou 688 mil deles a fugirem para o vizinho Bangladesh, deixando os vilarejos onde moravam vazios —muitos também narraram episódios em que foram expulsos a força de suas casas, além de casos de estupros e de incêndios criminosos.  

Segundo a Humans Rights Watch, que tem sede em Nova York, as demolições foram feitas para destruir provas dos crimes contra a minoria.  

"Muitos destes vilarejos foram cenários de atrocidades contra rohingyas e deveriam ser preservados para que os especialistas indicados pela ONU para documentar estes abusos possam avaliar adequadamente os indícios para identificar os responsáveis", disse Brad Adams, diretor da Human Rights Watch para a Ásia.  

"Demolir estas áreas ameaça apagar tanto a lembrança quanto as reivindicações legais dos rohingyas que moravam ali", afirmou ele.  

Especialista em Mianmar na organizaão, Richard Weir descreveu o cenário das imagens como de destruição completa, no qual mesmo a vegetação foi arrancada. "Tudo foi tirado, e isso é muito alarmante porque essas são cenas de crime. Então o que realmente estamos falando é de obstrução de Justiça", disse.  

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De acordo com a Human Rights Watch, um total de 362 vilarejos foram atacados desde agosto, quando começou a operação militar contra a minoria após um grupo de insurgentes rohingya atacar postos policiais. Desde dezembro, diversas destas vilas –e ao menos dois assentamentos antes intactos– foram destruídos, afirmou a organização.  

'Tudo se foi'  

As imagens de satélite mostram que dois vilarejos da área conhecida como Myin Hlut não foram danificados pelo fogo e que estavam habitáveis foram destruídos entre 9 de janeiro e 13 de fevereiro.  

Uma mulher rohingya que morava na região e que retornou ao local após a destruição disse à Associated Press que ficou chocada com o cenário que encontrou. "Eles apenas demoliram tudo, eu quase não reconheci", disse ela, que se identificou apenas pelo nome de Zubairia, 18. "Tudo se foi, nem as árvores sobreviveram".  

Segundo ela, outras casas na região que tinham sido abandonas mas que estavam de pé também foram derrubadas. "Todas as memórias que eu tinha se foram. Tudo foi apagado", afirmou.  

De acordo com a Associated Press, máquinas pesadas foram usadas para destruir as construções e aplainar os terrenos.  

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O governo birmanês disse que a demolição das casas faz parte de um plano para reconstruir a região após a onda de violência. Myint Khine, que faz parte do governo de Maungdaw, disse que novas casas estão sendo construídas no local e que elas irão abrigar muçulmanos —as autoridades de Mianmar não usam o termo "rohingya" porque não reconhecem a minoria.  

"É claro que estamos usando máquinas de remover terra e escavadeiras para limpar o terreno antes de construirmos novas casas", disse ele.  

Uma lista publicada pelo governo birmanês em dezembro, porém, aponta que a maioria das 787 casas que estavam sendo feitas na região eram para budistas ou hindus. Apenas 22 construções iriam para "bengalis" —um dos termos usados pelo governo para se referir aos rohingyas.  

Chris Lewa, do Arakan Project —organização que monitora a situação da minoria— , disse que a destruição dificulta que os rohingyas pessam reparações, já que torna mais difícil provarem que moravam no local.  

"Como eles irão identificar onde viveram se nada sobrou para ser reconhecido?" afirmou ele. "A cultura, a história, o passado e o presente, tudo foi apagado. Quando se vê as imagens, fica claro que tudo que ainda tinha sido deixado, as mesquitas, os cemitérios, as casas, foi embora."

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