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Mesmo durante o tratamento contra o câncer, o presidente venezuelano tenta demonstrar condições de concorrer às eleições no ano que vem | Juan Barreto / AFP
Mesmo durante o tratamento contra o câncer, o presidente venezuelano tenta demonstrar condições de concorrer às eleições no ano que vem| Foto: Juan Barreto / AFP

Etapas do tratamento

Desde o início das suspeitas sobre a doença de Hugo Chávez, as atenções se voltam para o futuro da Venezuela.

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Disputas entre partidos mantêm dispersão

Ao mesmo tempo em que Hugo Chávez faz planos de ficar no poder por mais 20 anos, a oposição da Venezuela tenta se articular para vencê-lo nas eleições de 2012.

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A Venezuela e o mundo se perguntam o que aconteceria ao país sem Hugo Chávez. A despeito das previsões otimistas dos oposicionistas ou catastróficas dos seus aliados, a grande questão é que Chávez não tem sucessores em potencial no seu partido e tampouco a oposição apresenta um nome forte para substituí-lo.

"Estou resolvido a chegar até 2031", proclamou Chávez sobre seu plano de permanência no poder em entrevista ao jornal Correio do Orinoco no final de ju­­lho, quando completou 57 anos. Mas as afirmações retóricas do presidente venezuelano – que luta contra um câncer – não representam qualquer garantia de que ele terá condições de concorrer as eleições no próximo ano e ficar no poder por mais 20 anos.

Os aliados de Chávez dizem que as elites estão se aproveitando da situação e exageram ao falar sobre o câncer do presidente e dizer que ele não tem condições de prosseguir no poder. Mas se a oposição estiver mesmo tentando usar essa estratégia não está tendo muito sucesso porque o índice de aprovação de Chávez segue sem alterações com a notícia da doença e se mantém em torno de 50%.

O fato é que, seja por meio de uma revolução, seja por uma doença ou por um processo eleitoral, um dia um mandatário deixa o poder. E é saudável para qualquer regime poder vislumbrar quem são seus prováveis sucessores.

"Todo mundo está pensando agora, pela primeira vez, o que será da Revolução sem Chávez: mais con­­servadora? Mais radical? De todas as formas será uma luta", diz Geor­­ge Ciccarielo-Ma­­her, professor de Ciências Polí­­ticas da Univer­­sidade de Drexel, nos Es­­ta­­dos Unidos, especialista em Venezuela.

A grande capacidade de liderança de Chávez que, segundo George Ciccarielo-Maher, representa as bases dos movimentos populares, cria dificuldades para que se destaquem outros líderes. "Chávez representa um ponto de concentração de forças e por isso tem sido difícil pensar em sucessores", explica o pesquisador que é autor do livro We Created Him: a People’s History of the Bolivarian Revolution ("Nós o Criamos: uma História Popular da Revolução Bolivariana", em tradução livre).

Liderança concentrada

A expressão hiperliderazgo, utilizada em espanhol para designar a concentração do poder ou da liderança com uma única pessoa, tem sido bastante lembrada por intelectuais venezuelanos e observadores do governo. "Há um ponto fraco no país que é a conversão do líder do processo em uma figura quase messiânica", explica o cientista político da Universidade Cen­­tral da Venezuela Nicmer Evans.

Mas não apenas os partidários de Hugo Chávez concentram todas as atenções no presidente. De acordo com Evans, "é uma problema de cultura política venezuelana". O cientista político analisa que até a oposição se preocupa mais em derrubar Chávez do que em desenvolver plataformas sólidas com novas alternativas para o país.

"A Venezuela clama e necessita de uma oposição séria. E lamentavelmente não tem", avalia Evans que considera desarticulados os partidos rivais do PSUV (Partido Socialista Unido da Venezuela, sigla de Chávez) e que seguem apenas uma lógica eleitoral.

Futuro incerto

Sem nomes fortes para substituir Chávez, o momento em que ele deixar o poder pode ser turbulento. "Se os chavistas perderem o go­­­verno, há um risco contundente de guerra civil", diz Ciccarielo-Maher.

Na opinião de Evans, o que pode derrubar Chávez não é o câncer, nem a oposição, mas ele mesmo. "O presidente é muito bem visto pela população. É carismático, conversador e popular. Em contraposição, há ineficácias do governo e da administração pública".

O cientista político explica que Chávez luta contra ele mesmo e suas propostas. "Fala-se de um projeto revolucionário, rumo ao socialismo e se conserva uma estrutura de estado pequeno-burguesa, criada por novas oligarquias".

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