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Indignados em frente da bolsa de valores de Hong Kong protestaram contra a ganância e corrupção no sistema financeiro | Tyrone Siu/Reuters
Indignados em frente da bolsa de valores de Hong Kong protestaram contra a ganância e corrupção no sistema financeiro| Foto: Tyrone Siu/Reuters

Entrevista

Governos podem usar manifestações a seu favor

Luciana Fernandes Veiga, coordenadora da pós-graduação em Ciência Política da Universidade Federal do Paraná

De que forma as manifestações podem influenciar nas decisões dos governos?

Não tenha dúvida de que a mobilização interfere diretamente nas decisões que são tomadas. Não é por acaso que o tempo todo se mede a satisfação do povo, já que os governantes trabalham com essa aprovação, que vai gerar votos no futuro. Isso pode fazer com que um governante repense o corte de um benefício, e até mesmo que ele tenha mais margem de negociação no pagamento de dívidas com o Fundo Monetário Internacional (FMI), por exemplo.

Então os protestos podem ser benéficos para os governos?

Não são ruins. Eles ajudam o governante a ter mais tolerância por parte de seus credores, já que estamos em um mundo globalizado, em que a crise perpassa vários países. Por exemplo: os chefes de governo precisam negociar com as agências para fazer acertos com o FMI. Se no meu país não há nenhuma reação popular, o chefe de Estado fica mais vulnerável diante do fundo. Agora, se ele tem como argumento uma pressão de seu povo, consegue utilizar isso para a negociação, e talvez conseguir pagar um valor menor ou obter maior prazo.

Politicamente, qual a relevância desses protestos pelo mundo? O que moveu os movimentos foi o fato de a crise atingir diretamente a vida dos cidadãos?

O mais curioso é que não existe qualquer viés partidário. Isso mostra tanto a fluidez da informação hoje, quando as pessoas conseguem organizar, mesmo sem partidos, um movimento de grande porte, como um novo perfil do cidadão. Essas pessoas querem participar da política sem estarem vinculadas a uma sigla, por meio de movimentos e ONGs. O que está em pauta é, principalmente, o desemprego e o corte de benefícios do Estado. Há sem dúvida uma dose de civismo, mas a motivação econômica também é uma grande impulsionadora.

Isadora Rupp

  • Coração financeira da Europa, Frankfurt, na Alemanha, reuniu 5 mil em protesto, que começou em maio na Espanha

A mobilização de "indignados" com o sistema financeiro e a corrupção da política, nascida em Madri em maio e propagada por grupos de outros países, como o "Ocupe Wall Street", que toma ruas e praças dos Estados Unidos há um mês, se espalhou ontem pelo mundo com o nome "United for globalchange" (Unidos por uma mudança global). Foram registrados protestos em cerca de 950 cidades de 82 países.

A maior parte foi pacífica, como em Berlim, onde houve até dança sob o sol. Vários grupos se reuniam em locais simbólicos, como a City de Londres e em frente do Banco Central Europeu em Frankfurt, na Alemanha. Em São Paulo, apenas 70 pessoas se reuniam no final da manhã no Largo São Bento; em Curitiba, cerca de 60 caminharam pela Rua XV.

Já em Roma, onde o protesto aconteceu um dia após o polêmico premier Silvio Berlusconi renovar a aprovação ao seu governo no Parlamento, manifestantes colocaram fogo em um anexo do ministério da Defesa, destruíram vitrines de lojas e incendiaram dois carros. Policiais reprimiram com bombas de gás lacrimogêneo e jatos d’água centenas de pessoas que, com máscaras nos rostos, lançaram granadas de fumaça, coquetéis molotov e garrafas contra os policiais. Os incidentes ocorreram perto do Coliseu, onde, estima-se, ao menos 100 mil pessoas protestaram.

A Itália se tornou foco dos protestos contra a crise europeia e cerca de 1.500 policiais foram mobilizados para deter eventuais distúrbios.

No coração financeiro da Europa, em Frankfurt, 5 mil pessoas saíram às ruas. Em Londres, a concentração dos protestos, que reuniram 500 pessoas, foi em frente à Catedral de St. Paul. Nas escadarias da igreja, um manifestante chamou especial atenção: Julian Assange, o polêmico fundador do site de vazamentos WikiLeaks. Ovacionado pelo público presente na sua chegada, ele foi, pouco depois, abordado por policiais que o obrigaram a tirar uma máscara que usava. Da catedral, os manifestantes seguiram para a Bolsa de Valores.

Em Madri, a Porta do Sol – praça que registrou confrontos entre a polícia e os "indignados" espanhóis nos últimos meses – foi palco de uma grande roda de ioga. Em Barcelona, uma passeata teria reunido 60 mil pessoas.

Milhares também foram às ruas de Bruxelas para uma passeata que começaria no centro e seguiria até se concentrar em frente às principais instituições da União Europeia, em protesto contra o atual sistema financeiro.

Os americanos se organizaram em pelo menos quatro protestos. O principal deles, a "Marcha por Empregos e Justiça", era organizado pelo reverendo Al Sharpton, ativista de direitos civis, radialista e fundador da organização National Action Network (Rede de Ação Nacional).

Na Ásia também houve manifestações, mas em menor escala. Sob chuva, cerca de 200 pessoas que saíram às ruas em Tóquio também protestaram em frente à Tokyo Electric Power, operadora da central atômica de Fukushima Daiichi, epicentro da catástrofe nuclear de 11 de março.

Em grande parte dos países que registraram protestos, os manifestantes se concentraram em frente das embaixadas americanas. Em Manila (Filipinas) e em Jacarta (Indonésia) – onde o presidente americano, Barack Obama, viveu dos 6 aos 10 anos –, dezenas de pessoas gritaram palavras de ordem em frente das representações.

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