Em todo o mundo, habitats naturais dão dando lugar aos desertos biológicos que são rodovias| Foto: Micah Lidberg

No dia 1° de novembro, quando os mexicanos comemoram o Dia dos Mortos, alguns deles também festejam os milhões de borboletas-monarcas que nesse dia sempre chegam às florestas montanhosas do México central, vindas do norte. Elas são vistas como sendo as almas dos mortos que retornam à terra.

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Neste ano, pela primeira vez na memória dos mexicanos, as monarcas não chegaram nesse dia. Começaram a chegar, aos poucos, uma semana depois da data usual e em número baixíssimo. Os 60 milhões de borboletas que chegaram no ano passado já foram vistos como um número muito baixo. No entanto, parecem muitos se comparados aos que apareceram até agora neste ano: menos de 3 milhões. Alguns especialistas temem que a espetacular migração das borboletas possa estar perto de acabar.

Outro inseto que passa por dificuldades é a abelha silvestre, da qual existem milhares de espécies. Os chamados neonicotinoides, pesticidas à base de nicotina, são parcialmente responsáveis pelo seu declínio, mas especialistas dizem que, mesmo que eles deixassem de ser usados, abelhas, monarcas e muitos outros insetos ainda estariam diante de problemas sérios.

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Isso se deve a outro fator importante que não tem sido amplamente reconhecido: a perda marcante de vegetação nativa em todo o mundo.

"A perda de habitat é enorme, sem dúvida", comentou Douglas Tallamy, da Universidade de Delaware. "Notamos as monarcas e abelhas porque são insetos icônicos. Mas o que você acha que está acontecendo com todo o resto?"

A mudança nos métodos agrícolas, especialmente nos Estados Unidos, é citada como um dos fatores que explicam o declínio das populações de insetos. Enquanto o preço do milho subiu nos últimos anos, movido pelos subsídios pagos pelo governo americano aos biocombustíveis, os fazendeiros estenderam suas plantações. Isso implica em arar qualquer campo em que seja possível cultivar um pé de milho, incluindo milhões de hectares de terra antes reservados para conservação.

Outra causa importante é o uso do herbicida Roundup, que mata virtualmente todas as plantas exceto aquelas que são geneticamente modificadas para sobreviver a ele. Milhões de hectares de plantas nativas já foram exterminados. É o caso especialmente da asclépia, importante fonte de néctar para muitas espécies e crucial para as larvas das monarcas.

"A paisagem agrícola foi esterilizada", comentou Lincoln P. Brower, especialista em borboletas-monarcas no Sweet Briar College, na Virgínia.

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A perda de insetos não é algo de pouca monta. Os insetos prestam serviços essenciais na teia da vida, decompondo plantas em matéria orgânica e dispersando sementes. São uma das maiores fontes de alimento de aves. Fato crucial, cerca de 80% das plantas cultivadas para alimento são polinizadas por insetos, especialmente as cerca de 4.000 espécies de abelhas. "Todas as abelhas estão enfrentando problemas", disse Marla Spivak, da Universidade de Minnesota.

Em todo o mundo, as pessoas substituíram habitats naturais diversos pelos desertos biológicos que são as rodovias, os estacionamentos e os gramados de capim-do-campo. As plantas cultivadas em jardins possuem cores e formas agradáveis, mas não são escolhidas por seu papel ecológico.

Estudos mostram que os carvalhos nativos da região centro-atlântica dos EUA abrigam até 537 espécies de lagartas, alimentos importantes de aves e outros insetos. Os salgueiros vêm em segundo lugar, com 456 espécies. Já o gingko biloba abriga apenas três espécies, e a zelkova, uma planta exótica usada para substituir olmos que morreram de doenças, não abriga nenhuma. Assim, essas árvores são quase destituídas de insetos e aves.

As árvores nativas também funcionam como farmácias de insetos. As árvores e outras plantas possuem substâncias químicas benéficas que são essenciais para a saúde dos insetos. Quando atacadas por parasitas, algumas monarcas procuram tipos mais tóxicos de asclépia, porque esses tipos matam os parasitas. As abelhas aproveitam as resinas medicinais de salgueiros e álamos tremedores, que são antifúngicos, antimicrobianos e antivirais, para forrar seus ninhos, combatendo infecções e doenças.

Além dos pesticidas e da falta de habitat, outro grande problema enfrentado pelas abelhas é o das doenças. Mas esses problemas estão ligados.

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"Digamos que você tem uma abelha com vírus", disse Spivak. "Ela está abatida, vivendo num deserto alimentar, com neurotoxinas. São estressores demais, todos ao mesmo tempo."

Tallamy disse que a preservação do habitat de insetos é uma questão de segurança alimentar. "Se as abelhas desaparecerem, perderemos 80% das plantas."