Antakya, na Turquia, já foi um centro de resistência, mas hoje atrai jihadistas estrangeiros e aqueles cansados da guerra| Foto: Bulent Kilic/Agence France-Presse — Getty Images

A neblina intensa envolvia essa cidadezinha na fronteira turca, onde homens sírios contavam suas histórias de guerra, lembranças que iam da alegria intensa ao humor negro, passando pelo terror, mas principalmente falando de tudo o que perderam: amigos. Um braço. Um país. Nenhum deles tem mais que 25 anos.

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Três são insurgentes, ou pelo menos tinham sido um dia. Um ajudou a capturar um tanque do Exército; o outro se escondeu no meio do mato enquanto via os companheiros serem mortos por um ataque. E todos contaram que foram passando de um grupo insurgente para outro, abandonando todos, às vezes porque os comandantes eram violentos demais, ou corruptos demais, ou religiosos de mais, ou religiosos de menos.

Outros três, ativistas civis antigoverno que transmitem as notícias da guerra pelas redes sociais, estavam fugindo dos extremistas do Estado Islâmico. Para eles, o nevoeiro era mais que oportuno, pois encobria seus movimentos. Tinham saído da capital da província, Deir al-Zour, há dias, caminhando e se esquivando dos postos de verificação do Estado Islâmico, na esperança de encontrar segurança no sul da Turquia — mas ainda se sentem caçados, certos de que o grupo possui olhos e ouvidos em todo lugar.

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Há pouco tempo esses homens se sentiriam à vontade nesta região. No início do conflito na Síria, Antakya se tornou um centro movimentado da insurgência que se achava em vantagem. Na época, jovens militantes enchiam os cafés sonhando com um novo poder e novas liberdades.

Muitos que vieram, porém, acabaram se tornando o inimigo. A cidade começava a virar parada obrigatória para jihadistas estrangeiros, que gastavam horrores – e acabaram transformando o campo de batalha sírio, já que muitos aderiram ao Estado Islâmico, forçando o Ocidente a se preocupar menos com a deposição do presidente Bashar al-

Assad e mais em tentar impedir o crescimento do grupo extremista. Agora, os radicais se voltaram violentamente contra os oponentes do líder sírio que não conseguiram arregimentar — como os jovens que estão aqui.

Esses homens fazem parte do que já se considera a geração perdida da Síria — e se veem isolados no sul da Turquia, incertos em relação ao futuro.

Todos, com exceção de um islamita linha-dura, já chegaram ao ponto de questionar se a revolta armada — ou mesmo o movimento de protesto civil que a precedeu – não foi um grande engano.

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"Eu me arrependo. As melhores pessoas que havia no meu país foram mortas por essa revolução. As piores estão no controle. E não alcançamos nenhum dos objetivos da rebelião", diz um designer gráfico.

"Meus melhores amigos morreram. Perdemos muito", prossegue, a jaqueta grossa escondendo a perda do braço esquerdo, atingido por um estilhaço enquanto filmava a batalha.

Um de seus amigos, que deu apenas o primeiro nome, Hazem, disse que de certas coisas nunca vai se arrepender, como a emoção de participar do primeiro protesto. A única coisa que lamenta é o surgimento do Estado Islâmico, o EIIL, porque ele dividiu a rebelião.

Para Tarek Fares, que esteve na linha de frente, a transformação dos protestos em revolta armada é "um erro", pois permite que o governo, alegando o combate ao terrorismo, alimente divisões entre os insurgentes por causa de armas e dinheiro.

E conta que se afiliou a um grupo islamita cujo líder estava mais interessado em forçá-los a rezar do que a lutar e brigava com os integrantes que dançavam no quartel improvisado.

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O único homem que ainda participa das batalhas pertence ao Ahrar al-Sham, grupo islamita que, apesar de radical, é anti-Estado Islâmico – e embora ele condene a liderança do EI, afirma que seus membros assumiram o verdadeiro jihad.

O rapaz que perdeu o braço disse esperar muito pouco do mundo. E quando lhe perguntei como acabaria a guerra, ele murmurou, simplesmente: "Ela não vai acabar".