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Há dez meses, um general avesso às câmeras saiu da sombra de seu irmão mais velho e famoso, Fidel Castro, para dirigir o único país comunista do Ocidente.

Desde então, Raúl Castro mudou o estilo de liderança em Cuba, tentando encorajar o debate sobre como corrigir a corrupção e a ineficiência na economia estatal.

Ao contrário de Fidel Castro, que controlava cada detalhe da sociedade e mantinha sua influência ideológica por meio de maratônicos discursos, Raúl delega autoridade, deixa os outros falarem e se concentra em problemas práticos, como a alimentação cara, as casas decrépitas e o transporte público deficiente.

Raúl, que completa 76 anos no domingo, ainda é temido por alguns cubanos como o responsável pelo cumprimento das regras nos primeiros dias da revolução, em 1959, e como ministro da Defesa desde então. Com os anos, porém, abrandou-se.

Após substituir seu irmão adoentado, em julho, Raúl ofereceu uma negociação com Washington para superar as relações hostis que remontam à Guerra Fria.

O governo dos EUA não demonstrou sinal de atenuar sua posição e é contra a sucessão dentro da família Castro - "transição de uma ditadura para outra", como qualificou na sexta-feira a secretária de Estado Condoleezza Rice.

Mas muitos especialistas dizem que Raúl será essencial para conter uma revolta social que poderia provocar um êxodo em massa no estreito da Flórida, transformando, por exemplo, a costa dos EUA, a apenas 120 quilômetros, num paraíso para narcotraficantes.

"É do maior interesse dos Estados Unidos que Raúl forneça o começo ordeiro de uma transição", disse o historiador militar canadense Hal Klepak, especialista nas Forças Armadas cubanas. "Já é uma sucessão em muitos sentidos."

Fidel Castro não aparece em público desde sofrer uma cirurgia do intestino, no fim de julho, embora seja visto em vídeos eventuais na convalescença e nos últimos dois meses escreva artigos sobre questões mundiais.

Observadores dizem que o incansável ícone revolucionário pode estar ávido para mostrar ao mundo que está vivo e ativo, mas isso talvez esteja prejudicando os esforços do irmão para governar.

"Ele não vai embora, e isso não dá ao seu irmão muito espaço para avançar", disse um diplomata europeu em Havana.

Em um artigo na semana passada, Fidel disse ter passado vários meses recebendo alimentação intravenosa, mas afirmou que agora já ingere sólidos, embora não tenha dado indicações de se e quando pretende voltar a governar.

Como a maioria dos observadores, Brian Latell, ex-agente da CIA, acha que Fidel não volta ao poder. "Acredito que Raúl tenha as rédeas do poder em suas mãos, mas odiaria parecer que está abandonando ou repudiando qualquer das tradicionais ortodoxias de Fidel", afirmou. "O resultado é uma inércia que provavelmente não será sustentável por muito tempo."

"Minha aposta é de que Raúl está ganhando tempo, preocupado em como vai comandar o último estágio da abdicação de Fidel", disse Latell, autor do livro "Após Fidel".

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