Técnicos russos trabalham em planta nuclear na cidade de Bushehr, ao sul de Teerã: país investe em tecnologia e diz que enriquecimento de urânio tem fins pacíficos| Foto: Caren Firouz/Reuters

Para Amorim, iranianos devem responder aos temores do Ocidente

Agência Estado

As sanções ao Irã não fecham as portas para o diálogo sobre o programa nuclear iraniano, mas cabe agora a Teerã dissipar os temores de parte da comunidade internacional sobre suas intenções nessa área, afirmou o ministro das Relações Exteriores do Brasil, Celso Amorim, durante visita a Sófia, na Bulgária, ontem.

Amorim disse saber que "houve temores expressos pelo Grupo de Viena" – formado por Estados Unidos, França, Rússia e pela Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) – por causa do acordo firmado em maio entre Irã, Brasil e Turquia. "Eu acho que agora cabe ao Irã reagir a eles."

O acordo tripartite prevê que o Irã envie urânio pouco enriquecido para o território turco, recebendo em troca combustível para seu reator nuclear em Teerã. O documento foi recebido friamente pelas potências lideradas pelos EUA, que acabaram aprovando uma quarta rodada de sanções ao Irã no Conselho de Segurança (CS) da Organização das Nações Unidas (ONU), em junho.

"Minha opinião sincera é que as sanções não ajudam. Mas estou encorajado pelo fato de que o Irã teve até agora uma resposta mais flexível", avaliou Amorim.

O ministro das Relações Exteriores búlgaro, Nikolay Mladenov, disse ser importante que as novas sanções "não fechem a porta para as negociações e conversas com o Irã".

"Eu concordo que talvez as sanções não fechem a porta (para o diálogo), espero que seja este o caso. Mas acho que a pressa por sanções foi um pouco desapontadora, do meu ponto de vista", afirmou Amorim.

O Brasil e a Turquia, membros não permanentes do Conselho de Segurança, votaram contra as novas sanções. O Líbano se absteve, mas os outros países – incluindo os cinco permanentes, EUA, Grã-Bretanha, França, Rússia e China – aprovaram as sanções.

Amorim disse que se sentiu encorajado pelo fato de o presidente francês, Nicolas Sarkozy, afirmar que a França quer continuar negociando com o Irã.

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O diretor do programa nuclear iraniano, Ali Akbar Salehi, anunciou ontem que seu país já produziu 17 kg de urânio enriquecido a 20%, uma prova da determinação de Teerã de seguir adiante com suas atividades nucleares, apesar da imposição de novas sanções pe­­lo Conselho de Segurança (CS) da Organização das Nações Uni­­das (ONU). Em abril, a Agência Inter­­na­­cional de Energia Atômica (AIEA) estimou que o país havia enriquecido 5,7 kg de urânio a 20%.

"Temos capacidade para produzir 5 kg por mês, mas não temos pressa", disse Salehi. "Não queremos produzir nada que não precisamos e não queremos converter toda nossa reserva de urânio para 20%. Então, produzimos urânio enriquecido em 20% de acordo com nossas necessidades."

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As atividades iranianas de en­­riquecimento de urânio estão no centro de um impasse com o Oci­­dente, que teme que o país esteja buscando armas nucleares. Em fevereiro, o Irã começou a enriquecer urânio a 20%. A intenção seria fabricar combustível para um reator médico.

O anúncio alarmou os EUA, os países europeus, a Rússia e a Chi­­na. Há duas semanas, o CS da ONU aprovou um novo pacote de sanções ao Irã. O governo do presidente Mahmoud Ahmadinejad, no entanto, parece ter ignorado as medidas, que atingiram diretamente o comércio e o setor militar iraniano. De acordo com Teerã, seu programa nuclear tem apenas fins pacíficos e seu objetivo é produzir eletricidade.

A notícia de que o Irã tem o triplo do que se calculava de urânio enriquecido a 20% causou preocupação entre norte-americanos e europeus, que viram a medida como um passo importante na produção do tipo de urânio apto para ser usado em armas atômicas. Para isso, seria necessário o enriquecimento a 90%. No entanto, de acordo com especialistas, não é necessário um salto tecnológico muito grande entre um patamar e outro.

Para se obter combustível para um reator, o urânio é enriquecido entre 3% e 5%. Para uma bomba nuclear, no entanto, além de 1.700 kg de urânio, é preciso enriquecê-lo a 90%, o que exige um procedimento mais sofisticado. Em abril, analistas norte-americanos calcularam que, no ritmo atual, o Irã precisaria de três a cinco anos para construir uma bomba nuclear.

"Exagero"

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Ontem, o líder supremo iraniano, aiatolá Ali Khamenei, qualificou as novas sanções como "atos confusos". Segundo Khamenei, a adoção da resolução e o "irrealista exagero das sanções", acompanhadas de "ameaças militares" são indicações da arrogância das potências com o Irã.

Na segunda-feira, o porta-voz do Ministério de Assuntos Exte­­riores iraniano, Ramin Mehman­­parast, disse que a União Euro­­peia (UE) está seguindo "uma estratégia errônea" ao tentar es­­tabelecer sanções unilaterais contra o Irã. "O acompanhamento das medidas unilaterais dos Estados Unidos é uma estratégia errônea que, do nosso ponto de vista, não vai ter resultado al­­gum", disse Meh­­manparast em sua habitual entrevista coletiva semanal em Teerã.

"Nós seguiremos com nossas políticas e aconselhamos aos europeus que aproveitem as oportunidades para ampliar a cooperação", acrescentou.