
O Japão confirmou a presença de contaminação radioativa em alimentos oriundos da região da usina nuclear de Fukushima, atingida pelo forte terremoto e devastador tsunami há uma semana, e considera proibir a venda dos produtos da região, disse a agência de fiscalização nuclear da ONU neste sábado (19).
"Apesar do iodo radioativo ter uma meia-vida de cerca de oito dias, que decai naturalmente em questão de semanas, há um risco de curto prazo à saúde humana se o iodo no alimento for absorvido pelo corpo humano", disse a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) em comunicado.
Tóquio
O Ministério de Ciência do Japão informou que vestígios de uma substância radioativa incomum foram detectados na água da torneira em Tóquio e em outras cinco cidades próximas. Contudo, as quantidades são muito pequenas para representarem uma ameaça à saúde humana.
Um porta-voz do ministério disse que iodo radioativo foi encontrado na água da torneira em Tóquio, bem como nas províncias de Saitama, Chiba, Ibaraki, Gunma e Niigata. O governo começou a monitorar a presença de materiais radioativos na água neste sábado, de acordo com um porta-voz, e continuará checando diariamente a partir de agora.
As descobertas podem intensificar preocupações com vazamento radioativo da usina nuclear de Daiichi, em Fukushima, localizada a poucas centenas de quilômetros da capital do país.
Gravidade
No dia em que a tripla tragédia terremoto, tsunami e vazamento radioativo que atingiu o Japão completou uma semana, a agência nuclear japonesa elevou oficialmente a gravidade do acidente de 4 para 5, numa escala internacional que vai até 7.
O desastre de 11 de março já é a maior catástrofe natural do Japão. Na Escala Internacional de Eventos Nucleares, o nível 4 refere-se a acidentes "com consequências de alcance local". O 5 define aqueles "com consequências de maior alcance e maior liberação de material radioativo. No grau 7, há amplos efeitos na saúde humana e no ambiente.
A elevação equipara o acidente na usina de Fukushima 1 ao pior da história dos EUA, quando houve derretimento parcial do núcleo do reator de Three Mile Island, em 1979. Chernobyl, que matou milhares de pessoas por câncer na ex-URSS em 1986, atingiu o nível 7 na escala.
Apesar da mudança na classificação, o governo japonês não aumentou a área de onde os moradores têm de ser retirados ela continuou sendo um raio de 20 quilômetros em torno dos reatores.
A reclassificação ocorreu dois dias depois de o chefe da comissão nuclear dos EUA, Gregory Jaczko, dizer ter informações de que faltava água no reservatório de um reator, o que tornava a radiação "muito alta". A Tepco, que gere a usina, negou.
Fukushima 1 tem seis reatores. Desde sábado, dia seguinte ao tsunami, quatro deles apresentaram problemas que incluíram explosões de hidrogênio, incêndios e, conforme se suspeita, derretimento parcial do núcleo.
Mesmo com o aumento, a avaliação japonesa continua abaixo da classificação feita pela Autoridade Francesa de Segurança Nuclear (ASN) que havia classificado inicialmente o acidente como cinco, mas mudou nesta semana ao nível seis.
Ontem seguiram as tentativas de resfriar os reatores com o auxílio de sete caminhões de bombeiro que arremessavam água do mar. Enquanto isso, engenheiros continuavam tentando religar a energia elétrica para que o sistema original de resfriamento volte a funcionar.
Segundo a Tepco, a linha de transmissão externa já foi conectada à usina e os engenheiros tentarão religar o sistema, começando pelo reator 2, neste final de semana.
Pela primeira vez, o governo do Japão reconheceu não ter respondido à tragédia com a rapidez adequada. Segundo seu porta-voz, Yukio Edano, os planos de contingência feitos pelo governo não conseguiram antecipar as dimensões do desastre.



