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População foi às ruas da capital da Líbia, Tripoli, para comemorar o fim dos combates e a mudança de poder | Marco Longari/AFP Photo
População foi às ruas da capital da Líbia, Tripoli, para comemorar o fim dos combates e a mudança de poder| Foto: Marco Longari/AFP Photo

Extravagância e mão de ferro

Conhecido pelo jeito extravagante de se vestir e por andar acompanhado por guarda-costas mulheres, o coronel Muamar Kadafi era o chefe de Estado não monarca há mais tempo no poder no mundo até a tomada de Trípoli, em agosto passado. Ele se tornou líder da Líbia após depor o rei Idris I, sem um banho de sangue, em 1969, quando tinha apenas 27 anos.

Sua sobrevivência por 42 anos no poder se deveu a uma combinação da mão de ferro que usava contra dissidentes com a habilidade política, que usou para romper o isolamento diplomático que marcou o país após o envolvimento em atentados terroristas.

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O ex-líder líbio Muamar Kadafi foi morto durante sua captura perto de Sirte, sua cidade-natal, nesta quinta-feira (20). O anúncio foi feito por um membro do Conselho Nacional de Transição (CNT), Abdel Hafiz Ghoga. Segundo o primeiro-ministro líbio, Mahmoud Jibril, Kadafi foi atingido na cabeça, em fogo cruzado entre combatentes do governo interino e seus partidários.

"Nós anunciamos ao mundo que Kadafi foi morto pelas mãos da revolução", declarou Ghoga. "É um momento histórico. É o fim da tirania e da ditadura. Kadafi encontrou seu destino", completou.

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Kadafi teria sido capturado e ferido nas duas pernas nesta quinta-feira, quando tentava fugir em um comboio atacado por caças da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan). "Ele também foi atingido na cabeça", disse a autoridade. "Houve muitos disparos contra seu grupo e ele morreu".

Aboubakr Younès Jaber, ministro da Defesa do regime deposto de Kadafi, foi morto em Sirte, indicou nesta quinta-feira um médico à AFP. O médico Abdou Raouf afirmou ter "identificado o corpo de Aboubakr Younès Jaber", levado na manhã desta quinta-feira para o hospital de campanha de Sirte.

Também nesta quinta-feira os rebeldes anunciaram a tomada de Sirte, cidade-natal do coronel e último foco de resistência de suas tropas.

Um combatente do CNT declarou que ao ser capturado Kadafi gritou: "Não atirem, não atirem."

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Dilma diz que não se pode comemorar a morte de qualquer líder

A presidente Dilma Rousseff afirmou que não é possível comemorar a morte de qualquer líder e que o Brasil deve auxiliar na reconstrução da Líbia em clima de paz. A presidente comentou a captura de Muamar Kadafi, mas advertiu que não tinha informações seguras ainda sobre a morte do ex-ditador líbio. Ela disse apenas que viu retratos em fotocópia apresentados pela assessoria de imprensa da Presidência. Segundo a presidente, a Líbia passa por um processo de transformação democrática.

"Líbia está passando por um processo de transformação democrática. Isso não significa que a gente comemore a morte de qualquer líder que seja. O fato de estar em processo democrático é algo que todo mundo deve apoiar, incentivar. O que nós queremos é que os países tenham essa capacidade: viver em paz e democracia."

A presidente ainda afirmou que a forma como o Brasil pode ajudar o país do norte da África é pensar em sua reconstrução em clima de paz.

"Brasil vem dizendo que a agrande questão é a reconstrução. A reconstrução em clima de paz deste país", disse ela antes de embarcar de volta para o Brasil após viagem de quatro dias ao continente africano.

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Repercussão internacional

"A guerra acabou", declarou o primeiro-ministro italiano Silvio Berlusconi depois de ficar sabendo das notícias de que Muamar Kadafi foi morto. "Sic transit gloria mundi" (Assim passa a glória do mundo)", comentou, em latim, o ex-aliado de Kadafi, durante uma reunião com líderes de seu partido, segundo a imprensa local.

O primeiro-ministro britânico David Cameron assinalou que este é "um dia para recordar todas as vítimas" de Muamar Kadafi, que classificou de "ditador brutal". "Hoje é um dia para recordar todas as vítimas do coronel Kadhafi" (incluindo as que morreram no atentado de Lockerbie, Escócia, em 1988) e as inúmeras pessoas que morreram nas mãos deste brutal ditador e de seu regime", acrescentou em uma rápida coletiva em sua residência oficial de Downing Street.

O secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, afirmou que a notícia da morte de Muamar Kadhafi marcou uma "histórica transição para a Líbia". "O caminho à frente para a Líbia e seu povo será difícil e cheio de desafios. Agora é o momento de todos os líbios se unirem", afirmou Ban na sede das Nações Unidas. "Os combatentes de todos os grupos devem depor suas armas e se unir em paz. Este é um momento de reconstrução e cura", afirmou o chefe da ONU.

Em comunicado conjunto, o Conselho Europeu e a Comissão Europeia afirmaram que a morte de Kadafi "marca o fim de uma era de despotismo e repressão". "A Líbia pode hoje virar uma página de sua história e começar um novo futuro democrático", escreveram os órgãos europeus.

A Anistia Internacional também se manifestou nesta quinta-feira, pedindo justiça para todos os envolvidos nos casos de desrespeito de direitos humanos durante o regime de Kadafi. Não se sabe ao certo quantos civis morreram durante seu governo nem durante o levante popular que levou à queda do ditador, mas soldados do CNT encontraram recentemente valas comuns com mais de mil corpos de supostos opositores de Kadafi executados.

Membros do Fundo Monetário Internacional (FMI) e do Banco Mundial que estiveram semana passada no país afirmaram que devem retornar a Trípoli dentro de alguns dias. Segundo o porta-voz do FMI, o objetivo é fornecer ajuda ao país em reconstrução.

Já o secretário-geral da Otan, Anders Fogh Rasmussen, disse que a morte de Kadafi marca o fim do "reino do medo" na Líbia. "Após 42 anos, o reino do medo do coronel Kadhafi chegou ao fim", declarou. "A Líbia pode pôr um ponto final em um longo e sombrio capítulo de sua história, e virar a página".

Rasmussen fez um apelo para que "todos os líbios deixem de lado suas diferenças e trabalhem juntos para construir um futuro melhor". Ele ressaltou que o CNT deve "evitar qualquer represália contra civis e ser moderado no tratamento reservado às forças pró-Kadhafi derrotadas".

Obama

O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, afirmou que a morte do líder deposto Muamar Kadafi marca "o final de um capítulo longo e doloroso" para os líbios, e pediu às novas autoridades de Trípoli que construam um país "democrático" e "tolerante".

"Hoje, o governo da Líbia anunciou a morte de Muamar Kadafi. Ela marca o fim de um capítulo longo e doloroso para os habitantes da Líbia que têm, a partir de agora, a chance de poder determinar seu próprio destino em uma Líbia nova e democrática", declarou Obama durante um breve discurso na Casa Branca. Obama também alertou os regimes de "mão de ferro" no mundo árabe, afirmando que eles estão prestes a desaparecer.

"Para a região, os eventos de hoje provam mais uma vez que os regimes de mão-de-ferro sempre acabam. Em todo o mundo árabe, cidadãos se levantaram para exigir seus direitos. Os jovens rejeitam com força a ditadura. E esses dirigentes que tentam recusar sua dignidade não conseguirão fazer isso", afirmou Obama durante um breve discurso na Casa Branca.

Vaticano

O Vaticano anunciou nesta quinta-feira que considera o governo interino da Líbia como governante legítimo do país do Magreb, agora que Muamar Kadafi foi morto. O escritório de imprensa do Vaticano disse em comunicado que a morte de Kadafi finaliza uma luta "longa e trágica" para derrubar um regime "cruel e opressivo". O escritório de imprensa do Vaticano disse que a chancelaria da Santa Sé estava em contato com políticos do Conselho Nacional de Transição da Líbia na Embaixada líbia para o Vaticano em Roma e também com representantes do CNT na Organização das Nações Unidas em Nova York.

Hugo ChávezO presidente da Venezuela, Hugo Chávez, expressou descontentamento com a morte de Kadafi, chamando o ocorrido de "ofensa" e dizendo que o líder líbio deposto foi um "mártir". "Infelizmente a morte de Kadafi foi confirmada", disse Chávez. "Eles o assassinaram, é outro ultraje. Devemos lembrá-lo como um grande lutador, um revolucionário e um mártir".

Chávez tem defendido Kadafi desde o começo da revolta contra o regime dele em fevereiro e acusou a Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) de usar o conflito para controlar o petróleo da Líbia. "A coisa mais triste é que, em sua tentativa de dominar o mundo, o império e seus aliados estão fazendo isso com fogo", disse Chávez se referindo aos Estados Unidos. O presidente venezuelano se recusou a reconhecer o novo regime líbio e ridicularizou o novo representante do país na ONU como "marionete" e "boneco".

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Fuga

Kadafi estava desaparecido desde que o CNT assumiu o comando da capital, Trípoli, e das principais cidades líbias. A mulher de Khadafi e três de seis filhos pediram abrigo ao governo do Níger.

Em setembro, o Tribunal Penal Internacional (TPI) pediu que a Interpol, a polícia internacional, capturasse Kadafi e seus aliados. Em março, o tribunal anunciou que o presidente líbio e seus colaboradores seriam julgados por crime contra a humanidade, como violação aos direitos humanos, assassinatos e estupros.

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Vídeo mostra Kadafi ainda vivo depois de capturado

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Vídeo divulgado pela TV Al Jazeera mostra Kadafi ferido

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