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Manifestantes pró-democracia no quinto dia dos protestos pacíficos ao redor do prédio do Executivo em Hong Kong | Alex Hofford/Efe
Manifestantes pró-democracia no quinto dia dos protestos pacíficos ao redor do prédio do Executivo em Hong Kong| Foto: Alex Hofford/Efe

Entrevista

"Teme-se muito um cenário negativo, com forte repressão"

Anderson Gonçalves

No último dia 28, moradores de Hong Kong foram às ruas pedir mais democracia na região, controlada desde 1997 pela China. Desde então, a quantidade de pessoas que ocupa um dos principais centros financeiros da Ásia só tem aumentado. A principal reivindicação dos manifestantes é que não seja necessária a chancela de Pequim nas próximas eleições, marcadas para 2017. Em entrevista à Gazeta do Povo, Angelo Segrillo, coordenador do Laboratório de Estudos da Ásia da Universidade de São Paulo (USP), diz não acreditar que os protestos resultem em mudanças significativas. "Não acredito que Hong Kong conseguirá concessões radicais de autonomia", afirma.

A mobilização popular que se formou em Hong Kong tem força para garantir uma maior abertura democrática na região?

Dependendo como vai ser conduzida, pode arrancar algumas concessões marginais de Pequim, mas não acho que conseguirá concessões essenciais. Isso no cenário positivo. Teme-se muito um cenário negativo, com forte repressão do movimento se ele se radicalizar.

Que tipo de prejuízos teria a China caso Hong Kong conquistasse maior autonomia?

Não haveria maiores prejuízos. Certamente não economicamente. O que Pequim teme são as consequências políticas de uma maior autonomia. Temem o exemplo de que uma rebelião bem sucedida em Hong Kong poderia acontecer também na China continental.

Ao governo de Hong Kong parece também não interessar sair do domínio chinês. Por quê?

O governo de Hong Kong atual é intrinsecamente ligado a Pequim.

Como um dos principais centros financeiros internacionais, uma mudança no regime de Hong Kong poderia afetar a economia global?

Teoricamente sim. Mas não interessa a Pequim "criar marola" na economia global. Portanto, eles se certificarão de que o que acontecer politicamente terá a menor interferência possível na economia.

Em termos políticos, uma maior autonomia da região teria efeitos na correlação de forças entre as potências ocidentais e os aliados da China?

Não acredito que Hong Kong conseguirá concessões radicais de autonomia de Pequim fora as que já existem nos termos do acordo firmado [que preserva o regime capitalista na antiga colônia até 2047].

Angelo Segrillo, coordenador do Laboratório de Estudos da Ásia da Universidade de São Paulo (USP).

  • Estrela no alto de edifício do governo
  • Participantes da chamada

O chefe do Executivo em Hong Kong, Leung Chun-ying, desafiou a exigência dos manifestantes pró-democracia de que ele renunciasse e renovou os alertas da polícia de que as consequências serão sérias se eles tentarem cercar ou ocupar edifícios do governo.

Leung, falando a repórteres poucos minutos antes de o ultimato pela sua renúncia expirar, também disse que a secretária-chefe, Carrie Lam, irá realizar uma reunião com os estudantes em breve para discutir reformas políticas, mas não mencionou uma data.

Do lado de fora do gabinete de Leung, os manifestantes não escondiam a decepção — mas o protesto permaneceu calmo. "O pedido é muito simples. Queremos democracia de verdade. Quando você pede uma maçã deve receber uma maçã, não uma laranja que foi disfarçada de maçã", disse Howard Hu, engenheiro de 35 anos.

O líder estudantil Lester Shum acolheu a proposta das conversas, mas também repetiu os avisos de que os estudantes irão voltar a agir se as demandas de sufrágio universal e de um processo eleitoral livre não forem atendidas. Dezenas de milhares de pessoas foram às ruas na última semana para exigir uma democracia plena, incluindo um sistema de votação livre quando escolherem um novo líder em 2017.

Em 31 de agosto, a China decretou que irá analisar os candidatos que quiserem concorrer ao cargo de executivo-chefe de Hong Kong e os moradores do território se revoltaram contra Leung, que é apoiado por Pequim.

Piores

As manifestações, as piores em Hong Kong desde que a China reassumiu o governo da ex-colônia britânica em 1997, travaram partes do importante centro financeiro asiático.

No fim de semana passado, o batalhão de choque usou gás lacrimogêneo, spray de pimenta e cassetetes para tentar apaziguar o tumulto, mas desde então as tensões diminuíram, já que os dois lados parecem dispostos a encarar um impasse duradouro.

O tamanho das multidões variou ao longo da semana, mas, nas primeiras horas desta sexta-feira (Hong Kong está 11 horas à frente do Brasil) milhares ainda preenchiam as ruas do centro da cidade.

Contexto

Os líderes estudantis em Hong Kong haviam exigido que o chefe do Executivo, Leung Chun-ying, renunciasse até a meia-noite de quinta para sexta-feira e pediram aos manifestantes que ocupassem instalações governamentais se ele se recusasse. A China repudiou os protestos, que chamou de ilegais, mas reprimir o movimento com muita força poderia abalar a confiança em Hong Kong, importante centro financeiro e que tem um sistema legal separado do resto da China.

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