Cifuentes já era alvo de pressão há semanas para que deixasse o cargo. A assembleia local planejava uma moção de censura para retirá-la| Foto: CRISTINA QUICLER/AFP

A presidente da Comunidade de Madri, Cristina Cifuentes, renunciou ao cargo nesta quarta-feira (25) horas após a imprensa local publicar um vídeo em que supostamente aparece furtando dois cremes em um supermercado. A comunidade é o equivalente a um estado no sistema espanhol.  

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As imagens, feitas por câmeras de segurança em 2011, mostram ela sendo revistada por um guarda e esvaziando a bolsa em busca de moedas para pagar pelo produto. Os cremes contra o envelhecimento valiam o equivalente a R$ 170.  

Depois, ela sai do supermercado pela porta de trás. Cifuentes era na época a número dois da Assembleia da Comunidade de Madri -a região tem como capital a cidade de Madri.  

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O vídeo serviu como catalisador, mas ela já era alvo de pressão há semanas para que deixasse o cargo, que comanda o poder executivo da Comunidade. A assembleia local, que escolhe o presidente, debatia uma moção de censura para retirá-la.  

Cifuentes representava o governista Partido Popular, que enfrenta diversas acusações de corrupção, incluindo uma extensa investigação apelidada de "Lava Jato espanhola" por uma suposta cobrança de comissões em troca de contratos públicos.  

"Ela fez o que tinha que fazer", disse o primeiro-ministro, o conservador Mariano Rajoy, do mesmo partido de Cifuentes, sobre a demissão.  

"Aguentei mais de 34 dias de exposição permanente. O que aconteceu hoje cruza uma linha", afirmou a ex-presidente. Ela disse que o furto foi um "ato involuntário", pelo qual foi chantageada. "Cometi erros pessoais, políticos, de todo tipo. Cruzei sinais vermelhos", disse em tom irônico a jornalistas.  

Acusações

Cifuentes é acusada também de ter obtido um mestrado sem ter comparecido às aulas ou apresentado seu trabalho de conclusão de curso, condições exigidas aos demais estudantes. O caso aconteceu em 2012 na Universidade Rey Juan Carlos, que passou a ser alvo de uma investigação.  

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Ela nega as acusações de irregularidade e chegou a renunciar ao diploma, o que não arrefeceu a crítica popular.  

Por isso, foi assunto dos jornais e programas de debate na televisão por mais de um mês e alvo da fúria popular nas redes sociais. Era por esse caso que se pedia a sua renúncia -mas até a quarta-feira ela resistia à pressão. Foi só com o vídeo que a presidente anunciou sua saída do governo.  

Há consenso de que as imagens foram divulgadas para forçar sua saída, já que por lei os vídeos de segurança precisam ser destruídos em um mês. A infração de furto supostamente cometida por ela prescreveu em seis meses.  

"Não quero ferir minha família, que é por quem tomo a decisão. Para que eles não sigam sofrendo esse calvário. É melhor para os madrilenhos e para o meu partido", ela disse a jornalistas ao anunciar a demissão.  

"Dou um passo para trás para que a esquerda não governe. Saio com a cabeça bastante erguida, com um sentimento amargo, mas satisfeita. Acho que fizemos um bom trabalho", disse a ex-presidente.  

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Ao renunciar, Cifuentes disse que sofreu assédio "de manhã, tarde e noite, por terra, mar e ar". Apesar de ter deixado o cargo, ela continuará comandado o partido na região de Madri e também seguirá com seu assento como deputada na Assembleia local. Há pressão contra isso.  

O cargo será assumido temporariamente pelo número dois do governo regional, Ángel Garrido. A Assembleia regional deve votar um novo líder em um prazo máximo de 22 dias, informa o jornal El País.  

Enquanto o escândalo se desenrolava nas últimas semanas, era cogitado substituí-la por outro membro do Partido Popular, Pablo Casado. Mas ele foi também alvo de denúncias de irregularidade na concessão de um diploma de mestrado, agravando ainda mais a imagem da sigla .  

A corrupção é um dos temas centrais do debate político espanhol, e a insatisfação popular levou ao recente surgimento de partidos alternativos.