Desde seu trabalho cultivando flores, passando por sua fase como guerrilheiro e na prisão, a vida do atual presidente do Uruguai, José Mujica, é um autêntico romance literário, como mostra sua mais recente biografia, escrita pelo jornalista uruguaio Walter Pernas.

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Em "Comandante Facundo. El revolucionario Pepe Mujica" (Comandante Facundo. O revolucionário Pepe Mujica, em português), lançado durante a 36ª edição da Feira Internacional do Livro de Montevidéu, que acontece até o próximo dia 13, o escritor constrói uma biografia romanceada do presidente de 78 anos que se aproxima da de um personagem fictício, do ponto de vista literário, mas não deixa de ser um relato fiel aos dados verídicos, garante o autor.

Em entrevista à Agência Efe, o autor definiu o líder da coalizão política Frente Ampla como "um imã para o povo, envolvido em uma aura de romantismo e com grande expressividade".

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Para o romancista, que trabalha na revista "Brecha" e na rádio "AM Libre", ambos de esquerda, assim como na emissora "Radio Uruguay", os aspectos políticos e humanos do presidente são explicados através de seu passado.

"Mujica chama a atenção por sua forma humana de tratar as pessoas, como se expressa, por seu jeito do campo, por suas roupas simples, pela forma como vive. Chama a atenção porque sai do que, habitualmente, é um político no mundo", afirmou Pernas.

"Muita gente questionava se isto não era uma pose, se não estava interpretando um personagem, mas tinha a ver com o lugar onde nasce sua personalidade: isso era o que me interessava", completou.

O autor tem consciência da quantidade de bibliografias já publicadas sobre o líder uruguaio, mas pondera que "quase todos são livros de entrevistas, onde Mujica fala de si mesmo e do seu pensamento político", enquanto sua obra mostra "as origens e o que os que conhecem Mujica pensam dele".

O romance começa com a morte do pai do presidente, quando ele tinha oito anos, e termina com a saída da prisão do ex-guerrilheiro da organização de guerrilha urbana uruguaia Tupamaro, ao restituir a democracia no país em 1985.

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Para conseguir o material para seu trabalho, Pernas realizou mais de 30 entrevistas com amigos, parentes e companheiros do governante. A pesquisa durou cerca de cinco anos.

Em comum, os entrevistados ressaltaram "o lado fraternal de Mujica, sua preocupação com o que é humano e sua convicção de que, se o ser humano for forte, todo o resto funciona", relatou.

Além disso, o escritor consultou diversos documentos em bibliotecas e hemerotecas, assim como tiras cômicas e anúncios dos jornais de diferentes épocas, para tentar recriar a forma de falar dos personagens. Somente no final da sua pesquisa, o escritor se reuniu com o próprio Mujica para entregar o manuscrito do livro.

Segundo o autor, após a leitura, o presidente uruguaio "não pediu que nada fosse suavizado ou eliminado", ainda que a obra contenha relatos de "tiros, sequestros e expropriações" e outras atividades violentas das quais participou enquanto militava na guerrilha do Movimiento de Libertação Nacional-Tupamaros.

O Tupamaros foi uma guerrilha urbana que combateu vários governos constitucionais nas décadas de 60 e 70, em plena Guerra Fria. Realizaram assaltos, sequestros, assassinatos ou atentados voltados tanto a alvos civis como líderes políticos ou empresariais.

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O "Comandante Facundo", que dá título ao livro, era um dos nomes adotados por Mujica enquanto liderava uma das frentes da guerrilha e que escolheu, segundo Pernas, em referência ao caudilho argentino Facundo Quiroga.

O chefe de Estado uruguaio passou sua infância e parte de sua juventude em Paso de la Arena, um bairro nos arredores de Montevidéu. Teve conversas informais com intelectuais como o espanhol José Bergamín, militou em grupos estudantis e, tempo depois, integrou a organização guerrilheira.

Como consequência de sua participação na luta armada e na política, ficou preso durante 14 anos, sendo a maior parte deles durante a ditadura no Uruguai (1973-1985), e sofreu perseguições junto com sua atual mulher, a senadora Lucía Topolansky.

Desde que assumiu a presidência, em 2010, Mujica é considerado, por alguns veículos de comunicação internacionais, como o governante "mais pobre do mundo", tendo em vista que doa cerca de 90% de seu salário (de, aproximadamente, US$ 12 mil) à construção de obras sociais, enquanto vive em uma humilde chácara.