O Ministério das Relações Exteriores da Alemanha teve um papel muito mais ativo no Holocausto do que se tinha conhecimento e continuou sendo um abrigo para diplomatas nazistas por décadas depois da 2ª Guerra Mundial, de acordo com um novo livro que será lançado esta semana.

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"Das Amt und die Vergangenheit" (O Ministério e o Passado) conta como a instituição estava ciente dos assassinatos em massa dos judeus por parte dos nazistas e esteve "ativamente envolvido", acabando com um mito de que a maioria dos diplomatas alemães não tiveram responsabilidade nas barbáries.

O livro, que está causando alvoroço na imprensa alemã antes de seu lançamento, também mostra como autoridades nazistas e simpatizantes mantiveram seus empregos após a guerra e de qual forma o respeitado Ministério das Relações Exteriores conseguiu encobrir seu passado negro por décadas.

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Mesmo com a Alemanha tendo feito a era nazista passar por intensas investigações em vários momentos diferentes desde 1945, o órgão passou incólume. Isso mudou apenas em 2005, quando o ministro das Relações Exteriores, Joschka Fischer, exigiu novo inquérito.

"O Ministério das Relações Exteriores participou dos crimes do nazismo e foi, como uma instituição, até envolvido no assassinato de judeus", afirmou Eckart Conze, um dos quatro historiadores encarregados por Fischer de estudar o passado do órgão durante o Terceiro Reich, para um novo livro.

"De fato, você pode dizer que o Ministério das Relações Exteriores era uma organização criminosa", afirmou Conze à revista Der Spiegel nesta segunda-feira. Ele contou que todos na instituição, conhecida como "Gabinete do Exterior" na Alemanha, sabiam que os judeus estavam sendo mortos no Leste Europeu.

Fischer montou a comissão de historiadores depois de ter sido criticado por diplomatas aposentados após proibir obituários de ex-nazistas nos boletins internos do ministério. A proibição ocorreu após um tributo a Franz Nuesslein, um promotor nazista que assinou mandados de morte na Tchecoslováquia ocupada.

A investigação da história do ministério também foi alavancada por um livro de 2004 sobre o diplomata Fritz Kolbe. Depois da guerra, ele teve emprego negado no órgão e foi acusado de traidor por ter sido espião para os Aliados. As autoridades da pasta que se recusaram a dar um trabalho a ele eram ex-nazistas.

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Kolbe, que passou 1.600 documentos nazistas secretos para espiões dos EUA, foi considerado, por um ex-chefe da CIA, como o mais importante espião da guerra.

De acordo com Conze, em 1950-51 mais de 40 por cento dos altos postos do ministério eram ocupados por membros do ex-Partido Nazista, mais do que em 1938-39.

Fischer e o livro foram saudados pela Associação Americana dos Sobreviventes do Holocausto e seus Descendentes.

"A Alemanha deu um olhar honesto e doloroso em seu passado", afirmou Elan Steinberg, vice-presidente da organização, em comunicado.