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Ditador da Venezuela, Nicolás Maduro | Distribuição/Governo da Venezuela/AFP
Ditador da Venezuela, Nicolás Maduro| Foto: Distribuição/Governo da Venezuela/AFP

No mesmo em dia que o Tribunal Supremo de Justiça (TSJ) ordenou o bloqueio de contas do líder da oposição e presidente interino, Juan Guaidó, e o proibiu de deixar o país, o ditador Nicolás Maduro disse que está disposto a dialogar com seus opositores.

“Estou pronto para sentar na mesa de negociações com os opositores para que possamos conversar pelo bem da Venezuela”, disse ele ao site Sputnik, em Caracas, nesta terça-feira.

A Rússia, que tem sido a maior defensora internacional de Maduro, elogiou sua disposição de negociar. "O fato de o presidente Maduro estar aberto ao diálogo com a oposição merece elogios e é louvável", disse o porta-voz Dmitry Peskov a repórteres em um telefonema. 

O presidente dos EUA, Donald Trump, também comentou o aceno de Maduro à oposição em um tuíte publicado na manha desta quarta-feira (30), sugerindo que a oferta para o diálogo foi motivada pelas “sanções dos EUA e corte de receitas do petróleo”.

Na entrevista, Maduro afirmou que existem vários governos e organizações que poderiam intermediar tal conversa, citando México, Uruguai, Bolívia, Rússia – países que reconheceram a legitimidade de seu segundo mandato, iniciado em 10 de janeiro de 2019 – e o Vaticano, que preferiu não tomar lado na discussão sobre quem é o presidente da Venezuela.

Maduro, entretanto, falou que não está disposto a realizar eleições presidenciais no país, já que as “eleições ocorreram há apenas 10 meses”, o que demonstra que não está disposto a deixar o Palácio Miraflores tão fácil assim. Além de ser um pleito da oposição, a realização de uma nova eleição, democrática e com a presença de observadores internacionais, é também um pedido da União Europeia, que deu prazo para o regime convocá-las até este sábado – caso contrário o bloco passará a reconhecer a presidência de Juan Guaidó.

O ditador já havia mencionado a possibilidade de diálogo com a oposição e o presidente da Assembleia Nacional Constituinte e número dois do chavismo, Diosdado Cabello, falou pelas redes sociais que havia se encontrado com Guaidó, algo que o oposicionista não confirma.

Tentar mais um diálogo com o regime poderia ser um tiro no pé para a liderança de Guaidó, ainda mais depois das negativas de Maduro em realizar novas eleições. A oposição sentou à mesa de negociações com Maduro por diversas vezes, mas as oportunidades serviram apenas para dar mais legitimidade ao regime chavista, permitindo que ganhasse tempo e desestabilizasse seus opositores. 

Em dezembro de 2017, a última conversa foi intermediada pelo presidente da República Dominicana, Danilo Medina. A MUD (Mesa da União Democrática) pedia a libertação de presos políticos, eleições livres e respeito à autonomia do parlamento, considerado em desacato pela justiça do regime. Maduro não cedeu em nada e ainda adiantou as eleições presidenciais de 2018, de dezembro para maio, passando por cima de prazos legais da justiça eleitoral. Em protesto, e porque muitos de seus líderes estavam impedidos pela justiça, a MUD não concorreu nas eleições presidenciais do ano passado.

Por outro lado, o diálogo com o regime poderia representar a melhor maneira - ou a menos violenta - para a realização de uma transição democrática, se Maduro mudar de ideia e resolver deixar o poder. 

Os deputados da Assembleia Nacional estão divididos. Na sessão parlamentar desta terça-feira (29) houve quem defendesse o diálogo e a busca por um entendimento com o regime, e quem rejeitasse veementemente a proposta. 

“Aqui não há espaço para ingenuidade. Você não pode enganar as pessoas com falsos diálogos. Você quer dar sinais de diálogo? Solte [o deputado] Juan Requesens e pare de perseguir e matar pessoas”, disse o deputado José Luis Pirela.

Segundo a Organização das Nações Unidas (ONU), entre os dias 21 e 26 de janeiro, mais de 850 pessoas foram presas e pelo menos 40 foram mortas durante protestos anti-Maduro.

Relações com a Rússia

Durante a mesma entrevista, Nicolás Maduro falou de sua relação com o presidente russo, Vladimir Putin. Perguntado se havia pedido algum apoio, financeiro ou militar, da Rússia, em vista das especulações sobre o envio de seguranças russos à Venezuela para fazer a proteção do ditador, Maduro disse que pediu a Putin apoio em nível diplomático e político na ONU e mais cooperação entre os países na economia, comércio, petróleo, gás e assuntos militares.

“Em termos de cooperação militar, temos equipamentos russos do mais alto nível; Os sistemas de armas mais modernos estão na Venezuela. Eles estão bem implantados e todo o nosso pessoal está trabalhando. Eles foram treinados na Rússia. Temos uma relação muito boa em termos de cooperação militar com Putin”, afirmou Maduro, acrescentando ainda que “as armas mais modernas do mundo” estão chegando “a cada mês” na Venezuela.

Sobre os guardas russos, o ditador disse que não comentaria nada. Já sobre questões financeiras, Maduro fez questão de enfatizar que a Venezuela está quitando seus débitos com a Rússia e a China, os principais financiadores do regime.

Guaidó preso?

A reportagem do portal Sputnik ainda perguntou a Maduro se já havia uma ordem de prisão contra Juan Guaidó. Em um primeiro momento, ele disse que o caso era assunto de justiça e não competia ao “chefe de Estado”. Depois, afirmou que “até onde sei, esta medida ainda não foi adotada”. “Vamos esperar pelos processos constitucionais e judiciais internos para ver quais serão os resultados. Não vamos nos apressar, vamos esperar”.

Um Vietnã na América Latina

Ainda nesta terça-feira, Nicolás Maduro publicou um vídeo em suas redes sociais advertindo o povo dos EUA que intervir em seu país poderia criar uma situação semelhante ao que ocorreu na guerra do Vietnã, que terminou com a derrota dos EUA e a morte de centenas de soldados americanos.

“Não vamos permitir o Vietnã na América Latina”, disse o ditador. “Eles querem colocar as mãos no nosso petróleo como fizeram no Iraque, como fizeram na Líbia”, acrescentou, referindo-se aos Estados Unidos. “Peço o apoio de pessoas dos Estados Unidos para que não haja um novo Vietnã”, disse Maduro no vídeo postado no Facebook.

O discurso parece ter sido direcionado aos opositores de Trump. “Os EUA são muito mais grande que Donald Trump”, afirmou Maduro.

Nesta semana, nos Estados Unidos, alguns democratas criticaram a decisão do governo Trump de impor sanções à compra de petróleo venezuelano e apoiar a presidência de Juan Guaidó, afirmando que o presidente estaria sendo hipócrita ao tomar tais medidas com a Venezuela ao mesmo tempo em que mantém relações com a Arábia Saudita e se aproxima de governos com caráter autoritário, como a Rússia, e de ditaduras, como a Coreia do Norte.

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