Secretario de Estado americano, Mike Pompeo| Foto: SeongJoon Cho/Bloomberg

O secretário de Estado, Michael Pompeo, parte para a Coréia do Norte tentando, mais uma vez, ver atendido o pedido de desarmamento nuclear. É um pedido que vem sendo prejudicado, ao mesmo tempo, por relaxamento das sanções estabelecidas contra o regime de Kim Jong-un e pela pressão do presidente Donald Trump para uma segunda reunião de cúpula com o ditador.

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O principal diplomata americano passará menos de um dia em Pyongyang, se reunindo com Kim e buscando concretizar as expectativas dos EUA para que o regime norte-coreano se desnuclearize. Mas a Coreia do Norte está à procura de flexibilidade americana para poder melhorar o relacionamento e chegar a uma declaração formal do fim da Guerra da Coréia (1950-3). 

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Pompeo vem lutado para equilibrar o otimismo sobre o futuro promissor da Coréia do Norte com a conversa de que Kim não fez o suficiente para merecer o alívio das sanções. Ele está cada vez mais isolado, não apenas de rivais como Rússia e China, mas também da Coréia do Sul e de Trump. 

O presidente americano encarregou Pompeo de organizar uma segunda cúpula com Kim, algo que poderia proporcionar a Trump um momento de paz semanas antes das eleições para o Congresso, previstas para novembro. "Pompeo vai até lá com pouca força", disse Vipin Narang, professor de ciência política do MIT. 

Enfraquecimento 

Apesar de os EUA insistir em sanções contra a Coreia do Norte, o ministro das Relações Exteriores da Coréia do Sul, Kang Kyung-wha, afirmou que seu governo pode pedir haja exceções contra a Coreia do Norte 

"Praticamente todas as companhias sul-coreanas têm planos de investimento para a Coréia do Norte e querem seguir adiante", disse Kenneth Courtis, presidente da Starfort Investment Holdings, um grupo de investimentos, private equity e commodities e ex-vice-presidente para a Ásia da Goldman Sachs. 

Não são os únicos. Os Estados Unidos dizem que a China e a Rússia estão minando as sanções, um aspecto crucial, considerando seus papéis como relevantes para garantir a subsistência econômica do país. 

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Há também o presidente dos EUA. Como fez com seu ex-secretário de Estado, Rex Tillerson, Trump vem minando os esforços de Pompeo para manter uma posição coesa dentro do governo e entre aliados face a décadas de intransigência norte-coreana. Em uma manifestação na semana passada na Virgínia Ocidental, Trump exaltou as "belas cartas" que recebeu do líder norte-coreano, dizendo que os dois homens "se apaixonaram". 

Mais importante, Trump disse a repórteres em Nova York na semana passada que não precisava se comprometer com um cronograma firme para a Coréia do Norte desistir de suas armas nucleares. "Se levar dois anos, três anos ou cinco meses, não importa." 

Isto contradiz a declaração de Pompeo no início do mês, quando elogiou a Coreia do Norte e do Sul por impulsionar a desnuclearização para 2021.Mas, pouco tempo depois, o secretário de Estado destacou que 2021 era apenas uma reiteração dos compromissos assumidos pelos líderes da Coréia do Norte e da Coréia do Sul em uma cúpula anterior. 

Tour asiático 

Pompeo começará sua viagem à Ásia ao se encontrar com o primeiro-ministro japonês, Shinzo Abe, no sábado. Ele conversará com o presidente sul-coreano Moon Jae-in, em Seul, na noite de domingo, após chegar de Pyongyang, e fará uma parada para se reunir com autoridades chinesas em Pequim na segunda-feira, antes de retornar a Washington. 

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A viagem a Pyongyang será a quarta visita geral e a primeira visita de Pompeo desde julho, quando ele passou a noite na Coreia do Norte e saiu com poucos resultados. Kim o esnobou e, em lugar de encontrá-lo, foi visitar uma fazenda de batatas. Logo depois que a secretário de Estado deixou o país, a Coréia do Norte divulgou um comunicado criticando suas exigências "similares a de gângsteres". 

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Apesar das críticas dos analistas de que os EUA obtiveram pouco na frente da desnuclearização, Trump e sua equipe destacam para a não realização de testes nucleares e de mísseis desde o final do ano passado, como sinais de que sua estratégia está funcionando. E em sua entrevista coletiva na semana passada, Trump afirmou que há mais progresso nos bastidores do que o público reconhece. Pompeo disse que os EUA estão "fazendo o progresso necessário." 

Os comentários levaram alguns analistas a especular que os Estados Unidos estão assumindo compromissos privados da Coréia do Norte, o que tornaria mais confiante sobre as perspectivas de sucesso. De qualquer forma, dizem que as duras declarações públicas da Coréia do Norte no passado não necessariamente significam que elas foram interrompidas. 

"Espero que a equipe de negociação tenha uma lista sólida de resultados que querem dos norte-coreanos em troca de medidas concretas", disse Jean H. Lee, diretor do Wilson Center. 

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Autoridades americanas veem progresso 

Nas últimas semanas, autoridades dos EUA argumentaram que houve progresso. Eles apontam para uma reunião em Pyongyang entre Kim e Moon, na qual a Coréia do Norte se comprometeu a desmantelar um local de testes com motores de mísseis e levantou a possibilidade de fazer o mesmo em sua instalação de enriquecimento nuclear de Yongbyon. 

Isto levou Pompeo a projetar novas esperanças. "Estou otimista de que sairemos disso com um melhor entendimento, um progresso mais profundo e um plano futuro não apenas para a cúpula entre os dois líderes, mas para continuarmos os esforços para construir um caminho para a desnuclearização.” 

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Apesar da perspectiva positiva, há um crescente consenso entre os observadores externos de que o melhor que os EUA podem esperar é que a Coréia do Norte siga o caminho da Índia, que alcançou o status de potência nuclear no final dos anos 90, evitando atos provocativos desde então, e se tornou um importante aliado na região. 

"Donald Trump está jogando de acordo com os planos da Coréia do Norte, que é convencer os Estados Unidos e a comunidade internacional a cederem a uma Coréia do Norte com armas nucleares permanentemente ou que tenha armas nucleares por muito tempo”, disse Evans Revere, ex-diplomata norte-americano na Coréia do Sul.

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