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Egípcio usa corrente em protesto contra a decisão da Suprema Corte de dissolver o Parlamento de maioria islamita | Suhaib Salem/Reuters
Egípcio usa corrente em protesto contra a decisão da Suprema Corte de dissolver o Parlamento de maioria islamita| Foto: Suhaib Salem/Reuters

Parlamento

235 dos 507 parlamentares egípcios eleitos são da Irmandade Muçulmana. O Partido Nur (aliado do regime) elegeu 123.

Repressão

Decreto dá poder ao Exército para prender civis

Reuters

As unidades militares de polícia e inteligência do Egito foram autorizadas a deter civis e entregá-los a tribunais militares, conforme decreto publicado ontem, sob críticas de entidades de direitos humanos.

Um parlamentar afirmou que o decreto é uma tentativa de reproduzir o estado de emergência que perdurou durante os 30 anos do deposto regime de Hosni Mubarak e que expirou em 31 de maio.

A lei, que dava amplos poderes às forças de segurança para efetuar buscas e detenções, era vista como uma das principais ferramentas à disposição das autoridades para reprimir dissidentes.

O decreto, emitido pelo Ministério da Justiça, preserva um amplo mandato dos militares para impor a lei e a ordem até que uma nova Constituição seja escrita, processo que deve durar até bem depois de 1º de julho, data em que a atual Junta Militar promete entregar o poder a um presidente civil eleito pelo voto popular.

Uma autoridade de segurança disse, sob anonimato, que o objetivo da medida é permitir que os soldados tenham autonomia para prender pessoas envolvidas em distúrbios durante manifestações.

Numa ação que cria novas­­ dúvidas sobre a conturbada­­ transição democrática no país,­­ a Junta Militar do Egito assumiu ontem o Poder Le­­gislativo, depois que a Su­­pre­­ma­­ Corte decretou a dissolução­­ do Parlamento.

A decisão, às vésperas do 2.º turno da eleição presidencial, que começa amanhã, agrava o clima de confronto e polariza ainda mais o país entre islamitas e as forças do antigo regime.

Revoltados com o que consideraram um golpe para perpetuar a ditadura militar, manifestantes entraram em choque com forças de segurança em frente à corte.

À noite, centenas de pessoas se reuniram na Praça Tahrir, epicentro dos protestos que levaram à queda de Hosni Mubarak, produzindo uma cacofonia de angústia e frustração.

"Foi mais um golpe dos militares", dizia o contador Samy Hamdi, 28 anos, em um dos muitos grupos de discussão formados na praça. "Nosso maior erro foi não ter ficado na Tahrir até que os militares deixassem o poder. A revolução agora recomeça do zero."

O Supremo Tribunal Cons­­titucional (corte máxima do país) justificou a dissolução­­ do­­ Parlamento afirmando­­ que­­ as eleições legislativas do­­ início do ano, em que par­­ti­­dos islamitas conquista­­ ram­­ 70% das cadeiras, fo­­ram­­ in­­constitucionais.

A alegação é que houve violação da regra eleitoral de que um terço das cadeiras de­­veriam ter sido ocupadas por candidatos independentes. Na prática, boa parte deles era filiada à coligação da Irmandade Muçulmana.

O Parlamento dissolvido era responsável por escrever uma nova Constituição, que agora também tem futuro incerto.

Em outra decisão que enfureceu os manifestantes, a corte aprovou a candidatura presidencial de Ahmed Shafiq, último premiê de Mubarak, rejeitando a lei que bania membros do antigo regime da política por dez anos.

Após sair de décadas na ilegalidade e conquistar quase metade do Legislativo, tornando-se a principal força política do país, a Irmandade vê seu poder ameaçado.

"O país entra num túnel escuro, pois o próximo presidente assumirá sem Parlamento ou Constituição", disse o vice-­presidente da Irmandade, Es­­sam el Erian. Apesar da frus­­tração, o candidato da­­ Ir­­man­­dade, Mohamed Mur­­si, disse que irá respeitar a­­ de­­cisão.

"A decisão lembra a Ar­­gé­­lia de 1991", disse o histo­­riador Khaled Fahmy, em re­­ferência­­ ao golpe militar que impe­­diu a chegada ao poder dos islamitas. A Junta Militar do Egito con­­firmou que o segundo tur­­no das eleições presidenciais serão realizadas amanhã e domingo, tal como estava previsto.

ReviravoltaJunta militar põe em suspenso a revolução egípcia

O que aconteceu?

• Fato: A Suprema Corte Constitucional egípcia invalidou a formação atual do Parlamento, liderado por islamitas.

• Justificativa: A corte afirma que houve irregularidade nas eleições parlamentares. Um terço das cadeiras deveria ser ocupado por candidatos independentes; na prática, boa parte desses candidatos é filiada à coalizão liderada pela Irmandade Muçulmana.

• Reação: A oposição diz que houve um golpe militar no país, com decisões que desfavorecem a Irmandade Muçulmana e privilegiam o antigo regime.

Em aberto

Questões que ainda carecem de resposta:

• Quando será a próxima eleição parlamentar?

• Como fica o Comitê que vai redigir a nova Constituição?

• Haverá violência após a decisão de hoje?

• Que tipo de poderes terá o presidente eleito no final de semana?

Cronologia

Fev.2011 – Ditador Hosni Mubarak renuncia, após protestos em massa nas ruas

Mar – Egípcios aprovam reformas constitucionais, abrindo caminho para eleições

Ago – Mubarak vai a julgamento no Cairo pela repressão das manifestações

Nov – Início das eleições parlamentares

Jan.2012 – Partidos islamitas elegem maioria para o Parlamento

Mai – Primeiro turno das eleições presidenciais tem como vencedores Mohamed Mursi, da Irmandade Muçulmana, e Ahmed Shafiq, ex-premiê de Mubarak

Jun – Corte sentencia Mubarak à prisão perpétua

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