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Com a mão enfaixada e os dedos imobilizados por causa do esforço feito para tentar retirar os companheiros dos escombros, o tenente Rafael Araújo de Souza resume em uma frase a disposição e o estado de ânimo dos soldados brasileiros que estão no Haiti: "Agora, queremos fazer valer a vida dos nossos que morreram lá. E é por isso que muitos não querem vir embora". Ele desembarcou na Base Aérea de Guarulhos no começo da tarde de hoje (15) no voo da Força Aérea Brasileira (FAB) que trouxe os soldados feridos, em Porto Príncipe, durante o terremoto que devastou o país na última terça-feira (12)

Rafael contou que saíra do posto avançado do batalhão brasileiro, o Posto Forte 22 - a chamada Casa Azul -, cerca de dez minutos antes do terremoto. "Estávamos no jipe, na avenida perto do aeroporto, quando sentimos o tremor e vimos um muro cair." Sem ter muita ideia do que havia acontecido, o tenente diz que eles resolveram voltar ao posto. "Assim que nos aproximamos, vimos que a casa estava no chão."

Na Casa Azul, a única construção na rua com mais de um piso, estavam dez dos 14 soldados que morreram no Haiti. Eles eram do 5° Batalhão de Infantaria Leve (BGL) de Lorena, interior de São Paulo. "Começamos a cavar com as mãos para tentar tirar da terra nossos companheiros", conta, lembrando dos momentos de desespero. "Infelizmente, muitos já haviam perdido a vida."

A casa tem três andares e a maior parte dos sobreviventes estava no último andar, onde ficavam os beliches e a área de descanso. "Estava no beliche, dormindo. Acordei no meio da terra, quase coberto pela laje", diz o cabo Michael Pimentel de Almeida, que sofreu escoriações no corpo e um corte na cabeça. Ao lado do pai, Carlos, e da mãe, Cristina, o cabo desembarcou do avião da FAB afirmando que pretende voltar ao Haiti. "Eles precisam de nós".

Até janeiro de 2007, a Casa Azul era o ponto de onde os criminosos haitianos atacavam os militares da Minustah, a força de paz da Organização das Nações Unidas (ONU). Era um local estratégico que permitia controlar a entrada e saída da capital haitiana pela principal – e uma das únicas – estrada do país. Sua conquista permitiu que as tropas entrassem em Cité Soleil, a maior favela haitiana, até então um lugar intransponível para os soldados.

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