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Ao contrário do que ocorria em décadas passadas, hoje o trabalho é quase todo mecanizado |
Ao contrário do que ocorria em décadas passadas, hoje o trabalho é quase todo mecanizado| Foto:

Tragédias marcam a mineração no mundo, mas trabalho evoluiu

O acidente e o resgate dos mineiros no Chile polarizou o interesse da mídia e da opinião pública internacional, mas não se trata de um caso isolado. Muitos incidentes subterrâneos ocorreram no século passado e também neste. Desastres pouco conhecidos que vitimaram dezenas de trabalhadores.

Na última quinta-feira, um acidente causou a morte do chileno Roberto Benítez Fernandes, esmagado por uma rocha de uma tonelada a cerca de mil metros de profundidade em uma mina localizada em Valparaíso, região costeira do país.

Em junho do ano passado, um acidente na mina colombiana de San Fernando matou 73 operários. O incidente foi causado por uma explosão ligada à combustão de metano, provocando um incêndio com temperaturas de 1.000ºC, segundo relatório divulgado pelo Ministério de Minas e Energia do país.

Em fevereiro de 2005, outra tragédia: 214 mineiros morreram e 12 ficaram presos a 242 metros de profundidade, numa explosão de gás na mina de carvão de Sun­­jiawan, na Província de Liaoning, no noroeste do país. Segundo especialistas, este foi o pior desastre do gênero ocorrido na China desde que os comunistas assumiram o poder em 1949.

Em novembro de 2001, 40 pessoas morreram soterradas numa mina de ouro de Filadélfia, a 300 quilômetros a oeste da capital do país. No dia do desastre, havia 140 pessoas trabalhando na escavação – entre as quais muitas cri­­anças – no momento do deslizamento de terra. A tragédia é considerada até hoje um dos piores desastres ocorrido em minas subterrâneas em toda a história americana.

No Brasil

Uma dos piores desastres ocor­­ridos nas últimas décadas no Brasil aconteceu em Urus­­san­­ga, cidade localizada próxima à Criciúma, no sul de Santa Ca­­tarina. No dia 10 de setembro de 1984, às 5h10, a mina de carvão em que trabalhavam 85 mineiros explodiu. Eles foram soterrados num ponto a 1.200 metros da en­­trada da mina, num local co­­nhecido por eles como painel seis. Houve 31 mortes. A mina foi fechada e a atividade, ba­­nida dos limites do município há exatos 26 anos.

Melhorias

No entanto, o trabalho em minas subterrâneas evoluiu muito nas últimas décadas. Hoje, grande parte da produção é mecanizada, o que me­­lhorou as condições operacionais no subsolo e facilitou o cotidiano dos mineiros envolvidos na extração. A evolução tecnológica, o desenvolvimen­­to de novos métodos relacionados à engenharia de minas e a maior fiscalização por parte do poder público transformaram uma atividade extremamente insalubre num meio de vida honroso e minimamente seguro para quem o exerce.

Mesmo com tantas medidas e precauções, é certo que acidentes acontecem. "A periculosidade do trabalho em minas continua alta. O perigo de trabalhar em uma mina é real. Apesar das melhorias constantes, o risco de exposição a um ambiente como esse continua muito alto", analisa Otávio Augusto Boni Licht, geó­­logo da Mineropar – Mineirais do Paraná.

  • Equipamentos de proteção trouxeram mais segurança aos mineiros

O acidente com os 33 trabalhadores que ficaram confinados du­­rante 69 dias no interior de uma mina de cobre no Chile fez com que o mundo voltasse seus olhos para a realidade difícil e arriscada dos mineiros. Mesmo com as evoluções relacionadas à tecnologia, à legislação e à segurança do trabalho, o perigo de uma tragédia existe e cabe aos mineiros a difícil tarefa de aprender a conviver com o risco.

No interior de uma mina, a temperatura sobe um grau Cel­­sius a cada 100 metros. No caso dos mineiros no Chile, a temperatura no interior do salão localizado a 700 metros de profundidade era 7°C superior àquela registrada sobre a superfície. Além do forte calor, os trabalhadores também são obrigados a conviver com o fato de estarem operando no subsolo, uma situação em que muitos são acometidos pela sensação claustrofóbica causada pelo confinamento.

"Na minha opinião, o mais di­­fícil para quem trabalha no subterrâneo é mesmo a claustrofobia. Não é raro vermos um novo trabalhador, ao sentir esse tipo de sensação, abandonar o serviço an­­tes mesmo de começar", revela Re­­nato Cesar Reveles Pereira, en­­ge­­nheiro de minas da Terra En­­ge­­nharia em Mineração.

No entanto, Pereira afirma que o trabalho no subsolo de uma mina pode ser até menos insalubre do que o exercício de uma ou­­tra função qualquer realizada em condições consideradas "normais". "Ao comparar as condições de trabalho de um mineiro com um profissional que trabalha num desses estacionamentos co­­bertos de shopping – geralmente localizados no subsolo dos prédios – verifica-se que o segundo possivelmente inale mais componentes tóxicos do que o primeiro", analisa o engenheiro.

Lembranças

As condições de trabalho encontradas hoje em dia são infinitamente superiores àquelas oferecidas aos mineiros no passado. An­­tônio Allano, técnico em mineração da Mineropar – Mi­­nerais do Paraná, tem 33 anos de expe­­riên­­cia na área. Suas primeiras in­­­­cur­­sões na profissão aconteceram por intermédio do pai. Ele trabalhou na década de 1970 em uma mina de carvão mineral em Cri­­ciúma (SC).

"Uma vez desci com meu pai cerca de 80 metros pelo interior daquela mina. A descida era feita por meio de uma gaiola, através de um poço horizontal", relembra Allano.

Na lembrança de Allano, surge uma mina com galerias muito baixas, com menos de um metro de altura. Os mineiros ti­­nham que trabalhar encurvados ou se­­mi­­agachados. O forte calor, por sua vez, obrigava os trabalha­­dores a permanecer só de calção, sem ca­­miseta e praticamente nenhum equipamento de proteção individual. "As condições eram sub-hu­­manas", relembra.

Situação atual

Hoje em dia quase todo o trabalho nas minas subterrâneas é mecanizado. Na Cia. Car­­bonífera do Cam­­buí, localizada na cidade de Fi­­gueira, no Paraná, a mecanização do serviço possibilita o trabalho dos mineiros em três turnos distintos. De acordo com a NRM – lei que regulamenta a atividade mi­­neradora no Bra­­sil – o período máximo de permanência de um trabalhador no subsolo é de 8 ho­­ras, sendo 6 delas relativas à carga horária diária e mais duas no regime de hora-extra. Cam­­buí é a única mina de carvão mineral ativa no es­­tado.

Em alguns países, como China ou Estados Unidos, não existe uma regulamentação a respeito. Mi­­neiros chineses são explorados enquanto os norte-americanos trabalham, muitas vezes, até a exaustão – nos EUA o empregado é remunerado por hora de trabalho.

O técnico Antônio Allano diz que um dos fatores mais importantes à segurança dos mineiros é que hoje em dia as empresas já não aceitam qualquer um para o trabalho nas minas subterrâneas. De acordo com Allano, atualmente os funcionários são devidamente preparados pelas empresas e, além de todos os equipamentos de proteção, recebem toda a orientação necessária ao exercício seguro da profissão.

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