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Gorilas estão entre as espécies que têm na monogamia uma forma de defender seus filhotes contra outros machos | Nir Elias/Reuters
Gorilas estão entre as espécies que têm na monogamia uma forma de defender seus filhotes contra outros machos| Foto: Nir Elias/Reuters

Hormônios

Comportamento também pode ser influenciado por fatores bioquímicos

O cientista Frans de Waal, da Universidade Emory, que não fazia parte de nenhuma das equipes, disse que o estudo que aponta o infanticídio, de Cristopher Opie, ofereceu apoio quantificável para a teoria, mas ele não ficou completamente convencido.

Outra especialista independente, Sue Carter, da Universidade de Illinois, em Chicago, analisa a bioquímica da monogamia em espécies individuais com base em dois hormônios. E esses hormônios "estão associados com proteção, comportamento defensivo", logo a questão bioquímica pode entrar em qualquer uma das conclusões, disse ela. Contudo, ambas as equipes concordaram que não deveriam colocar seres humanos na categoria de monogâmicos.

Diferenças

Tim Clutton-Brock disse que seu estudo revelou que espécies monogâmicas têm poucas diferenças físicas entre os sexos. Eles são aproximadamente do mesmo tamanho e vivem quase a mesma quantidade de tempo. Isso não é humano. Opie concorda. "Monogamia estrita, como [acontece com] os gibões, não é o que os seres humanos fazem."

Apenas algumas espécies de mamíferos são monogâmicas e duas equipes de cientistas acreditam ter descoberto porque algumas delas seguiram este caminho. Mas as respostas não são exatamente românticas, nem são as mesmas.

Uma equipe analisou apenas primatas, o grupo de animais que inclui macacos e chimpanzés. Segundo esta equipe de pesquisadores, o acasalamento exclusivo de um macho e uma fêmea evoluiu como uma maneira para que os pais defendessem seus filhotes contra outros machos.

A outra equipe científica chegou a uma resposta diferente depois de examinar cerca de 2 mil espécies de mamíferos não humanos. Eles concluíram que os mamíferos se tornaram monogâmicos porque as fêmeas haviam se espalhado geograficamente e, por isso, os machos tiveram de ficar por perto para afastar a concorrência.

"Então, não se trata de romance", disse o pesquisador Dieter Lukas, da Universidade de Cambridge, autor principal do estudo com mamíferos. As diferentes conclusões aparentemente surgiram porque as duas equipes usaram métodos e tamanhos de amostras divergentes, informaram os pesquisadores.

Sem romance

Mas ambas as equipes descartaram uma antiga explicação para a monogamia: que dois pais cuidam melhor dos filhos, ao invés de apenas um. Isso é apenas um benefício marginal. "O romance, obviamente, veio depois da monogamia", disse Christopher "Kit" Opie, pesquisador de antropologia da Universidade College London, autor principal do estudo com primatas.

Os estudos foram publicados nas revistas Science e Proceedings of the National Academy of Sciences (PNAS). O estudo sobre mamíferos na publicação Science exclui os seres humanos, enquanto a análise com primata da PNAS considera as pessoas tanto como monogâmicas quanto como não monogâmicas, porque a característica se mostra diferente em todo o mundo.

Menos de 9% das espécies de mamíferos se juntam em pares. Entre os primatas, cerca de 25% das espécies são socialmente monogâmicas, disse Opie. Alguns, como gibões, são altamente monogâmicos enquanto outros, como os chimpanzés, estão no outro extremo da questão.

Mortalidade de bebês caiu com uniões

Cristopher Opie se baseou em dados comportamentais de 230 espécies de primatas e mapeou suas árvores genealógicas evolutivas. Em seguida, usando mais de 10 mil modelos executados em computador e após fazer cálculos com o mesmo sistema de probabilidade matemática usado pelo famoso estatístico Nate Silver, Opie obteve uma linha do tempo indicando quando determinados traços foram desenvolvidos.

A conclusão: antes do aparecimento de qualquer uma das características sociais associadas à monogamia, Opie viu sinais de altas taxas de casos em que machos de fora do grupo matavam bebês.

Nos primatas que desenvolveram a monogamia, tal união em casais parece ter se desenvolvido somente mais tarde. Por quê? Porque os primatas amamentam seus filhotes por um longo período, mesmo durante anos, e os machos rivais matam crias se o pai não estiver por perto para combatê-los.

Obstáculo

Mas Tim Clutton-Brock, professor de zoologia que escreveu o estudo com Lukas, disse que suas pesquisas não encontraram nenhuma evidência de picos de infanticídio antes da monogamia. Em vez disso, Clutton-Brock e Lukas descobriram que em quase todos os casos, as fêmeas solitárias vieram antes da monogamia social.

Essas fêmeas haviam se espalhado para monopolizar alimentos, como frutas de melhor qualidade, mas mais difíceis de serem encontradas. Isso criou um obstáculo para que os machos evitassem que outros machos procriassem. "Os machos não conseguem defender mais do que uma fêmea", disse Lukas. Então eles ficavam na região e a monogamia ocorria.

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