Presidente Morales vai discutir o caso Molina com Dilma na cúpula da Unasul, no Suriname| Foto: Heinz-Peter Bader/Reuters

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Senador brasileiro que ajudou na escapada se explica para comissão

Presidente da Comissão de Relações Exteriores do Senado, o senador Ricardo Ferraço (PMDB-ES) deu explicações ontem aos integrantes da comissão sobre sua participação na escapada do senador boliviano Roger Pinto Molina para o Brasil. Responsável por transportar Molina de Corumbá (MS) até Brasília, Ferraço defendeu a operação ao afirmar que a vida do parlamentar "estava em jogo" e que o Itamaraty havia tomado a decisão política de não pressionar a Bolívia para autorizar sua saída do país.

"Era uma situação limite que não poderia continuar a ser tratada conforme ritmos e cânones diplomáticos, ao sabor das conveniências políticas, tornando-se apenas um item a mais da nossa agenda bilateral, sempre sujeita, durante mais de um ano, a ceder preferência para outras questões", disse Ferraço.

O senador afirmou que o Itamaraty agiu com "indiferença" no caso, que resultaria na morte de Molina se ele não fosse retirado da Embaixada do Brasil em La Paz – onde estava asilado há 455 dias.

"A outra alternativa de desfecho para a grave situação seria a sua morte, através de um enfarte ou mesmo de um derrame ou, quem sabe, até mesmo de um suicídio", disse.

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Corrupção

As autoridades bolivianas acusam Roger Pinto Molina de corrupção em vários processos, o que o político sempre negou. A promotoria lembrou que o senador foi condenado a um ano de prisão por um tribunal boliviano que o declarou culpado de danos econômicos ao Estado estimados em US$ 1,7 milhão (R$ 4,08 milhões).

28 de maio de 2012 foi quando o senador Roger Pinto Molina entrou na embaixada brasileira em La Paz pedindo abrigo. Ele ficou no local por 455 dias, argumentando que sofria perseguição política. Em agosto do ano passado, o governo brasileiro deu asilo diplomático ao senador, mas este não recebeu o salvo-conduto para vir ao Brasil.

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A Procuradoria-Geral da Bolívia solicitou à Interpol (Organização Internacional de Polícia Criminal) a emissão de um alerta de prisão contra o senador Roger Pinto Molina. Adversário de Evo Morales, Molina chegou a Brasília após operação organizada por um diplomata brasileiro.

Pinto Molina estava abrigado na embaixada brasileira em La Paz até a última sexta-feira, quando deixou o país por terra em carro diplomático brasileiro que o levou até Corumbá (MS). A operação foi organizada pelo encarregado de negócios do Brasil na Bolívia, Eduardo Saboia, que comandava a missão diplomática.

O governo brasileiro afirmou que Saboia agiu por conta própria, mas o diplomata afirma que organizou a retirada após o senador ameaçar se suicidar. A retirada do parlamentar causou uma crise diplomática com a Bolívia e a saída de Antonio Patriota do Ministério das Relações Exteriores.

Segundo o procurador-geral interino boliviano, Roberto Ramírez, a solicitação foi enviada após uma "avaliação de todos os processos e mandados de prisão contra o senador Roger Pinto". A Justiça ordenou sua prisão por quatro crimes, todos relacionados com irregularidades na administração pública.

"Esta pessoa [Molina] tem que responder aos processos de corrupção, por isso são ativados esses mecanismos internacionais para que se tornem efetivas as ordens de prisão, este é o trâmite que se segue sempre que uma pessoa se declara rebelde", disse Ramírez.

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O documento pedido pelo governo boliviano é a notificação vermelha, uma solicitação válida para todos os países integrantes da Interpol para que o suspeito seja identificado e localizado para prisão preventiva e extradição no país onde ele está.

Roger Pinto Molina pediu abrigo à embaixada brasileira em La Paz em 28 de maio de 2012 e ficou no local por 455 dias, argumentando que sofria perseguição política. Em agosto do ano passado, o governo brasileiro deu asilo diplomático ao senador, mas este não recebeu o salvo-conduto para vir ao Brasil.

Os presidentes Evo Mora­les e Dilma Rousseff se reunirão hoje no Suriname, onde vão participar da Cúpula da Unasul, para buscar uma solução para o caso Molina.

"Sobrou para todo mundo", diz publicação

Agência Estado

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O incidente diplomático que derrubou Antonio Patriota do cargo de ministro de Relações Exteriores é destaque na edição da revista britânica The Economist que chegou às bancas ontem. Com o título "Diplomacia freelance", a publicação diz que "sobrou para todo mundo" do episódio de fuga do senador boliviano Roger Pinto Molina para o Brasil.

Para a revista, o problema da diplomacia não foi resolvido com a troca de nomes no cargo e ela tem pouco efeito na política externa brasileira. Mesmo sem ser ministro, Marco Aurélio Garcia continua controlando a relação do Brasil com a América Latina, o que é classificado pela Economist como "um comando de duas cabeças".

A reportagem afirma que, a despeito da fama de o Itamaraty contar com os diplomatas mais profissionais da América Latina, o Brasil protagonizou um "incidente extraordinário".

Sem autorização superior, a operação custou o cargo de Patriota e, para o governo brasileiro, não deveria ter sido realizada sem o salvo-conduto emitido por Evo Morales.

"A voz decisiva nas relações com a América Latina não era do senhor Patriota, mas de Marco Aurélio Gar­cia, um nome do PT que tem atuado como assessor presidencial de política externa tanto para Lula quanto para a senhora Rousseff", afirmou a revista The Economist, finalizando: "Esse comando de duas cabeças é o cerne do problema".

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