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Nenhum político francês celebra as virtudes de Augusto Pinochet. Um silêncio similar se verifica no resto da Europa, exceto por Margaret Thatcher que "está triste", talvez por causa da guerra das Malvinas. Mas são numerosas, em todas as capitais européias, as vozes que lamentam que Pinochet não tenha sido julgado.

A Liga Internacional dos Direitos Humanos (FIDH) tira uma lição disso: "A justiça deve agir de maneira mais rápida. Isso ressalta a necessidade de que uma jurisdição como o Tribunal Penal Internacional de Haia (CPI) possa conseguir uma performance máxima em termos de prazos." O comentários franceses dizem respeito, paradoxalmente, não a Pinochet nem ao Chile, mas aos outros países da América Latina. "A América Latina, à esquerda toda ela, ou quase", resumem os jornais. E enunciam a guinada para a esquerda desde 1998 (Chávez) e 2002 (Lula). Mas foi neste ano que o movimento se generalizou com a esquerda triunfando por toda região, exceto no México – e mesmo lá ela chegou muito perto da direita – e na Colômbia.

Essa onda de fundo desmente radicalmente os prognósticos do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) que profetizava, em 2004, que o continente latino-americano estava pronto para novas aventuras autoritárias. Produziu-se o contrário. E essa tendência deverá se confirmar em 2007, quando o presidente argentino Néstor Kirchner, peronista de esquerda – ou então, sua esposa, a senadora Cristina Kirchner – possivelmente será reeleito.

Mas é preciso evitar as generalizações. Se a esquerda se implanta em quase toda a região, e pelas vias democráticas, não se pode agrupar toda ela sob uma mesma rubrica. A Europa retém as análises do velho guerrilheiro comunista venezuelano, depois ministro do Planejamento, e, por fim, do diretor do jornal de oposição Tal Qual, Teodoro Petkoff, que enumera duas esquerdas : uma é arcaica, conservadora, messiânica e autoritária, e cresce paralelamente a uma outra esquerda, moderna, que propõe um "reformismo avançado" e gostaria de garantir ao mesmo tempo o desenvolvimento econômico eqüitativo e a democracia.

Pode-se preencher facilmente o arcabouço de Teodoro Petkoff, com as esquerdas arcaicas e messiânicas bem representadas por Cuba, Venezuela e alguns outros países.

Alguns introduzem outras distinções, fazendo a diferença entre uma esquerda brasileira, forjada com Lula entre os metalúrgicos de São Paulo, e a esquerda, por exemplo, de Evo Morales, crescida na cultura da folha de coca. No Le Monde, Paulo A. Paranaguá, que faz desfilar sob o seu bordão todos os países latino-americanos, convida a considerar que existem muito mais do que duas esquerdas, que as esquerdas são muitas. E ainda mais precisa ele, que as "clivagens não dividem somente os países em dois campos; elas passam também no interior da esquerda de cada país, quando não no seio mesmo de cada organização, como no caso da Frente Farabundo Martí de Libertação Nacional da esquerda salvadorenha."

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