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Tecate, Califórnia – No sul da Califórnia, cemitérios para indigentes se tornam um espelho de uma situação política e social trágica. Esses locais vêm recebendo um número cada vez maior de corpos. Ninguém sabe quem são, o governo americano não consegue identificar as famílias e as autoridades de seus países de origem raramente pedem a devolução dos corpos. A única coisa que se sabe é que se tratam na maioria de imigrantes latino-americanos, vítimas da tentativa de chegar aos Estados Unidos e deixar a pobreza em seus países. Mas acabam como indigentes, ironicamente enterrados em território americano.

Nos últimos meses, o governo dos Estados Unidos vem endurecendo as medidas contra a imigração ilegal e garante que a estratégia está funcionando. Mas críticos apontam que o resultado está sendo uma violência, militarização e mal-estar cada vez maior na região da fronteira mais movimentada do mundo e por onde passam 75 mil pessoas por dia entre Tijuana, no México, e os Estados Unidos. Quem ganha, segundo os próprios imigrantes, são os traficantes (conhecidos como "coiotes") e que dobraram o valor do serviço de levar uma pessoa de um lado ao outro da fronteira em apenas um ano.

O cemitério da pequena Holtville, 200 quilômetro de San Diego, é um dos exemplos desse mal-estar e dos riscos cada vez maiores que os imigrantes correm. Cerca de 400 pessoas já foram enterradas ali em pouco mais de um ano. São vítimas do frio, dos escorpiões na região do deserto, das ações da polícia ou baleadas pelos próprios traficantes para evitar que a polícia descubra rotas por onde passam os imigrantes. Segundo organizações de direitos humanos, o número de mortes vem crescendo. Nos últimos 15 anos, cerca de 4 mil pessoas morreram tentando cruzar a fronteira. Mas apenas em 2006, o número de vítimas seria de pelo menos 500 pessoas.

O governo americano afirma que faz o possível para identificar as vítimas, inclusive com testes de DNA. Os consulados mexicanos nos Estados Unidos também garantem que recebem parte das informações. Mas mesmo assim, muitos são simplesmente abandonados, enquanto outros não são mexicanos. Quando se consegue identificar a família, muitos não podem viajar até os Estados Unidos para recuperar o corpo e o candidato à imigrante acaba mesmo em fossas comuns.

Segundo o Migration Policy Institute, o número de latino-americanos cruzando a fronteira hoje é duas vezes maior que há dez anos, atingindo quase 300 mil por ano. O maior grupo é de mexicanos, com quase 200 mil pessoas entrando nos Estados Unidos em 2006.

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