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Ancara – Numa decisão de última hora, o gabinete do primeiro-ministro a Turquia, Recep Tayyip Erdogan, anunciou ontem que ele se reunirá rapidamente com o Papa Bento XVI no aeroporto de Ancara. O Papa estará chegando para uma visita de quatro dias e o primeiro-ministro, partindo para a reunião de cúpula da Organização do Tratado do Atlântico Norte, em Riga, na Letônia.

Até ontem, o governo dizia que Erdogan não poderia se encontrar com o Papa. O suspense e a decisão de última hora dão uma medida do grau de sensibilidade que a visita de Bento XVI – a primeira que ele faz a um país muçulmano – adquiriu para a Turquia. Bento XVI já não era muito querido no país por ter-se oposto a sua entrada na União Européia, em 2004, quando ainda era prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé.

Sua popularidade diminuiu, em setembro, depois da citação que fez na Universidade de Regensburg (Alemanha), de uma frase do imperador bizantino Manuel II Paleólogo, associando Maomé à maldade, à injustiça e à violência. A declaração mal-interpretada gerou protestos violentos em todo o mundo muçulmano, mesmo depois de o Papa ter lamentado a confusão. Desde a semana passada, os muçulmanos turcos têm organizado atos de oposição à presença do líder católico em seu país.

O propósito original da viagem de Bento XVI, no entanto, não é propriamente visitar a Turquia, um país secular com 99,8% de muçulmanos, nem reunir-se com suas autoridades. O Papa foi convidado pelo patriarca ortodoxo Bartolomeu I, reconhecido pelo Vaticano como "primeiro entre iguais" de todas as correntes ortodoxas.

A visita coincide com as festividades de Santo André, apóstolo e mártir que, segundo a tradição ortodoxa, ordenou o primeiro bispo de Constantinopla, que até 1453 foi a sede do Império Romano do Oriente, quando os muçulmanos derrotaram os cristãos, rebatizando a cidade como Istambul.

O Papa desembarca amanhã às 13 horas em Ancara, a capital da Turquia, e, após o breve encontro com o premier, vai direto para o mausoléu de Mustafa Kemal Ataturk – o fundador da Turquia moderna, em 1923 –, depositar flores em sua homenagem. Mais tarde, o Papa será recebido pelo presidente turco, Ahmet Necdet Sezer, e pelo vice-primeiro-ministro, Mehmet Ali Sahin.

Mas o encontro mais sensível será com o diretor-geral de Assuntos Religiosos, Ali Bardakoglu. Uma respeitada autoridade em Islã, Bardakoglu reagiu furiosamente à declaração de setembro do Papa.

Amanhã, Bento XVI viaja para Éfeso, a antiga cidade grega onde, segundo a tradição cristã, viveu a Virgem Maria e pregaram os apóstolos Paulo e João. Depois de celebrar uma missa em Éfeso, o Papa seguirá em seu avião para Istambul, onde fica até sexta-feira (veja quadro ao lado). Lá, além de Bartolomeu, ele se reunirá com os patriarcas ortodoxos armênio e sírio, e com o grão-rabino da Turquia. A intenção do Papa é estreitar o diálogo entre os católicos e os ortodoxos, separados pelo Cisma da Igreja, em 1054.

Na quinta-feira, Bento XVI visitará Santa Sofia, antiga igreja bizantina convertida em mesquita após a conquista otomana de 1453 e em museu por Ataturk, um secularista. Na quarta-feira, cerca de cem nacionalistas islâmicos rezaram no local – o que é proibido por lei – para protestar contra a visita do Papa.

Noutro arranjo de última hora, o Vaticano incluiu a visita do papa à Mesquita Azul, a maior de Istambul. Será a segunda visita de um Papa a uma mesquita. Em 2001, João Paulo II tornou-se o primeiro, ao visitar uma mesquita em Damasco, na Síria.

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