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Equipamento para a fabricação ilegal de armas e peças em uma estação de polícia em Danao, Fiipinas, 17 de janeiro de 2019. A produção ilegal de armas tem oferecido sustento por gerações em uma área pobre e remota das Filipinas. Ela também alimenta o terrorismo, assassinatos políticos e mortes extrajudiciais. Foto: Jes Aznar / The New York Times
Equipamento para a fabricação ilegal de armas e peças em uma estação de polícia em Danao, Fiipinas, 17 de janeiro de 2019. A produção ilegal de armas tem oferecido sustento por gerações em uma área pobre e remota das Filipinas. Ela também alimenta o terrorismo, assassinatos políticos e mortes extrajudiciais. Foto: Jes Aznar / The New York Times| Foto: NYT

Nas encostas remotas e cobertas de névoa próximas da cidade de Danao, no centro das Filipinas, há uma fábrica improvisada e ilegal de um mestre fabricante de armas.

Acessível apenas a pé por um caminho íngreme e sinuoso, escondida por uma vegetação espessa, a oficina de propriedade de I. Launa tem um telhado de lona esfarrapado, uma mesa de trabalho e várias máquinas para cortar e moldar o aço. A operação inteira pode ser desmontada e transportada em pouco tempo.

Fazer armas ilegalmente ajuda a colocar comida na mesa e a pôr na escola as crianças da família desde a década de 1970, e Launa, que pediu que somente a inicial de seu primeiro nome fosse usada por medo de ser preso, é apenas um de uma série de produtores de armas em pequena escala na região. Só sua aldeia conta com cerca de uma dúzia.

O ofício – que contribui para estimados dois milhões de armas não registradas nas Filipinas, um pouco mais do que o 1,7 milhão de armas legais – floresce em um lugar remoto onde os empregos são escassos, a presença da polícia é tíbia e a ilegalidade corre solta.

Fazer armas "é um ofício essencial transmitido de uma geração para outra aqui", disse Launa, de 63 anos, que aprendeu o ofício com seu pai e o ensinou a seu filho. "Muitos presidentes vieram e se foram, mas ainda estamos aqui", acrescentou, sob a única luz fluorescente que iluminava a mesa à sua frente, onde havia várias réplicas inacabadas de Colt .45.

Da venda aberta para o comércio discreto

A fabricação de armas floresceu na área durante a Segunda Guerra Mundial, quando os moradores aprenderam o ofício para apoiar um movimento de guerrilha que enfrentava os japoneses. Na década de 1960, Danao havia se tornado o lugar ideal para bandidos e cidadãos que queriam réplicas baratas, mas de alta qualidade.

Os fabricantes de armas já venderam seus produtos abertamente, mas agora empregam gente para entregar sua mercadoria de forma discreta. Às vezes, surge alguém encomendando uma peça para um cliente.

Na década de 1990, houve um esforço para legalizar o comércio, regulando os fabricantes de armas, mas o projeto não conseguiu o apoio do governo.

As pistolas – que um entusiasta teria dificuldade em determinar serem cópias, e que até mesmo trazem gravadas as palavras "Colt Automatic Caliber. 45 Government Model" – são vendidas aos compradores por cerca de sete mil pesos, mais ou menos US$ 130, muito mais baratas que os modelos autênticos.

Outras armas, como metralhadoras, também podem ser encomendadas, embora esse tipo de pedido tenha diminuído em meio à repressão governamental.

  • Uma pistola calibre .45 e outras peças feitas à mão por produtores de armas, prontas para serem embaladas em papel para serem entregues, em uma cabana próximo à Danao, Filipinas, 11 de janeiro de 2019. A produção ilegal de armas tem oferecido sustento por gerações em uma área pobre e remota das Filipinas. Ela também alimenta o terrorismo, assassinatos políticos e mortes extrajudiciais. Foto: Jes Aznar / The New York Times
  • Um produtor de armas fabrica à mão uma pistola em uma cabana nas florestas próximas a Danao, Filipinas, 11 de janeiro de 2019. A produção ilegal de armas tem oferecido sustento por gerações em uma área pobre e remota das Filipinas. Ela também alimenta o terrorismo, assassinatos políticos e mortes extrajudiciais. Foto: Jes Aznar / The New York Times
  • Um produtor de armas fabrica à mão uma pistola de calibre .45 em uma cabana nos bosques próximos a Danao, nas Filipinas, 11 de janeiro de 2019. A produção ilegal de armas tem oferecido sustento por gerações em uma área pobre e remota das Filipinas. Ela também alimenta o terrorismo, assassinatos políticos e mortes extrajudiciais. Foto: Jes Aznar / The New York Times
  • Equipamento para a fabricação ilegal de armas e peças em uma estação de polícia em Danao, Fiipinas, 17 de janeiro de 2019. A produção ilegal de armas tem oferecido sustento por gerações em uma área pobre e remota das Filipinas. Ela também alimenta o terrorismo, assassinatos políticos e mortes extrajudiciais. Foto: Jes Aznar / The New York Times
  • Coronel Jaime Quiocho, o chefe da polícia local, observando a cidade em Danao, Filipinas, 17 de janeiro de 2019. A produção ilegal de armas tem oferecido sustento por gerações em uma área pobre e remota das Filipinas. Ela também alimenta o terrorismo, assassinatos políticos e mortes extrajudiciais. Foto: Jes Aznar / The New York Times
  • Um produtor de armas fabrica à mão uma pistola em uma cabana nas florestas próximas a Danao, Filipinas, 11 de janeiro de 2019. A produção ilegal de armas tem oferecido sustento por gerações em uma área pobre e remota das Filipinas. Ela também alimenta o terrorismo, assassinatos políticos e mortes extrajudiciais. Foto: Jes Aznar / The New York Times
  • Coronel Jaime Quiocho, chefe da polícia local, segura parte de uma arma feita por produtores ilegais de armas que foi confiscada em Danao, Filipinas, 17 de janeiro de 2019. A produção ilegal de armas tem oferecido sustento por gerações em uma área pobre e remota das Filipinas. Ela também alimenta o terrorismo, assassinatos políticos e mortes extrajudiciais. Quiocho diz que os fabricantes ilegais têm pouco incentivo para abandonar o seu ofício, mas ele continua a persegui-los. Foto: Jes Aznar / The New York Times

Uso por milícias

O ofício praticado aqui gera consequências mortais em todo o país. A polícia diz saber que matadores de aluguel que trabalham para políticos rivais obtiveram suas armas na área de Danao e que as vendas aumentaram ligeiramente, agora que o país se prepara para as eleições em maio. Vários políticos foram mortos em atos violentos relacionados à eleição.

As armas feitas em Danao, de acordo com a polícia, foram encontradas no local de assassinatos extrajudiciais, atribuídos a milícias pró-governo que seguem ordens do presidente Rodrigo Duterte de acabar com os crimes envolvendo drogas.

A polícia disse que as armas também chegaram às mãos do Abu Sayyaf, grupo terrorista pequeno, mas violento, no sul do país, que cada vez mais se alia ao Estado Islâmico.

"Neste momento, qualquer um pode comprar uma arma aqui, contanto que tenha dinheiro para pagar, mesmo que seja um ladrão, um assassino ou um matador de aluguel", disse o chefe de polícia local, coronel Jaime Quiocho, que sabe do apelo de compras ilícitas para os criminosos. "Você compraria uma arma licenciada que pode ser rastreada até você?"

Armas populares

Rodeada por montanhas acidentadas, Danao fica a 32 quilômetros de Cebu, a principal cidade do centro das Filipinas. Uma fábrica de eletrônicos fornece postos de trabalho a uma parcela da população de 130 mil habitantes, católica na maioria e pobre em geral, embora a agricultura e a pesca sejam as indústrias principais.

Na oficina de Launa, que normalmente trabalha com quatro encomendas de armas, peças de metal estavam espalhadas na mesa.

Seu filho de 28 anos estava ajustando o tambor e o mecanismo do gatilho de uma pistola. Ele cinzelou e martelou cada pedaço da arma, antes de montá-la e de verificar seu mecanismo repetidamente. Como teste final, atirou em um buraco no chão.

Perguntado se alguma vez se sentiu culpado sabendo que suas armas poderiam ter sido usadas em assassinatos, Launa disse: "Faço armas, mas não digo às pessoas que se matem."

A popularidade de suas armas, de certa forma, fez da indústria local uma vítima de seu próprio sucesso. Quanto mais são conhecidas, mais chamam a atenção de grupos organizados de ladrões e de policiais que querem fechar as oficinas.

"Temos de nos esconder, porque atualmente é preciso ter cuidado", disse Launa.

O coronel Quiocho reconheceu que os fabricantes de armas tinham pouco incentivo ou oportunidade de abandonar um comércio que forneceu sustento a várias gerações. "É um modo de vida para muitos. Se pararem, o que acontecerá com eles?", questionou.

O chefe de polícia disse que perseguir os fabricantes de armas ilegais era apenas uma medida paliativa que não resolveria totalmente um problema enraizado também na pobreza. Isso não quer dizer que tenha desistido de tentar.

A polícia conduziu 70 incursões no ano passado, que levaram à apreensão de 92 armas de fogo, disse Quiocho. Quase 80 pessoas foram processadas, embora algumas tenham sido liberadas sob fiança.

Rastrear os fabricantes de armas não é fácil. Muitos têm espiões que os informam de ataques iminentes, dando-lhes tempo para mudar de local. Outros migraram para lugares diferentes.

Legalização da indústria

O chefe de polícia sugeriu legalizar a indústria para que as armas de Danao pudessem ser corretamente controladas. "Eles vão fazer armas, quer gostemos ou não. Diante disso, por que não controlar a indústria, sua qualidade e o destino de suas peças?", disse ele.

Impressionado com a qualidade do produto confiscado durante as incursões, Quiocho disse que os fabricantes de Danao poderiam competir com outros fabricantes na região caso tivessem apoio.

"Os fabricantes aqui conseguem fazer réplicas apenas olhando para as fotos. Isso é um testemunho de suas habilidades avançadas. Eles podem competir com fabricantes de alta qualidade."

Francisco Lara Jr., do International Alert Philippines, um grupo de monitoramento de conflitos, disse que concorda que as armas de Danao deveriam ser legalizadas, para "poder controlar o produto e seu fluxo no mercado".

O governo da cidade tentou oferecer meios de subsistência alternativos, apesar da dificuldade de combater algo que está enraizado no tecido da sociedade.

O filho de Launa inicialmente optara por um caminho diferente.

Depois de terminar o ensino médio, ele esperava se sustentar com um emprego na cidade para que pudesse economizar e cursar engenharia. Mas seus empregos pagavam apenas o suficiente para comer, e, por fim, ele decidiu voltar para casa.

"Então aqui estou eu. Faço armas para viver. É um trabalho honesto."

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