Quando o governo Obama impôs sanções a alguns russos, em reação à intervenção armada de Moscou na Ucrânia, um dos alvos foi Gennady Timchenko, um antigo sócio de uma corretora de commodities chamada Gunvor Group.

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E enterradas no comunicado do Departamento do Tesouro estavam estas palavras sobre o presidente russo, Vladimir Putin: "Putin tem investimentos na Gunvor e pode ter acesso aos fundos da empresa".

A Gunvor negou qualquer ligação financeira com Putin. Mas durante anos a suspeita de que Putin tenha uma fortuna secreta intrigou muitas pessoas, e a reação de Obama à crise na Ucrânia revigorou a caçada por ela. Estimativas a situam em US$ 40 bilhões (R$ 89 bi), ou até US$ 70 bilhões (R$ 156 bi), o que faria dele o chefe de Estado mais rico na história mundial.

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O governo Obama está enviando a Putin uma mensagem não muito sutil de que acredita saber onde o líder russo guarda seu dinheiro, e que ele poderá se tornar um alvo.

"É algo que pode ser feito que enviaria um sinal muito claro", disse Juan Zarate, um assessor de contraterrorismo da Casa Branca na época do presidente George W. Bush que ajudou a lançar as modernas técnicas de campanha financeira para bloquear o dinheiro dos terroristas.

A renda declarada por Putin em 2013 foi de apenas US$ 102 mil, segundo um comunicado do Kremlin em abril. Ao longo dos anos, ele negou sugestões de riqueza pessoal.

"Se ele realmente tem tanto dinheiro escondido em algum lugar, por quê?", perguntou Bruce Misamore, que foi o diretor financeiro da Yukos Oil antes que o governo russo prendesse seu principal acionista e confiscasse seus bens. "Que bem isso lhe faz? Seria apenas ego?"

No entanto, alguns chamaram a atenção para o que parecem ser relógios caros no pulso de Putin e a construção de um palácio no litoral que o Kremlin negou que seja para ele. Putin pode querer dinheiro, ou a aparência dele, porque é a medida de poder em uma sociedade cuja transição para o capitalismo produziu bilionários instantâneos.

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"Eu cheguei à conclusão, após algum tempo, de que alguns desses relatos podem ser plantados por pessoas no entorno do próprio Putin", disse Fiona Hill, que foi a principal especialista em Rússia no Conselho Nacional de Inteligência e no ano passado co -escreveu um livro sobre o líder russo. "Os russos precisam ser os maiores e os melhores. Faz parte da mística, parte da imagem."

O Departamento do Tesouro dos Estados Unidos não forneceu provas que sustentem sua declaração sobre Putin, mas a política padrão exige que tenha verificado o suficiente para enfrentar uma contestação em tribunal. A Gunvor, firma com sede na Suíça que é a quarta maior corretora de petróleo do mundo e gerou US$ 91 bilhões (R$ 202 bi) em receitas no ano passado, disse que posteriormente forneceu documentos ao Departamento do Tesouro que, segundo ela, provam que não há conexão com Putin.

Algumas autoridades americanas defenderam a divulgação de detalhes do que os EUA sabem sobre a riqueza de Putin para denunciá-lo diante do público russo, uma sugestão que a Casa Branca até agora não aprovou. Alguns legisladores no Congresso estão discutindo leis para exigir que o governo publique uma estimativa do patrimônio total de Putin.

Documentos diplomáticos dos EUA obtidos pela organização antissigilo WikiLeaks mostram uma atenção constante para o assunto. Os telegramas ligaram Putin não apenas à Gunvor, como também à Surgutneftegaz, uma grande companhia de petróleo, e até à Gazprom, a gigante estatal de energia, mas eles usavam palavras como "rumores". Em um telegrama, por exemplo, diplomatas citaram um executivo da General Electric que trabalhava na região e disse em particular que Vladimir Yakunin, presidente das Ferrovias Russas, de propriedade estatal, "fez consideráveis pagamentos em dinheiro a Putin", e estimou que o líder russo possua "bem mais de US$ 10 bilhões".

A CIA produziu em 2007 uma avaliação secreta da riqueza de Putin. Segundo estas, a avaliação rastreava principalmente afirmações feitas mais tarde em público por um analista político russo que disse que Putin efetivamente controlava os ativos da Gunvor, da Gazprom e da Surgutneftegaz, que somavam cerca de US$ 40 bilhões (R$ 89 bi) na época.

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O Departamento do Tesouro mantém suas conclusões. Um membro do Tesouro que pediu para não ser identificado disse: "Continuamos confiantes em que a informação sobre a relação entre Putin e a Gunvor é precisa".