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O Aquário da Nova Inglaterra, em Boston, deu bolsas para estudos sobre arraias e um censo de botos no Paquistão | Latin American Sea Turtles/
O Aquário da Nova Inglaterra, em Boston, deu bolsas para estudos sobre arraias e um censo de botos no Paquistão| Foto: Latin American Sea Turtles/

Foi-se o tempo em que as arraias-jamanta eram devolvidas ao mar quando capturadas acidentalmente por pescadores em lugares como o Sri Lanka.

Atualmente, suas brânquias desidratadas são valorizadas na China como tratamento para tudo, do câncer ao sarampo —apesar da falta de comprovação da sua eficácia—, e uma das mais majestosas criaturas do mar está sendo pescada até a quase extinção.

A pesca excessiva, a perda de habitats e a poluição ameaçam espécies em tantos lugares que as organizações de pesquisa e conservação são incapazes de fazer tudo o que seria necessário.

Por isso, com a intenção de causar algum impacto por intermédio de iniciativas pequenas e direcionadas, o Aquário da Nova Inglaterra, em Boston, há 15 anos concede pequenas verbas para projetos no mundo inteiro.

Seu Fundo de Ação para a Conservação Marítima já liberou US$ 700 mil desde 1999, apoiando 122 projetos em 40 países. Elizabeth Stephenson, gerente do fundo, se refere aos projetos como “histórias de esperança para o oceano”.

As dotações são modestas. Um pesquisador, Rohan Arthur, usou os US$ 6.700 recebidos do fundo para comprar “um surrado compressor de segunda mão” que usa para encher seus tanques de mergulho. Mas essa ajuda lhe permitiu prosseguir com seu estudo dos recifes de coral no mar da Arábia.

“Há muito a ser dito em favor das grandes dotações, mas muitas vezes elas limitam bastante o que você está autorizado a fazer”. As pequenas bolsas, segundo Arthur, oferecem mais liberdade.

Gill Braulik, especialista em golfinhos radicada na Tanzânia, usou uma verba de US$ 5.000 concedida pelo aquário em 2005 para realizar o primeiro estudo sobre cetáceos no Irã, num momento em que poucas instituições se disporiam a patrocinar trabalhos numa nação politicamente isolada.

Braulik usou uma segunda bolsa, em 2011, para treinar cientistas paquistaneses para que assumissem a pesquisa dela com uma espécie de boto cego que vive apenas no rio Indo.

Os cientistas sabiam que a população desses botos diminuía desde 1870, quando sua abrangência se estendia do Himalaia ao oceano Índico, 3.200 km rio abaixo. Atualmente, eles se limitam a 20% do seu antigo habitat.

Esses animais têm focinhos longos, olhos pequenos e dentes finos e pontiagudos. Mas são “as criaturas mais legais”, disse Braulik, que já comandou duas expedições científicas para contar os botos, descendo o Indo de canoa.

Para a terceira viagem, em 2011, uma verba de US$ 6.000 lhe permitiu ensinar métodos de pesquisa e análise para os cientistas locais, que agora lideram o trabalho.

Arthur disse que recorreu ao Fundo de Ação para a Conservação Marítima para preencher lacunas em seus dados. Desde 1998 ele recebia uma bolsa para monitorar os recifes de coral na costa ocidental da Índia, mas faltavam-lhe informações relativas a quatro anos em que não pôde mergulhar.

O fato de ter reunido dados mais completos ajudou para que ele recebesse verba do Fundo Beneficente Pew, que atualmente patrocina seus esforços de recuperação do conhecimento sobre os corais.

Um pescador idoso da região mostrou a ele como cruza o arquipélago sem bússola, guiando-se pelo reflexo da lagoa nas nuvens.

Arthur observou que práticas antigas como essa indicam quais recursos estariam disponíveis na região, mas que se perdem com o envelhecimento da população.

“Quando as comunidades locais descobrem o valor dessas coisas, se orgulham muito do que é seu”, disse ele, citando a comunidade que proibiu a pesca da garoupa na época da desova, depois que os pesquisadores lhes ensinaram sobre a reprodução do peixe.

O biólogo marinho Daniel Fernando, diretor-associado da ONG britânica Fundo da Raia Jamanta, está empenhado em alterar as práticas pesqueiras em lugares como Sri Lanka, Índia, Filipinas e Malásia, de modo a proteger arraias de diversas espécies.

Ele usou cerca de US$ 8.000 doados pelo Aquário da Nova Inglaterra para pesquisar o mercado pesqueiro durante um ano, acompanhando as arraias do mar até o consumidor, de modo a entender melhor como e por que elas estavam sendo capturadas. Fernando espera desestimular o uso da jamanta na China e conscientizar os americanos a exigirem o atum pescado à mão, e não em redes que também capturam arraias.

As redes dos pescadores também eram motivo de preocupação para ambientalistas no Chile. Uma bolsa de US$ 6.000 ajudou uma ONG local a instalar em pequenas aldeias cestos para recolher redes rasgadas.

A ONG, mantida pelos donos da fábrica de skates Bureo, recicla as redes de nylon para produzir skates em formato de peixe. O projeto já se tornou autossustentável, e as aldeias recebem uma remuneração para uso em outros projetos.

Essa bolsa foi uma exceção para o aquário, por ser uma solução para o lixo marinho. “Ter a estrutura que temos e a nossa disposição de arriscar nos dá ótima flexibilidade”, disse Stephenson.

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